DEU EM O GLOBO
EUA e UE protestam; Lula, na ilha, lamenta, mas critica greve de fome; América Latina se cala
Dezenas de opositores que tentavam ir ao velório do dissidente Orlando Zapata Tamayo, morto após quase três meses de greve de fome, foram detidos ontem ou mantidos em prisão domiciliar pelo governo cubano. O presidente Raúl Castro lamentou a morte do preso político, disse que ele foi tratado "nos melhores hospitais" e culpou os EUA, assegurando que não há tortura em Cuba.
EUA e UE protestam; Lula, na ilha, lamenta, mas critica greve de fome; América Latina se cala
Dezenas de opositores que tentavam ir ao velório do dissidente Orlando Zapata Tamayo, morto após quase três meses de greve de fome, foram detidos ontem ou mantidos em prisão domiciliar pelo governo cubano. O presidente Raúl Castro lamentou a morte do preso político, disse que ele foi tratado "nos melhores hospitais" e culpou os EUA, assegurando que não há tortura em Cuba.
Os EUA, a União Europeia e entidades como a Anistia Internacional protestaram contra a situação que levou à morte de Zapata, e pediram a libertação dos presos políticos. Já o presidente Lula; que visita o país e foi alvo de críticas de dissidentes, lamentou a morte, mas condenou o recurso da greve de fome. Ele negou que tenha recebido carta de opositores. Os demais líderes latino-americanos optaram pelo silêncio absoluto.
Lula critica greve de fome e lamenta por Zapata
EUA e países europeus condenam posição de Cuba sobre direitos humanos. América Latina opta pelo silêncio
Luiza Damé
Enviada especial
HAVANA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou ontem que os dissidentes cubanos tenham pedido para ele negociar com o presidente de Cuba, Raúl Castro, a liberação de presos políticos. Irritado, Lula afirmou que não recebeu carta dos dissidentes nem pedido de audiência.
O presidente lamentou a morte do preso político Orlando Zapata Tamayo, mas evitou avaliar denúncias de desrespeito aos direitos humanos.
—Eu não recebi nenhuma carta. As pessoas precisam parar com o hábito de fazerem carta, guardarem para si e depois dizerem que mandaram para os outros. Se eles tivessem pedido para conversar comigo, eu teria conversado com eles. Nós não nos recusamos a conversar — afirmou. — Se eles já são dissidentes de Cuba e agora querem ser dissidentes do Lula não tem problema nenhum.
Lula lembrou que a Igreja Católica condenou a greve de fome do bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, contra a transposição do Rio São Francisco.
Disse ainda que ele próprio negociou, em 2001, com o então presidente Fernando Henrique Cardoso para impedir que os sequestradores do empresário Abílio Diniz entrassem em greve seca.
— Nós temos que lamentar, por alguém que morreu. E morreu porque decidiu fazer uma greve de fome. Sou contra greve de fome porque fiz e parei a pedido da Igreja Católica. Depois da minha experiência, pelo amor de Deus ninguém que queira fazer protesto peça para eu fazer uma greve de fome que eu não farei mais — disse.
Pedido internacional por libertação de presos políticos Na sua última visita a Cuba como presidente, Lula encontrouse com Fidel Castro, participou de reuniões de trabalho com o presidente Raúl Castro e jantou na tradicional La Bodeguita del Medio. Lula ficou duas horas e meia com Fidel e fez questão de fotografar seus auxiliares com o cubano.
— O presidente Fidel Castro está melhor do que da outra vez que o visitei. Está fisicamente bem, a cabeça está bem, pensando bem. As questões políticas, conversei com o presidente Raúl. Foi uma reunião de velhos amigos, velhos companheiros.
Lula e Raúl assinaram sete adendos a acordos entre os dois governos. O principal ato foi a visita ao Porto de Mariel, a 50 quilômetros de Havana, cujas obras de ampliação são financiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O custo total da obra é de US$ 800 milhões, sendo US$ 453 milhões do governo brasileiro, mas os cubanos querem mais US$ 230 milhões.
A morte de Orlando Zapata Tamayo deflagrou uma série de protestos de governos e de órgãos de defesa dos direitos humanos.
Estados Unidos, União Europeia, Espanha, França, Itália e organizações como a Anistia Internacional e os Repórteres sem Fronteiras pediram a libertação dos presos políticos cubanos.
Em tons mais fortes, EUA e Espanha condenaram Cuba pela morte do dissidente, e a França lamentou que seu pedido para libertar Zapata não tenha sido ouvido.
— Estamos profundamente consternados por sua morte em defesa de seus direitos e para alertar sobre a situação e a opressão dos presos políticos em Cuba — declarou a secretária de Estado, Hillary Clinton, no Senado.
A Anistia Internacional, que tinha Zapata numa lista de presos de consciência, pediu a investigação de sua morte. “Orlando Zapata Tamayo sentiu que não tinha outra saída senão morrer de fome, em protesto. Sem um Poder Judiciário independente em Cuba, os julgamentos são rápidos e não cumprem os requisitos internacionais de justiça”.
Na América Latina a opção pareceu ser o silêncio. Ao GLOBO, Elizardo Sánchez, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, criticou a posição dos países latino-americanos.
— Cuba tem capacidade de intimidar os governos latinoamericanos, com sua política de envio de médicos. O Brasil podia se manifestar.
Lula critica greve de fome e lamenta por Zapata
EUA e países europeus condenam posição de Cuba sobre direitos humanos. América Latina opta pelo silêncio
Luiza Damé
Enviada especial
HAVANA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou ontem que os dissidentes cubanos tenham pedido para ele negociar com o presidente de Cuba, Raúl Castro, a liberação de presos políticos. Irritado, Lula afirmou que não recebeu carta dos dissidentes nem pedido de audiência.
O presidente lamentou a morte do preso político Orlando Zapata Tamayo, mas evitou avaliar denúncias de desrespeito aos direitos humanos.
—Eu não recebi nenhuma carta. As pessoas precisam parar com o hábito de fazerem carta, guardarem para si e depois dizerem que mandaram para os outros. Se eles tivessem pedido para conversar comigo, eu teria conversado com eles. Nós não nos recusamos a conversar — afirmou. — Se eles já são dissidentes de Cuba e agora querem ser dissidentes do Lula não tem problema nenhum.
Lula lembrou que a Igreja Católica condenou a greve de fome do bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, contra a transposição do Rio São Francisco.
Disse ainda que ele próprio negociou, em 2001, com o então presidente Fernando Henrique Cardoso para impedir que os sequestradores do empresário Abílio Diniz entrassem em greve seca.
— Nós temos que lamentar, por alguém que morreu. E morreu porque decidiu fazer uma greve de fome. Sou contra greve de fome porque fiz e parei a pedido da Igreja Católica. Depois da minha experiência, pelo amor de Deus ninguém que queira fazer protesto peça para eu fazer uma greve de fome que eu não farei mais — disse.
Pedido internacional por libertação de presos políticos Na sua última visita a Cuba como presidente, Lula encontrouse com Fidel Castro, participou de reuniões de trabalho com o presidente Raúl Castro e jantou na tradicional La Bodeguita del Medio. Lula ficou duas horas e meia com Fidel e fez questão de fotografar seus auxiliares com o cubano.
— O presidente Fidel Castro está melhor do que da outra vez que o visitei. Está fisicamente bem, a cabeça está bem, pensando bem. As questões políticas, conversei com o presidente Raúl. Foi uma reunião de velhos amigos, velhos companheiros.
Lula e Raúl assinaram sete adendos a acordos entre os dois governos. O principal ato foi a visita ao Porto de Mariel, a 50 quilômetros de Havana, cujas obras de ampliação são financiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O custo total da obra é de US$ 800 milhões, sendo US$ 453 milhões do governo brasileiro, mas os cubanos querem mais US$ 230 milhões.
A morte de Orlando Zapata Tamayo deflagrou uma série de protestos de governos e de órgãos de defesa dos direitos humanos.
Estados Unidos, União Europeia, Espanha, França, Itália e organizações como a Anistia Internacional e os Repórteres sem Fronteiras pediram a libertação dos presos políticos cubanos.
Em tons mais fortes, EUA e Espanha condenaram Cuba pela morte do dissidente, e a França lamentou que seu pedido para libertar Zapata não tenha sido ouvido.
— Estamos profundamente consternados por sua morte em defesa de seus direitos e para alertar sobre a situação e a opressão dos presos políticos em Cuba — declarou a secretária de Estado, Hillary Clinton, no Senado.
A Anistia Internacional, que tinha Zapata numa lista de presos de consciência, pediu a investigação de sua morte. “Orlando Zapata Tamayo sentiu que não tinha outra saída senão morrer de fome, em protesto. Sem um Poder Judiciário independente em Cuba, os julgamentos são rápidos e não cumprem os requisitos internacionais de justiça”.
Na América Latina a opção pareceu ser o silêncio. Ao GLOBO, Elizardo Sánchez, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, criticou a posição dos países latino-americanos.
— Cuba tem capacidade de intimidar os governos latinoamericanos, com sua política de envio de médicos. O Brasil podia se manifestar.
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