domingo, 11 de janeiro de 2009

Los hermanos

Nas Entrelinhas :: Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE


O Brasil não exerce liderança em relação à Argentina, Bolívia e Colômbia, e nossa política para os países menores (e mais pobres) é vista como uma pretensão imperialista

A estratégia diplomática brasileira para a América do Sul está em xeque. Os grandes investimentos econômicos feitos pelo governo e por empresários brasileiros nos países vizinhos se transformaram em dores de cabeça para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Brasil não exerce liderança em relação à Argentina, Bolívia e Colômbia, e nossa política para os países menores (e mais pobres) é vista como uma pretensão imperialista.

Itaipu

A Itaipu Binacional anunciou sexta-feira que pagou US$ 218,9 milhões ao Tesouro paraguaio em 2008, pela utilização do potencial hidráulico do Rio Paraná para geração de energia elétrica. Desde maio de 1985, o Paraguai já recebeu U$ 3,25 bilhões. É um grande negócio: recebe antes mesmo de terminar de pagar a sua parte na construção da usina, que o Brasil financiou. Mas esse é o nosso ponto de vista.

Os paraguaios pensam de outra maneira. Primeiro, guardam ressentimentos históricos por causa da derrota de Solano Lopez e das atrocidades cometidas pelas tropas brasileiras comandadas pelo Conde D`Eu durante a guerra de 1865-1870, na qual a industrialização do Paraguai foi abortada. Segundo, até a eleição do atual presidente paraguaio, o bispo Fernando Lugo, a Itaipu Binacional serviu de bunker para a oligarquia do Partido Colorado. A revisão do acordo de Itaipu foi bandeira de campanha de Lugo, em torno da qual uniu a oposição. Os colorados substituíram a ditadura do general Alfredo Strossner, que reinou de 1954 a 1989, numa transição mais gradual e segura do que a brasileira.

A obra e a empresa enriqueceram a elite empresarial e política paraguaia, chamada por Lugo de “los barones de Itaipu”. O Paraguai não quer apenas aumentar o valor das tarifas da energia, quer também a revisão da dívida de Itaipu, que teria sido inflada por administradores corruptos. Além disso, depois da posse de Lugo, começaram as ocupações de terras dos plantadores de soja brasileiros nos departamentos de fronteira de Itapúa, Alto Paraná, San Pedro, Concepción, Amambay e Canindeyú. Os “brasiguaios” controlam 40% das terras e produzem 80 % da soja do país vizinho.

Negócios

O Brasil tem mais problemas com os vizinhos. Digeriu o caso do gás nacionalizado por Evo Morales na Bolívia, mas há outro contencioso diplomático por causa das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira. Segundo os bolivianos, as represas inundarão parte do território boliviano. Por isso, as comunidades indígenas de Chacobo, Tacana e Cavineño, supostamente afetadas, devem ser indenizadas. O assunto faz parte do acervo de problemas ambientais das duas usinas. As relações entre empresários brasileiros e as elites rebeldes da Meia Lua boliviana, nas ricas províncias da região de Santa Cruz de La Sierra e Tarija, também aumentam a tensão com o governo Morales.

As relações com o Equador, que nem fronteira com o Brasil faz, vão de mal a pior. A Petrobras desistiu de explorar petróleo e entregou seu bloco de exploração à empresa estatal local. A confusão maior, porém, é com a Odebrecht, que levou um calote na construção da hidrelétrica de San Francisco, na Amazônia equatoriana, inaugurada em junho de 2007. A empresa também seria responsável pela construção da estrada Manaus-Manta, cujo objetivo é ligar o Brasil ao Pacífico, mas a obra foi suspensa por ordem do presidente Lula. O presidente Rafael Correa acusa a Odebrecht de ter financiado seus adversários.

Na última década, o agronegócio brasileiro tomou de assalto o Uruguai, onde arrendou ou comprou as melhores terras. Das 10 maiores empresas exportadoras do país, cinco são brasileiras. Quatro frigoríficos nossos controlam 45% das exportações de carne. Um criador paulista comprou 100 mil hectares de terras nos pampas uruguaios. Outra empresa brasileira controla metade das exportações de arroz. A produção de cerveja uruguaia foi monopolizada pela Ambev. O presidente uruguaio Tabaré Vázquez, um moderado, está sendo pressionado para fazer uma reforma ministerial e endurecer o jogo com os brasileiros.

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