Para garantir o apoio do PRB na eleição em São Paulo, a presidente escolheu o senador Marcelo Crivella como ministro da Pesca. Além de implodir a candidatura do deputado Celso Russomano ao cargo, o PT se fortalece entre os evangélicos.
Eleição em São Paulo reflete na Esplanada
Para turbinar a candidatura de Haddad, Planalto troca o comando do Ministério da Pesca e entrega a pasta ao senador Marcelo Crivella, com forte influência entre os evangélicos
Paulo de Tarso Lyra, Juliana Braga
A presidente Dilma Rousseff abandonou ontem o discurso de que o governo federal não pode interferir nas disputas municipais e confirmou que o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) será o novo ministro da Pesca e Aquicultura. A posse está marcada para amanhã. Bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, dono de 3,5 milhões de votos no Rio de Janeiro e um dos diretores da TV Record, Crivella tem a missão de angariar para a candidatura de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo a simpatia dos eleitores evangélicos, irritados com o kit gay do Ministério da Educação.
A nomeação é mais uma reação do PT e do governo federal após a confirmação de que o ex-governador de São Paulo José Serra disputará as prévias do PSDB para escolher o candidato do partido nas eleições municipais de outubro. Além disso, o convite a Crivella engessa a pré-candidatura do deputado Celso Russomano (PRB-SP) à prefeitura, um nome que os petistas admitem ter um teto de até 15% dos votos válidos na disputa paulistana. "O Planalto resolveu entrar nessa parada e entrou com tudo", admitiu um petista paulistano.
A estratégia de Dilma, contudo, colocou-a em uma armadilha da qual terá dificuldades para se desvencilhar. O PR engrossou a voz e avisou que só aceita voltar ao governo se for para retomar o Ministério dos Transportes. O partido não aceita outra forma de compensação, como o Ministério da Agricultura para o senador Blairo Maggi (PR-MT). Se isso não ocorrer, a legenda vai para a oposição e apoiará a candidatura de José Serra em São Paulo. "Entre o dia 15 e o dia 20 teremos a reunião da nossa Executiva para definir a posição do partido nas eleições municipais", confirmou Maggi ao Correio.
O governo até admitia estender os braços para o PR, mas Dilma resistia à tese de entregar o Ministério dos Transportes para a legenda. "O PR voltará para o governo, é tudo o que eu posso dizer", confidenciou um interlocutor da presidente. Mas a legenda não aceita retaliações e adianta que os nomes cotados são, de fato, o ex-senador César Borges (BA) e o vereador paulistano Antônio Carlos Rodrigues, ligado ao deputado Valdemar Costa Neto (SP). "Ele também é ligado aos petistas paulistas, como o ministro Aloizio Mercadante e o líder Cândido Vaccarezza", defendeu um integrante do PR.
Redes sociais
O anúncio de Crivella como ministro da Pesca surpreendeu todo mundo na manhã de ontem. Em nota, a Presidência afirmou que a mudança "permite a incorporação ao ministério de um importante partido aliado da base do governo." Legenda que conta com um senador — o próprio Crivella, que será substituído pelo ex-deputado federal Eduardo Lopes (RJ) — e 10 deputados. A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, negou que a escolha do senador fluminense teve a intenção de acalmar a bancada evangélica. "Toda a discussão e a conversa da presidente foram no sentido de integrar um partido que, durante todo o período do presidente Lula, na pessoa da vice-presidente José Alencar, e agora, durante todo esse período da presidente Dilma, sempre foi um partido extremamente aliado, firme e atuante na defesa das ações do governo", justificou.
O Palácio do Planalto monitorava, via redes sociais, o crescimento dos ataques dos evangélicos à candidatura de Fernando Haddad, especialmente após os atritos dos religiosos com o secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho. Dilma sabe que o grupo também não aceita a nomeação de Eleonora Menecucci, pró-aborto, para a Secretaria de Políticas para as Mulheres.
O PSDB encarou a nomeação do senador Crivella como mais uma prova de que o governo federal fará de tudo para derrotar o tucanato em São Paulo. "Eles não estão interessados em debates públicos ou democracia. Inventaram um candidato, eliminaram os demais concorrentes e mudaram a opinião sobre a administração municipal paulistana para conseguir o apoio do prefeito", criticou o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE).
CORREIO BRAZILIENSE
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