DEU EM O GLOBO
Os rumores de que a crise da Grécia teria contaminado a Espanha e de que já estaria sendo elaborado um pacote de socorro de € 280 bilhões derrubaram os mercados globais. A Bolsa de Madri caiu, 5,41% e em Atenas, 6,68%, enquanto em Nova York a queda foi de 2,02%. No Brasil, a Bovespa recuou 3,35% e o dólar subiu 1,66%, para R$ 1,761. O euro perdeu 1,52% frente ao dólar. O presidente do governo espanhol, José Luis Rodriguez Zapatero, desmentiu os rumores, classificando-os como "absoluta loucura".
Ameaça agora vem da Espanha
Rumor de que Madri receberia socorro de G 280 bi derruba bolsas mundiais. FMI desmente
Bruno Villa Bôas*
NOVA YORK, BRUXELAS e RIO
Os mercados viveram ontem um dia de caos arrastados por rumores de que a crise fiscal da Grécia teria contaminado a Espanha e que inclusive já estaria sendo elaborado um pacote de ajuda de C 280 bilhões ao governo de Madri. O impacto no mercado e o pânico dos investidores levaram o presidente do Governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, a desmentir os rumores, classificando-os como uma “absoluta loucura”. Mesmo assim, o euro caiu pela primeira vez desde abril de 2009 para abaixo de US$ 1,30, e os principais índices de ações de Europa e EUA despencaram.
Também pesou nos mercados as incertezas sobre a sustentabilidade do plano de corte de custos anunciado pelo premier grego, George Papandreou, e até mesmo a dúvida se o pacote de C 110 bilhões à Grécia, aprovado no fim de semana pela União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), será suficiente para evitar o colapso da economia do país.
A Bolsa de Madri caiu 5,41% e em Atenas, a queda foi de 6,68%. Frankfurt, principal pregão da Europa, recuou 2,60%. A crise europeia repercutiu do outro lado do Atlântico e o Dow Jones, principal índice da Bolsa de Nova York, teve queda de 2,02%, para 10.926,77 pontos, sua menor pontuação desde 7 de abril. No Brasil, a Bolsa recuou 3,35%. Já o euro perdeu 1,52% frente ao dólar, fechando a US$ 1,2991.
Impacto em bancos europeus preocupa
Apesar de a situação fiscal da Espanha ser ligeiramente melhor do que a Grécia, a economia espanhola tem um peso muito maior para a Europa e para o mundo. Enquanto o PIB grego é de apenas US$ 342 bilhões, o espanhol é de US$ 1,47 trilhão e, considerando a paridade do poder de compra, o país é a 12amaior economia mundial. A dívida pública da Espanha hoje supera o meio trilhão de euros, contra C 273 bilhões do endividamento grego e, por isso, se Madri precisar de socorro, a ajuda terá que ser significativamente maior.
Em uma entrevista, o espanhol Zapatero mencionou os rumores de contágio grego na economia espanhola e do suposto pacote de ajuda ao país: — Falaram-me desse boato, e a verdade é que não dou ouvidos. É uma absoluta loucura — afirmou Zapatero. — O que me preocupa é que um boato dessa natureza, que é um despropósito descomunal, provoca um efeito imediato nas nossas bolsas. É intolerável e causa prejuízo à Espanha.
Horas mais tarde, o FMI também desmentiu um suposto resgate da Espanha.
— Não há qualquer verdade nesses boatos — disse o porta-voz do Fundo, Bill Murray.
As agências de classificação de risco Fitch e Moody’s, por sua vez, desmentiram outro rumor que rondou os mercados, de que rebaixariam o rating da Espanha.
Um porta-voz das duas agências disse que elas manterão a nota AAA para o país, mas acrescentou que não especula sobre o futuro.
Para analistas, um agravamento da crise espanhola desestabilizaria a economia europeia.
— Se houver de fato um risco para a Espanha, isso afetará todos os bancos multinacionais — disse Uri Landesman, presidente do Platinum Partners.
— O que está acontecendo na Europa eventualmente vai terminar em calote — disse, por sua vez, Jeffrey Saut, chefe estrategista da corretora Raymond James. — Eles colocaram um band-aid na situação, e eu acho que vai ser muito ruim para o complexo bancário europeu.
Embora os outros 15 países da zona do euro e o FMI tenham concordado conceder à Grécia C 110 bilhões num período de três anos, os investidores veem com ceticismo a aplicabilidade do plano de austeridade anunciado por Atenas. Ontem, centenas de manifestantes gregos tomaram as ruas da capital grega para protestar contra as medidas de corte de custos, que incluem o congelamento de salários e aumento de impostos, para cortar os gastos em C 30 bilhões até 2012. Várias categorias profissionais, sobretudo do setor público, iniciaram greves de 48 horas em todo o país. Hoje, entram em greve trabalhadores de transportes públicos.
Já manifestantes do Partido Comunista grego estenderam uma faixa gigantesca, com os dizerem em inglês: “Povo da Europa, erga-se”, no Pathernon, no topo da Acrópole de Atenas, o mais famoso monumento do país, para protestar contra as políticas defendidas pela UE e o FMI. A polícia não inteveio.
— Essa é uma mensagem para o povo da Europa — disse Panagiotis Papageorgopoulos, dirigente do Partido Comunista, referindo à faixa na Acrópole. — As pessoas estão vivendo o mesmo problema em todos os lugares.
Podemos assumir o controle de nosso destino com protestos organizados, de modo que nossas vidas não sejam dirigidas pela UE e o FMI.
Bancos e seguradoras alemãs prometeram reforçar o socorro à Grécia, principalmente mantendo abertas linhas de crédito para os bancos gregos.
Os bancos também concordaram em comprar títulos emitidos pelo banco estatal alemão KfW, que vai participar diretamente do socorro, como forma de financiar o resgate. O anúncio foi feito em coletiva da qual participaram o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, e o diretorexecutivo do Deutsche Bank, Josef Ackermann.
‘Commodities’ caem e Bovespa perde 3,35%
No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) recuou 3,35%, aos 64.869 pontos pelo Índice Bovespa (Ibovespa), influenciada pela crise europeia e também pela queda de 3,37% nas ações PN da Petrobras. Com isso, a Bolsa recuou ao menor patamar desde 24 de fevereiro. O aumento da aversão ao risco elevou o dólar em 1,66%, para R$ 1,761. Foi a maior alta do dólar em três meses.
— A situação é preocupante. A Espanha precisará honrar o pagamento de C 24 bilhões em títulos em julho e ainda lida com uma taxa de desemprego acima de 20% — disse Leonel Pitta, da Lopes Filho & Associados.
No setor de commodities, o dia foi ainda de ajustes ao aperto monetário da China, que anteontem anunciou um aumento nos compulsórios bancários do país. Recuaram Vale PNA (4,85%), MMX ON (5,50%) e CSN ON (5,04%).
Dos 63 papéis que compõem o Ibovespa, apenas Braskem (1,41%) e Ambev (0,87%) fecharam em alta.
Segundo Fabio Silveira, da RC Consultores, a tendências das commodities permanece de instabilidade nos próximos meses.
— Pequim deve promover novas medidas para desacelerar a economia da China para evitar uma aceleração da inflação.
(*) Com “New York Times”, “El País” e agências internacionais
Os rumores de que a crise da Grécia teria contaminado a Espanha e de que já estaria sendo elaborado um pacote de socorro de € 280 bilhões derrubaram os mercados globais. A Bolsa de Madri caiu, 5,41% e em Atenas, 6,68%, enquanto em Nova York a queda foi de 2,02%. No Brasil, a Bovespa recuou 3,35% e o dólar subiu 1,66%, para R$ 1,761. O euro perdeu 1,52% frente ao dólar. O presidente do governo espanhol, José Luis Rodriguez Zapatero, desmentiu os rumores, classificando-os como "absoluta loucura".
Ameaça agora vem da Espanha
Rumor de que Madri receberia socorro de G 280 bi derruba bolsas mundiais. FMI desmente
Bruno Villa Bôas*
NOVA YORK, BRUXELAS e RIO
Os mercados viveram ontem um dia de caos arrastados por rumores de que a crise fiscal da Grécia teria contaminado a Espanha e que inclusive já estaria sendo elaborado um pacote de ajuda de C 280 bilhões ao governo de Madri. O impacto no mercado e o pânico dos investidores levaram o presidente do Governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, a desmentir os rumores, classificando-os como uma “absoluta loucura”. Mesmo assim, o euro caiu pela primeira vez desde abril de 2009 para abaixo de US$ 1,30, e os principais índices de ações de Europa e EUA despencaram.
Também pesou nos mercados as incertezas sobre a sustentabilidade do plano de corte de custos anunciado pelo premier grego, George Papandreou, e até mesmo a dúvida se o pacote de C 110 bilhões à Grécia, aprovado no fim de semana pela União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), será suficiente para evitar o colapso da economia do país.
A Bolsa de Madri caiu 5,41% e em Atenas, a queda foi de 6,68%. Frankfurt, principal pregão da Europa, recuou 2,60%. A crise europeia repercutiu do outro lado do Atlântico e o Dow Jones, principal índice da Bolsa de Nova York, teve queda de 2,02%, para 10.926,77 pontos, sua menor pontuação desde 7 de abril. No Brasil, a Bolsa recuou 3,35%. Já o euro perdeu 1,52% frente ao dólar, fechando a US$ 1,2991.
Impacto em bancos europeus preocupa
Apesar de a situação fiscal da Espanha ser ligeiramente melhor do que a Grécia, a economia espanhola tem um peso muito maior para a Europa e para o mundo. Enquanto o PIB grego é de apenas US$ 342 bilhões, o espanhol é de US$ 1,47 trilhão e, considerando a paridade do poder de compra, o país é a 12amaior economia mundial. A dívida pública da Espanha hoje supera o meio trilhão de euros, contra C 273 bilhões do endividamento grego e, por isso, se Madri precisar de socorro, a ajuda terá que ser significativamente maior.
Em uma entrevista, o espanhol Zapatero mencionou os rumores de contágio grego na economia espanhola e do suposto pacote de ajuda ao país: — Falaram-me desse boato, e a verdade é que não dou ouvidos. É uma absoluta loucura — afirmou Zapatero. — O que me preocupa é que um boato dessa natureza, que é um despropósito descomunal, provoca um efeito imediato nas nossas bolsas. É intolerável e causa prejuízo à Espanha.
Horas mais tarde, o FMI também desmentiu um suposto resgate da Espanha.
— Não há qualquer verdade nesses boatos — disse o porta-voz do Fundo, Bill Murray.
As agências de classificação de risco Fitch e Moody’s, por sua vez, desmentiram outro rumor que rondou os mercados, de que rebaixariam o rating da Espanha.
Um porta-voz das duas agências disse que elas manterão a nota AAA para o país, mas acrescentou que não especula sobre o futuro.
Para analistas, um agravamento da crise espanhola desestabilizaria a economia europeia.
— Se houver de fato um risco para a Espanha, isso afetará todos os bancos multinacionais — disse Uri Landesman, presidente do Platinum Partners.
— O que está acontecendo na Europa eventualmente vai terminar em calote — disse, por sua vez, Jeffrey Saut, chefe estrategista da corretora Raymond James. — Eles colocaram um band-aid na situação, e eu acho que vai ser muito ruim para o complexo bancário europeu.
Embora os outros 15 países da zona do euro e o FMI tenham concordado conceder à Grécia C 110 bilhões num período de três anos, os investidores veem com ceticismo a aplicabilidade do plano de austeridade anunciado por Atenas. Ontem, centenas de manifestantes gregos tomaram as ruas da capital grega para protestar contra as medidas de corte de custos, que incluem o congelamento de salários e aumento de impostos, para cortar os gastos em C 30 bilhões até 2012. Várias categorias profissionais, sobretudo do setor público, iniciaram greves de 48 horas em todo o país. Hoje, entram em greve trabalhadores de transportes públicos.
Já manifestantes do Partido Comunista grego estenderam uma faixa gigantesca, com os dizerem em inglês: “Povo da Europa, erga-se”, no Pathernon, no topo da Acrópole de Atenas, o mais famoso monumento do país, para protestar contra as políticas defendidas pela UE e o FMI. A polícia não inteveio.
— Essa é uma mensagem para o povo da Europa — disse Panagiotis Papageorgopoulos, dirigente do Partido Comunista, referindo à faixa na Acrópole. — As pessoas estão vivendo o mesmo problema em todos os lugares.
Podemos assumir o controle de nosso destino com protestos organizados, de modo que nossas vidas não sejam dirigidas pela UE e o FMI.
Bancos e seguradoras alemãs prometeram reforçar o socorro à Grécia, principalmente mantendo abertas linhas de crédito para os bancos gregos.
Os bancos também concordaram em comprar títulos emitidos pelo banco estatal alemão KfW, que vai participar diretamente do socorro, como forma de financiar o resgate. O anúncio foi feito em coletiva da qual participaram o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, e o diretorexecutivo do Deutsche Bank, Josef Ackermann.
‘Commodities’ caem e Bovespa perde 3,35%
No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) recuou 3,35%, aos 64.869 pontos pelo Índice Bovespa (Ibovespa), influenciada pela crise europeia e também pela queda de 3,37% nas ações PN da Petrobras. Com isso, a Bolsa recuou ao menor patamar desde 24 de fevereiro. O aumento da aversão ao risco elevou o dólar em 1,66%, para R$ 1,761. Foi a maior alta do dólar em três meses.
— A situação é preocupante. A Espanha precisará honrar o pagamento de C 24 bilhões em títulos em julho e ainda lida com uma taxa de desemprego acima de 20% — disse Leonel Pitta, da Lopes Filho & Associados.
No setor de commodities, o dia foi ainda de ajustes ao aperto monetário da China, que anteontem anunciou um aumento nos compulsórios bancários do país. Recuaram Vale PNA (4,85%), MMX ON (5,50%) e CSN ON (5,04%).
Dos 63 papéis que compõem o Ibovespa, apenas Braskem (1,41%) e Ambev (0,87%) fecharam em alta.
Segundo Fabio Silveira, da RC Consultores, a tendências das commodities permanece de instabilidade nos próximos meses.
— Pequim deve promover novas medidas para desacelerar a economia da China para evitar uma aceleração da inflação.
(*) Com “New York Times”, “El País” e agências internacionais
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