O congresso do PT e a consagração de Dilma Rousseff como candidata do partido se processaram de acordo com os cálculos e com o roteiro do Palácio do Planalto. O evento, ademais da deli-
beração básica de constituir a nova executiva – bem afinada com o presidente Lula, a partir de seu principal dirigente, o moderado José Eduardo Dutra -, deveria, como o fez, propiciar a livre manifestação de todas as correntes petistas, tendo em vista a legitimação partidária da candidatura de Dilma e a unidade de todas elas na campanha eleitoral, inclusive das mais radicais. Unidade favorecida pela retomada da velha retórica anticapitalista do PT e sua
atualização com várias propostas autoritárias e restritivas da iniciativa privada, boa parte de inspiração chavista, que têm sido lançadas ultimamente. Como a do controle da mídia, a da institucionalização das invasões de terra, a da criação de um “conselho social’ para participar das definições e aplicação da política externa (a fim de reforçar e garantir a continuidade do abusivo esquerdismo praticado pelo atual comando do Itamaraty).
Mas tais propostas, destinadas ao programa do PT para a campanha de Dilma (e bem acolhidas pelo redator Marco Aurélio Garcia) tiveram grande repercussão na imprensa, avaliadas como um indicador de sensível esquerdização de um governo dela em relação aos dois mandatos de Lula. Com potencial de forte efeito negativo em largos segmentos da sociedade. O que, rapidamente, levou o presidente Lula a adotar uma postura de claro distanciamento crítico das proposições radicais dos petistas, o que ele fez a partir de entrevista exclusiva ao Estadão, publicada no dia de abertura do congresso. Na qual qualificou a reunião como “uma feira de produtos ideológicos”, em que “as pessoas compram o que querem e vendem o que querem”. E rechaçou recomendações feitas para mudanças na política macroeconômica: “Quero crer que a sabedoria do PT é tão grande que o partido não vai jogar fora a experiência acumulada de ter um governo aprovado por 72% na opinião pública. Isso é riqueza que nem o mais nervoso trotskista seria capaz de perder”. Por seu turno, Dilma Rousseff, em declarações à Veja, afirmou: “Censura à imprensa e controle estatal da cultura estão completamente fora das ações do atual governo, como também de nossas propostas para o futuro”.
Cabe assinalar, porém, que a postura crítica dos dois ao viés esquerdista do programa aprovado ao congresso é bem seletiva. De um lado, eles condenam as propostas que sabem ser rechaça-
das pela sociedade, como a de controle da mídia e a de respaldo legal às invasões de terras. Mas, ao mesmo tempo, estão de acordo, quase por inteiro no caso de Dilma Rousseff, com outra dimensão, relevante, desse viés: o conteúdo agressivamente estatizante de várias políticas e medidas recomendadas (em articulação com as de reforço do aparelhamento partidário e sindical da máquina pública). A concordância, além de refletir uma visão
semelhante ou próxima do papel do Estado, serve a um propósito eleitoral importante: contrapor o Estado forte do lulismo às privatizações do governo FHC, um dos ingredientes do plebiscito buscado pelo Planalto entre Dilma Rousseff e o candidato oposicionista, o governador de São Paulo, José Serra.
A incerteza da relação com o PMDB – Cumprido a contento o script de Lula para o congresso do PT – subordinação e mobilização para o processo eleitoral, bem como distanciamento dele e de
sua candidata do radicalismo para a preservação de apoios políticos e sociais fora da esquerda – o desafio à frente dos dois é o relacionamento com a direção central do PMDB centrista. Nas composições, ou inviabilidade delas, para os pleitos estaduais. Na formalização do candidato peemedebista a vice-presidente. E, na hipótese de uma vitória de Dilma Rousseff, na formação do governo, bem como na cooperação ou no dissenso entre o Executivo e o Congresso. Quanto aos dois primeiros itens, percebem-se no Palácio do Planalto e entre lideranças do PT avaliações divergentes sobre o que priorizar: o controle por Lula da indicação do vice (em face da necessidade de nome alternativo a Michel Temer e com o cálculo de que isso será relevante para a garantia da liderança político-institucional da chefe do governo), o que recomenda sacrifício de candidatos petistas a governador em alguns estados, especialmente em Minas; ou, ao contrário, a ampliação da influência política nas bases regionais, com o aumento de número de governadores do partido (ou a ele bem vinculados) e a conseqüente ampliação da bancada federal, inclusive para a disputa do comando da Câmara de Deputados. Desafio a ser enfrentado num contexto em que o objetivo maior das duas alas dirigentes do
PMDB, na aliança com o lulismo, é o exercício de um papel político-administrativo e institucional mais importante do partido – com maior peso num governo de Dilma do que aquele que teve no de Lula e maior autonomia (do que a atual) num Congresso em que mantenha a maioria nas duas Casas. Enquanto o presidente, embora reconheça a essencialidade dos peemedebistas para a campanha de Dilma, projeta para eles um papel bem menor, basicamente, de subordinação ao lulismo.
Jarbas de Holanda é jornalista
beração básica de constituir a nova executiva – bem afinada com o presidente Lula, a partir de seu principal dirigente, o moderado José Eduardo Dutra -, deveria, como o fez, propiciar a livre manifestação de todas as correntes petistas, tendo em vista a legitimação partidária da candidatura de Dilma e a unidade de todas elas na campanha eleitoral, inclusive das mais radicais. Unidade favorecida pela retomada da velha retórica anticapitalista do PT e sua
atualização com várias propostas autoritárias e restritivas da iniciativa privada, boa parte de inspiração chavista, que têm sido lançadas ultimamente. Como a do controle da mídia, a da institucionalização das invasões de terra, a da criação de um “conselho social’ para participar das definições e aplicação da política externa (a fim de reforçar e garantir a continuidade do abusivo esquerdismo praticado pelo atual comando do Itamaraty).
Mas tais propostas, destinadas ao programa do PT para a campanha de Dilma (e bem acolhidas pelo redator Marco Aurélio Garcia) tiveram grande repercussão na imprensa, avaliadas como um indicador de sensível esquerdização de um governo dela em relação aos dois mandatos de Lula. Com potencial de forte efeito negativo em largos segmentos da sociedade. O que, rapidamente, levou o presidente Lula a adotar uma postura de claro distanciamento crítico das proposições radicais dos petistas, o que ele fez a partir de entrevista exclusiva ao Estadão, publicada no dia de abertura do congresso. Na qual qualificou a reunião como “uma feira de produtos ideológicos”, em que “as pessoas compram o que querem e vendem o que querem”. E rechaçou recomendações feitas para mudanças na política macroeconômica: “Quero crer que a sabedoria do PT é tão grande que o partido não vai jogar fora a experiência acumulada de ter um governo aprovado por 72% na opinião pública. Isso é riqueza que nem o mais nervoso trotskista seria capaz de perder”. Por seu turno, Dilma Rousseff, em declarações à Veja, afirmou: “Censura à imprensa e controle estatal da cultura estão completamente fora das ações do atual governo, como também de nossas propostas para o futuro”.
Cabe assinalar, porém, que a postura crítica dos dois ao viés esquerdista do programa aprovado ao congresso é bem seletiva. De um lado, eles condenam as propostas que sabem ser rechaça-
das pela sociedade, como a de controle da mídia e a de respaldo legal às invasões de terras. Mas, ao mesmo tempo, estão de acordo, quase por inteiro no caso de Dilma Rousseff, com outra dimensão, relevante, desse viés: o conteúdo agressivamente estatizante de várias políticas e medidas recomendadas (em articulação com as de reforço do aparelhamento partidário e sindical da máquina pública). A concordância, além de refletir uma visão
semelhante ou próxima do papel do Estado, serve a um propósito eleitoral importante: contrapor o Estado forte do lulismo às privatizações do governo FHC, um dos ingredientes do plebiscito buscado pelo Planalto entre Dilma Rousseff e o candidato oposicionista, o governador de São Paulo, José Serra.
A incerteza da relação com o PMDB – Cumprido a contento o script de Lula para o congresso do PT – subordinação e mobilização para o processo eleitoral, bem como distanciamento dele e de
sua candidata do radicalismo para a preservação de apoios políticos e sociais fora da esquerda – o desafio à frente dos dois é o relacionamento com a direção central do PMDB centrista. Nas composições, ou inviabilidade delas, para os pleitos estaduais. Na formalização do candidato peemedebista a vice-presidente. E, na hipótese de uma vitória de Dilma Rousseff, na formação do governo, bem como na cooperação ou no dissenso entre o Executivo e o Congresso. Quanto aos dois primeiros itens, percebem-se no Palácio do Planalto e entre lideranças do PT avaliações divergentes sobre o que priorizar: o controle por Lula da indicação do vice (em face da necessidade de nome alternativo a Michel Temer e com o cálculo de que isso será relevante para a garantia da liderança político-institucional da chefe do governo), o que recomenda sacrifício de candidatos petistas a governador em alguns estados, especialmente em Minas; ou, ao contrário, a ampliação da influência política nas bases regionais, com o aumento de número de governadores do partido (ou a ele bem vinculados) e a conseqüente ampliação da bancada federal, inclusive para a disputa do comando da Câmara de Deputados. Desafio a ser enfrentado num contexto em que o objetivo maior das duas alas dirigentes do
PMDB, na aliança com o lulismo, é o exercício de um papel político-administrativo e institucional mais importante do partido – com maior peso num governo de Dilma do que aquele que teve no de Lula e maior autonomia (do que a atual) num Congresso em que mantenha a maioria nas duas Casas. Enquanto o presidente, embora reconheça a essencialidade dos peemedebistas para a campanha de Dilma, projeta para eles um papel bem menor, basicamente, de subordinação ao lulismo.
Jarbas de Holanda é jornalista
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