É compreensível o esperneio da presidente Dilma quando denuncia o estrago sobre o câmbio do Brasil ocasionado pelo enorme despejo de moeda por parte dos grandes bancos centrais.
Nesta segunda-feira, em sua viagem à Alemanha, Dilma subiu de tom quando voltou a condenar "a desvalorização artificial" das moedas, provocada pelas emissões de US$ 8,8 trilhões dos grandes bancos centrais – políticas essas que "equivalem a barreiras tarifárias" e geram bolhas e especulação.
Nisso, as queixas da presidente Dilma não diferem das que, no final dos anos 90, eram feitas pelo então ministro da Economia da Argentina, Domingo Cavallo, que denunciava o empobrecimento da Argentina que, segundo ele, vinha sendo causado pelo então governo Fernando Henrique com decisões de política econômica cujo efeito prático era a desvalorização do real. Paradoxalmente, as denúncias de Dilma são, também, da mesma natureza das repetidas pelos ortodoxos da Europa, que desaprovam a frouxidão monetária do Banco Central Europeu pelas bolhas financeiras e pela inflação por ela encomendada.
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, não teve outra saída senão consolar a presidente Dilma. Avisou que isso é temporário, pediu paciência porque "isso passa". É como antigamente se dizia às crianças que se queixavam do joelho ralado num tombo de bicicleta: "Antes de casar sara, menina".
Dilma tem razão ao afirmar que, nesta economia globalizada, "as políticas monetárias expansionistas produzem tsunamis" que invadem o mercado dos países emergentes. Como concorrem para o afluxo de moeda estrangeira, geram valorização cambial (alta do dólar) que, por sua vez, encarece em dólares as exportações e barateia em reais as importações. Enfim, são decisões de política monetária que enfraquecem outras economias, hoje especialmente a do Brasil.
Mas não passa pela cabeça de ninguém a ideia de que bancos centrais precisam combinar suas políticas com a vizinhança ou providenciar compensações quando elas, eventualmente, motivam prejuízos no outro lado da fronteira. Nem o governo brasileiro admite que as políticas cambial e monetária do País tenham de ser previamente negociadas com os parceiros do Mercosul.
Convém reafirmar o que ficou dito aqui na edição de sábado: como não vão deslocar nem em um milímetro as decisões tomadas pelos grandes bancos centrais, as reclamações da chefe de Estado do Brasil precisam ser entendidas como preparação para medidas internas para neutralizar o impacto dessa política monetária expansionista sobre a economia. Pode ser mais controle na entrada de capitais, aumento de tarifas aduaneiras ou – como vem fazendo a Argentina – imposição de travas burocráticas às importações.
O problema é que políticas defensivas pouco efeito prático produzem. Servem mais para dar a impressão de que o governo está fazendo alguma coisa do que para melhorar a competitividade do setor produtivo – onde está o verdadeiro problema de fundo. E, o que é pior, acabam sempre criando novas artificialidades e deformações.
CONFIRA
Assunto exclusivo. Depois que seu secretário especial para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, garantiu que nesta quarta-feira o Copom decidirá por "redução moderada de juros", a presidente Dilma Rousseff, em Hannover, Alemanha, em viagem oficial, advertiu: "Quem fala sobre juros é o Banco Central; é o Alexandre Tombini. Nem eu nem ninguém no meu governo tem autorização para falar sobre juros".
Ato falho. As declarações de Garcia devem ser entendidas como ato falho. Juros são assunto tão assiduamente discutido – e decidido – no Palácio do Planalto que não ocorrera a ele que não deveria falar sobre isso em público.
É nesta quarta. Pois, nesta quarta, o Banco Central falará sobre juros. É tão forte a determinação de fazer algo para enfrentar o tsunami monetário global que não é tão improvável dose maior de corte do que o 0.5 ponto porcentual que prevalece a cada reunião do Copom desde agosto. Mas isso indicaria que começa outra temporada, com novo patamar de cortes.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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