CRIVELLA CHAMA CANDIDATO SOB SUSPEITA DE ILUMINADO
Flávio Tabak
"Clientelismo só ocorre quando há troca de voto por dinheiro, mas a troca por serviço, não", diz o senador
O candidato do PRB a prefeito do Rio, Marcelo Crivella, visitou ontem as favelas da Chacrinha e do Mato Alto, ambas em Jacarepaguá, acompanhado do vereador e candidato à reeleição Luiz André Deco (PR). Fontes da Polícia Civil informaram que o vereador é investigado sob suspeita de envolvimento com milícias. Os dois subiram os morros, que são controlados por milicianos, num carro aberto que exibia cartazes com as fotos dos candidatos juntos, enquanto uma mulher gritava, pelo alto-falante, "Crivella é 10 em nome de Jesus!".
Depois da caminhada, que durou duas horas, Crivella elogiou os moradores que fazem trabalhos comunitários na região, inclusive Deco, a quem chamou de "iluminado":
- Quero que os eleitores acreditem num dia melhor, como vi agora um exemplo bonito do Sebastião (Dias de Oliveira, coordenador de uma ONG da Chacrinha), e como tenho visto o Deco com seu centro social. São pessoas que iluminam essas trevas que estamos vivendo. Eles iluminam um novo rumo para nosso povo. Política tem que ser feita assim, com idealismo e renúncia. Essa é a que eu quero fazer.
"Na minha região não tem curral eleitoral", diz Deco
Deco terá que apresentar novamente sua certidão criminal ao Tribunal Regional Eleitoral. Segundo o setor de registro do TRE, os documentos do vereador estão com CPF errado ou com dados de outra pessoa. Sempre ao lado de Crivella, Deco, que assumiu o cargo como suplente da deputada federal Suely Santana da Silva (PR-RJ), negou que tenha envolvimento com grupos milicianos e disse não temer ser investigado.
- Na minha região não tem curral eleitoral. Não faço parte de milícia alguma, não sei quem faz nem fico preocupado com isso. A comunidade tem presença de outros candidatos. Não tenho preocupação em ser investigado pela PF ou pelo TRE. Minha comunidade é aberta - afirmou Deco, que disse ter obtido 52% de seus votos (cerca de 21 mil) na região de Jacarepaguá, em 2006. Além de vereador, ele é primeiro suplente de Suely na Câmara dos Deputados.
Após mais um dia percorrendo favelas, Crivella disse que nunca pede autorização para entrar nas comunidades. No sábado, durante uma caminhada do senador, equipes do GLOBO, do "Jornal do Brasil" e de "O Dia" foram rendidas por traficantes na Vila Cruzeiro, que, armados com fuzis, os obrigaram a apagar as fotos.
"O exemplo de Tiradentes me ilumina e me incentiva "
Com ares missionários, o senador citou Tiradentes ao dizer que decide entrar em favelas sem fazer qualquer comunicação, mesmo sob risco:
- Tiradentes arriscou a própria vida porque julgava que a liberdade valia mais do que isso. Não podemos perder a liberdade de ir e vir. É isso que tenho pregado. O exemplo de Tiradentes me ilumina e me incentiva a buscar a liberdade que faz parte da vida.
Sobre currais eleitorais, alvos de investigação do TRE e da PF, Crivella os chamou de "hediondos", sem dizer onde eles existem. Porém, afirmou que há diferença entre o que chamou da atuação de "vereadores altruístas" e os candidatos de currais únicos.
- São hediondos os currais e devem ser desmantelados. Às vezes, num local, as pessoas têm preferência por um candidato, isso é natural quando ele consegue uma obra, luta mais. Só se caracteriza curral no momento em que o outro não pode entrar, aí não é possível. Existe o vereador altruísta, que faz centro comunitário e atende as pessoas. Esses têm respeito nas localidades onde trabalha - disse o senador, que elogia a troca de votos por serviços:
- Clientelismo só ocorre quando há troca de voto por dinheiro, mas a troca por serviço, não. É papel do vereador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário