segunda-feira, 23 de março de 2009

Quando bolso é atingido, popularidade não resiste

EDITORIAL
DEU NA GAZETA MERCANTIL

A percepção do brasileiro para enfrentar a crise econômica piorou muito, como mostrou a pesquisa CNI/Ibope. Apenas 38% dos entrevistados, entre 11 e 15 de março, consideram que o Brasil está preparado para conviver com a crise, ante 43% na última pesquisa realizada nos mesmos moldes em dezembro de 2008. Esses dados, divulgados pela Confederação Nacional da Indústria, indicam que só 32% dos brasileiros acreditam que a crise terminará ainda neste ano. Em dezembro, a visão otimista sobre essa crise era bem diferente: 51% dos entrevistados acreditavam que crise terminaria em 2009. A pesquisa revelou que aumentou de 29% para 37% o percentual dos brasileiros que admitiram já sentir os efeitos da crise no seu cotidiano.

Esses números explicam com maior clareza porque a mesma pesquisa CNI/Ibope também mostrou que a aprovação da maneira como o presidente Lula governa caiu de 84% em dezembro para 78% em março. No final do ano passado 73% dos entrevistados definiram o governo como ótimo e bom. Neste mês esse índice caiu para 64%. Em dezembro, o desempenho do governo foi considerado regular por 20% dos entrevistados e agora esse número saltou para 25%. Há três meses o governo era ruim e péssimo para 6% e hoje esse índice passou para 10%. Em termos gerais, a nota média do governo caiu de 7,8 para 7,4 nesse período.

A pesquisa sugere que há um descontentamento em relação ao governo. Não adianta buscar razões políticas envolvendo algum ato ou atitude pessoal do presidente Lula para entender esse julgamento popular. A evidência mais consistente dessa pesquisa é que os problemas não estão no carisma do presidente, mas nas decisões mais recentes de seu governo. A pesquisa mostrou que despencou de 49% para 41%, entre dezembro e março, os que consideravam o segundo mandato do presidente Lula como melhor que o primeiro. Vale notar que o segundo mandato do presidente foi julgado pior que o primeiro por 11% dos entrevistados no final do ano passado, enquanto hoje esse percentual avançou para 18%. A administração está sendo julgada pelo que ocorre agora, na crise, e não pelo conjunto da obra. Há notória distinção, e forte, entre duas fases do atual governo, pré e pós crise.

A pesquisa CNI/Ibope também mostrou que a expectativa popular sobre o futuro embute forte receio e não confiança no atual momento. E a principal razão desse receio é a manutenção do emprego: 68% dos entrevistados acreditam que haverá aumento do desemprego nos próximos seis meses. Em março 62% tinham essa perspectiva. Só 29% afirmam que o desemprego pode recuar ou pelo menos ficar onde está, no mesmo patamar de hoje. Esta não é constatação isolada desse levantamento. O quadro não é diferente na pesquisa do instituto DataFolha, realizada entre 16 e 19 de março, mostrando que 59% dos entrevistados acreditam que o desemprego terá expansão nos próximos meses. Em novembro, a mesma pesquisa do instituto revelou que essa era a perspectiva de 44% dos pesquisados. Vale notar que essa pesquisa também mostrou que desemprego e saúde são os maiores problemas do País para os brasileiros.

O impacto desses receios consolidados em torno da crise econômica também atingiu o medo da inflação: em março 73% dos entrevistados acreditavam que a inflação deve aumentar nos próximos seis meses; em dezembro esse percentual era de 66%.

É preciso observar que os números dessa pesquisa não sugerem qualquer queda vertiginosa da popularidade do presidente Lula. O recuo na aceitação popular do governo indica a óbvia necessidade de medidas mais drásticas e urgentes quanto à crise. Bem diferente das questões políticas que muitas vezes impõem perda de popularidade, e quase sempre traduzem opções ideológicas ou antipatias pessoais, a pesquisa CNI/Ibope demonstrou que a fase de crescente desaprovação popular é reação vinculada diretamente ao bolso e não a qualquer razão política ou partidária. Até o presente momento, o presidente Lula não enfrentara maus ventos no cenário econômico internacional e a população esperava atitudes mais rápidas contra a crise.

Esse é o ponto preocupante: a agilidade do governo em tomar decisões certas. A queda da arrecadação mostrou que as empresas estão estranguladas pela carência de crédito e o govenro hesita em tomar medidas mais eficazes para devolver fôlego financeiro às empresas, para que o emprego não fique em risco. A população notou essa hesitação e deu um sinal de alerta ao Planalto. Ao governo só resta exibir a suficiente humildade para captar essa mensagem.

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