sábado, 18 de julho de 2009

O recesso começou tarde

Coisas da Política :: Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL


O bem-vindo recesso parlamentar deveria ter começado no princípio do mês e terminar no início da campanha eleitoral do próximo ano, prazo mínimo para os eleitores e a população esquecerem a pior temporada do pior Congresso de todos os tempos.

Mas, baixando a terra e pisando com cuidado para não sujar os sapatos, ninguém saiu ileso da sucessão de escândalos que desmoralizou o Congresso, exibiu a fragilidade da oposição – que pode ser avaliada pelo 8 a 3, resultado de pelada, da composição da CPI da Petrobras, com o governo senhor da presidência e da relatoria. Quando recomeçar o espetáculo, com a CPI coberta pela poeira do cerrado, todo o elenco estará cuidando do voto para mais um mandato.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nos dias que passou em Brasília, cuidou mais da campanha da sua candidata, a ministra Dilma Rousseff, do que da papelada que não lê e da qual toma conhecimento pelo resumo de meia dúzia de linhas digitadas por seus assessores.

Na pré-campanha de um descaro sem paralelo, o presidente no azul do céu da popularidade, acima de 80% nas últimas pesquisas, vê-se no espelho como o dono do país. As viagens semanais, quando está no país, acompanhado da ministra Dilma, para as visitas às obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e o reforço do Minha Casa Meu Voto, ainda nos primeiros passos, com a promessa da construção de 1 milhão de residências populares, coadunam-se bem com o pacote do Bolsa Família, do Bolsa Escola, do aumento do salário mínimo, do Pró-Uni que promete universidade para todos.

A vaidade do improvisador fluente subiu à cabeça, e não é boa conselheira. A chalaça insultuosa de chamar os senadores que combatem o governo na CPI da Petrobras de "bons pizzaiolos" deflagrou a reação do plenário, inclusive dos aliados, com as exceções de praxe do cordão que cada vez aumenta mais. Vários senadores, inclusive da ala governista, subscreveram o requerimento do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) propondo um voto de censura ao presidente. Advertido, Lula caiu em si e manifestou seu arrependimento pela frase infeliz.

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), passou o dia em seu gabinete, evitando comentar as novas denúncias contra ele e pessoas de sua família. E, ao deixar o gabinete, quando os repórteres perguntaram como se sentia com as férias parlamentares, desabafou: "Graças a Deus!".

É cedo para tentar especular sobre os próximos desdobramentos da crise do Congresso, na campanha eleitoral que deverá pegar fogo no próximo ano, depois da trégua das festas natalinas, da passagem de ano e do fim das férias escolares. Não é apenas a desmoralização do Legislativo que envolve os partidos e enxovalha lideranças atingidas por denúncias que estão sendo investigadas, que recomenda cautela nas análises, penduradas em tantas dúvidas.

O favoritismo da candidata Dilma Rousseff, herdeira da popularidade do presidente Lula e que começa a chegar às ruas das capitais e grandes cidades, ainda não foi submetido ao teste do confronto com as oposições. Enquanto o esquema governista tem uma candidata, com o apoio do presidente Lula, a oposição desperdiça o tempo com as hesitações entre dois e três pretendentes, incluindo o deputado Ciro Gomes (PSDB-CE), que confirma ser a Presidência sua ambição prioritária. O chove-não-molha entre os governadores José Serra, de São Paulo, e o mineiro Aécio Neves, engessa a oposição, fragilizada no Congresso e que se sustenta com a atuação vigorosa de meia dúzia de senadores e deputados. Poucos deputados. O presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), é candidato declarado a vice-presidente na chapa oficial, com o apoio de Lula. E tem conseguido preservar a Casa do descalabro moral do Senado.

Um inesperado sinal de que a desmoralização do Congresso começa a chegar à rua: a passeata dos estudantes, promovida pela União Nacional de Estudantes e outras entidades – que reuniu 2 mil pessoas, pelos cálculos da Polícia Militar, e mais de 5 mil segundo os manifestantes – no desfile pela Esplanada dos Ministérios, em Brasília, para o 51° Congresso Nacional da UNE. A UNE foi agraciada pela Petrobras e por órgãos públicos federais com a verba de R$ 920 mil. Não faltará dinheiro para a campanha oficial.

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