(Fernando Neves, advogado, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral)
Na última sexta-feira, no Rio de Janeiro, durante aquele que passará à História como o Comício dos Mil, Lula disse a certa altura do seu discurso para militantes encharcados, porém felizes: “Há uma premeditação de me tirarem da campanha política para não permitir que eu ajude a companheira Dilma a ser a presidente da República deste país.” Evitou nomear o responsável pela premeditação. É uma técnica muito sua. E que funciona diante de plateias dispostas a acreditar em tudo o que ele diz. Acusa sem identificar o acusado. Assume a condição de vítima. E em seguida destila toda a sua coragem para enfrentar vilões e superar injustiças.
De volta ao Rio. Lula: “Na verdade, o que eles querem é me inibir para fingir que eu não conheço Dilma. É como se eu pudesse passar perto dela e eu passar de costas viradas e fingir que não a conheço. Mas eu não sou homem de duas caras. Eu passo perto dela e digo: é a minha companheira Dilma”.
Apesar da chuva, Lula estava no melhor da sua forma. Quem não se saiu bem foi Dilma – mas é compreensível. Era seu primeiro comício de campanha. E, convenhamos: nem mesmo os políticos mais experientes, alguns deles oradores admiráveis, se sentiriam à vontade para falar depois de Lula. Dilma deve ser testada longe dele.
Para o crescente número de brasileiros decididos a votar em Dilma só por que Lula quer talvez não faça nenhuma diferença – mas para os que se preocupam com a consolidação da democracia entre nós é assustadora a vontade de Lula em eleger sua candidata a qualquer preço.
Uma coisa é um partido tentar se manter no poder. Quando chegam lá todos tentam.
Nada mais legítimo. Outra é abusar do poder e ignorar leis e procedimentos para não acabar removido dali. A Justiça assistiu calada Lula abusar do poder que o cargo lhe confere fazendo campanha para Dilma desde 2007. Foi um ato pensado de Lula.
O jornalista José Roberto Toledo, de o Estado de S. Paulo, deu-se ao trabalho de contar o número de vezes em que Lula citou Dilma em discursos e entrevistas de 2003 para cá. Fixemo-nos apenas no período 2007-2010. Nos 336 discursos que fez em 2007, Lula citou Dilma em 63. Nas 176 entrevistas que concedeu, citou Dilma em 19.
Em 2008 o número de discursos caiu para 330. Dilma foi citada em 80 deles. O número de entrevistas aumentou para 213 – e as menções a Dilma para 31. No ano passado, Lula mandou às favas todos os escrúpulos. Citou Dilma em 98 dos 313 discursos que fez. Concedeu 272 entrevistas, lembrando de Dilma em 87 delas.
Nos primeiros três meses deste ano, Lula se referiu a Dilma em 39 de 78 discursos. Apenas em março o nome de Dilma foi repetido por Lula 94 vezes em 20 discursos – mais do que Deus (47). Foi em março que a Justiça Eleitoral multou Lula duas vezes por fazer propaganda eleitoral antecipada para Dilma.
Lula calou-se em abril. Em maio não resistiu: falou de Dilma seis vezes e ganhou mais quatro multas. Na semana passada, deu-se ao requinte de falar de Dilma para exaltá-la e de falar novamente para se desculpar por ter falado dela – e dessa vez na presença do presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Bateu seu recorde em matéria de cinismo.
Não se diga que Lula surpreendeu. Ele avisou no ano passado: “Meu projeto político é eleger Dilma”. Desde então não praticou um só ato de governo sem levar em conta os benefícios que poderia acarretar para sua candidata. De presidente da República passou a cabo eleitoral.
Um discurso de Dilma faz parte de um kit produzido e distribuído pelo governo com materiais de defesa do voto em mulheres – três mil livros, 20 mil cartazes e 215 mil cartilhas. Um senador pelo Amapá e sua mulher, deputada federal, foram cassados pela Justiça Eleitoral sob a acusação de comprarem dois votos – a R$ 26 cada um.
Anteontem, Dilma advertiu a Justiça: “Acho que não se pode na vida ter dois pesos e duas medidas”. Ela tem razão.
Na última sexta-feira, no Rio de Janeiro, durante aquele que passará à História como o Comício dos Mil, Lula disse a certa altura do seu discurso para militantes encharcados, porém felizes: “Há uma premeditação de me tirarem da campanha política para não permitir que eu ajude a companheira Dilma a ser a presidente da República deste país.” Evitou nomear o responsável pela premeditação. É uma técnica muito sua. E que funciona diante de plateias dispostas a acreditar em tudo o que ele diz. Acusa sem identificar o acusado. Assume a condição de vítima. E em seguida destila toda a sua coragem para enfrentar vilões e superar injustiças.
De volta ao Rio. Lula: “Na verdade, o que eles querem é me inibir para fingir que eu não conheço Dilma. É como se eu pudesse passar perto dela e eu passar de costas viradas e fingir que não a conheço. Mas eu não sou homem de duas caras. Eu passo perto dela e digo: é a minha companheira Dilma”.
Apesar da chuva, Lula estava no melhor da sua forma. Quem não se saiu bem foi Dilma – mas é compreensível. Era seu primeiro comício de campanha. E, convenhamos: nem mesmo os políticos mais experientes, alguns deles oradores admiráveis, se sentiriam à vontade para falar depois de Lula. Dilma deve ser testada longe dele.
Para o crescente número de brasileiros decididos a votar em Dilma só por que Lula quer talvez não faça nenhuma diferença – mas para os que se preocupam com a consolidação da democracia entre nós é assustadora a vontade de Lula em eleger sua candidata a qualquer preço.
Uma coisa é um partido tentar se manter no poder. Quando chegam lá todos tentam.
Nada mais legítimo. Outra é abusar do poder e ignorar leis e procedimentos para não acabar removido dali. A Justiça assistiu calada Lula abusar do poder que o cargo lhe confere fazendo campanha para Dilma desde 2007. Foi um ato pensado de Lula.
O jornalista José Roberto Toledo, de o Estado de S. Paulo, deu-se ao trabalho de contar o número de vezes em que Lula citou Dilma em discursos e entrevistas de 2003 para cá. Fixemo-nos apenas no período 2007-2010. Nos 336 discursos que fez em 2007, Lula citou Dilma em 63. Nas 176 entrevistas que concedeu, citou Dilma em 19.
Em 2008 o número de discursos caiu para 330. Dilma foi citada em 80 deles. O número de entrevistas aumentou para 213 – e as menções a Dilma para 31. No ano passado, Lula mandou às favas todos os escrúpulos. Citou Dilma em 98 dos 313 discursos que fez. Concedeu 272 entrevistas, lembrando de Dilma em 87 delas.
Nos primeiros três meses deste ano, Lula se referiu a Dilma em 39 de 78 discursos. Apenas em março o nome de Dilma foi repetido por Lula 94 vezes em 20 discursos – mais do que Deus (47). Foi em março que a Justiça Eleitoral multou Lula duas vezes por fazer propaganda eleitoral antecipada para Dilma.
Lula calou-se em abril. Em maio não resistiu: falou de Dilma seis vezes e ganhou mais quatro multas. Na semana passada, deu-se ao requinte de falar de Dilma para exaltá-la e de falar novamente para se desculpar por ter falado dela – e dessa vez na presença do presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Bateu seu recorde em matéria de cinismo.
Não se diga que Lula surpreendeu. Ele avisou no ano passado: “Meu projeto político é eleger Dilma”. Desde então não praticou um só ato de governo sem levar em conta os benefícios que poderia acarretar para sua candidata. De presidente da República passou a cabo eleitoral.
Um discurso de Dilma faz parte de um kit produzido e distribuído pelo governo com materiais de defesa do voto em mulheres – três mil livros, 20 mil cartazes e 215 mil cartilhas. Um senador pelo Amapá e sua mulher, deputada federal, foram cassados pela Justiça Eleitoral sob a acusação de comprarem dois votos – a R$ 26 cada um.
Anteontem, Dilma advertiu a Justiça: “Acho que não se pode na vida ter dois pesos e duas medidas”. Ela tem razão.
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