domingo, 11 de janeiro de 2009

A azia do presidente

EDITORIAL
ZERO HORA (RS
)

A alegação do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, de que não lê jornais, revistas, sites e blogs devido a um problema de azia soa como uma manifestação de desprezo à imprensa, incompatível com o exercício do cargo público mais importante da nação. Mesmo para uma pessoa que se orgulha de ter alcançado um posto tão alto sem ter estudado, o presidente tem o dever de tomar decisões baseado no máximo possível de informações. Ao mesmo tempo, deveria passar a uma população a ideia de que leitura é um elemento essencial no dia-a-dia das pessoas, imprescindível para a formação cultural e para fomentar o senso crítico.

Menos mal que, na mesma entrevista, concedida à revista Piauí, o presidente reconhece alguns fatos relevantes na sua relação com a mídia. Um deles é que a liberdade dos meios de comunicação foi um dos motivos de sua ascensão, primeiro como líder metalúrgico, depois na política. Outro, que uma imprensa atuante é fundamental para a preservação e o aperfeiçoamento da democracia. Não basta, porém, que a mídia elogie os acertos e critique os equívocos se o responsável em última análise por eles não tem interesse em observações que partam de fora de seu círculo mais próximo, constituído predominantemente por servidores e políticos.

Nas declarações prestadas à revista, o presidente alega que, quando há algo importante, acaba sendo alertado pelos informes de seus assessores diretos, o que até pode fazer algum sentido para o ocupante de um cargo tão importante. A dúvida é se, nessas circunstâncias, a informação acaba sendo percebida como deveria.

Se o presidente abre mão da mídia no cotidiano porque lhe faz mal ao fígado, o problema não está na mídia, mas na forma de encará-la. Os veículos de comunicação apenas exercem o seu papel e, nele, não está incluído agradar ou desagradar a quem quer que seja, mas noticiar para que os seus públicos possam tirar suas próprias conclusões.

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