terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Teste decisivo na Grande São Paulo:: Raymundo Costa

O deputado João Paulo Cunha será o candidato do PT a prefeito de Osasco. Trata-se do primeiro acusado de integrar o suposto esquema do mensalão a tentar se eleger para um cargo executivo. Ele está otimista. Desde a eclosão do escândalo, em 2005, o número de eleitores do deputado cresceu cerca de 80 mil votantes. Ano passado ele ficou entre os mais votado do PT de São Paulo, e o primeiro em Osasco.À exceção de José Dirceu, na época chefe da Casa Civil e o ministro mais influente do governo Lula, o deputado João Paulo Cunha talvez tenha sido o petista que mais perdeu com o mensalão. Ex-líder da bancada do PT, ele foi também o primeiro deputado do partido a presidir a Câmara (2003-2005). Voava em altitude de cruzeiro rumo a uma candidatura ao governo estadual, talvez até fosse ministro de Lula até as eleições de 2006.

O baque não foi apenas político, mas também pessoal. O deputado deixou a barba crescer, mudou o formato dos óculos, que continuou a usar após uma cirurgia de correção da vista, tirou a barba e voltou à cena política com disposição, na atual legislatura. Sua primeira incursão foi a tentativa de novamente se eleger presidente da Câmara dos Deputados. Acabou eleito para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante, por onde começam a tramitar todos os projetos.

Agora João Paulo Cunha mira a prefeitura da quinta maior cidade do Estado de São Paulo, com cerca de 800 mil habitantes e um orçamento anual de R$ 1,6 bilhão, maior que de algumas capitais brasileiras. É o terceiro maior PIB de São Paulo. A prefeitura está há oito anos nas mãos do PT, já no segundo mandato do prefeito Emídio Pereira de Souza, um antigo aliado de João Paulo Cunha. O mais provável adversário de João Paulo será o tucano Celso Giglio, que também já exerceu por duas vezes o cargo de prefeito de Osasco.

A coligação que João Paulo articula para concorrer em Osasco é maior que a base aliada ao governo em nível nacional. Conta, até agora, com 22 partidos, incluindo siglas adversárias do PT em Brasília, como o Democratas. PPS e PV também devem participar da coligação petista. "Está sendo uma experiência boa e nova para mim voltar o olhar para a aldeia", diz o deputado.

Segundo João Paulo, o mensalão não foi problema para ele nem na eleição de 2006, quando o assunto ainda estava muito recente na memória dos eleitores, nem em 2010. "Não vivo escondido atrás desse processo", afirma o deputado. Ele faz questão de lembrar que foi "absolvido pela Câmara" e também "nunca fui condenado pela Justiça. Quem me conhece, me respeita". João Paulo se orgulha de manter um concorrido sítio na internet com mais de 400 acessos diários - "o terceiro lugar nas redes sociais".

Já na campanha de 2006, o deputado montou tendas com 150, 200 cadeiras, som e telão para discutir com a população de Osasco o processo do mensalão. O evento era denominado "Diálogo Cidadão" e tinha como bordão a frase "Venha discutir o mensalão com o João Paulo". Tendo passado nos dois teses - foi o mais votado nas eleições de 2006 e 2010 -, o deputado acha que foi politicamente absolvido por sua cidade. Falta agora o STF.

"Minha expectativa é que o Supremo faça um julgamento técnico, por isso acredito sinceramente que serei absolvido", diz João Paulo sobre o processo do mensalão, em tramitação no STF. "Sou muito seguro da minha inocência". Na hipótese de ser condenado - e se o julgamento ocorrer antes das próximas eleições - João Paulo não poderá ser candidato, pois a tendência do Supremo é validar a lei da ficha limpa para as eleições de 2012.

A lei cuja constitucionalidade está sendo analisada pelo Supremo Tribunal Federal veta, como se sabe, a candidatura de condenados na Justiça por um colegiado, sem a necessidade do chamado trânsito em julgado (quando não há mais possibilidade de recurso a uma instância superior). Mas pode ocorrer também de João Paulo ser eleito e o julgamento do mensalão só acontecer em 2013, possibilidade considerada real entre políticos e advogados que atuam nos tribunais superiores, em Brasília.

Em termos eleitorais, os tribunais superiores entraram num labirinto sem desfiar o novelo que indicaria o caminho de volta. É só observar a sinuca de bico em que se meteu o STF no caso Jader Barbalho, ex-senador que pode passar para os anais do Supremo como o único político punido com a lei da ficha limpa nas eleições de 2010. A TV Justiça registrou tudo. Atípico.

O deputado João Paulo Cunha pode se tornar o primeiro réu do processo do mensalão a ser eleito para governar uma grande cidade brasileira. Em Osasco, ele é visto como favorito à sucessão de Emídio. Pode ser um teste decisivo para os planos do PT em 2014. Resta saber qual será a posição do Supremo. A propósito, na confusão que fez com os julgamentos da ficha limpa, o STF pode ter que mandar empossar um outro petista envolvido no suposto esquema do mensalão, mas que renunciou antes de ser julgado na Câmara: Paulo Rocha, terceiro colocado na eleição para o Senado no Pará, atrás de Jader Barbalho, mas quase um milhão de votos a mais que a quarta colocada, Marinor Brito (PSOL), que assumiu a cadeira.

Os partidos aliados ao governo têm mais expectativas do que informações sobre a reforma ministerial planejada pela presidente Dilma Rousseff. Na realidade, sabem apenas que ela será feita no início do próximo ano graças a uma entrevista da ministra Ideli Salvatti, que depois disso recolheu-se e passou a observar a lei do silêncio imposta aos ministros do Palácio do Planalto, à exceção de Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência). A expectativa dos aliados mais próximos já foi maior: pelo menos 12 substituições na Esplanada dos Ministérios, além da fusão ou extinção de secretarias. Atualmente afirma-se que Dilma sabe que não há como governar com eficiência com 38 ministros, mas também sabe da "importância de ter uma base coesa".

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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