terça-feira, 6 de março de 2012

Serra faz a diferença::Tibério Canuto e Antonio Sérgio Martins

Se havia dúvidas nas hostes tucanas sobre a conveniência da candidatura José Serra, a pesquisa Datafolha fez questão de esclarecê-la. Serra de fato faz a diferença e só um partido com vocação a suicida pode se dar ao luxo de trocar um candidato com 30% de intenções de voto por pré-candidatos de baixa densidade eleitoral, pois mais valorosos que eles sejam.

O Datafolha veio em boa hora, pois reestabelece a verdade eleitoral às vésperas das prévias tucanas. Ajuda na costura da unidade interna, tão necessária à vitória do candidato das forças que se opõem ao projeto do lulopetismo. Mais do que isto: facilita também a atração de aliados. É muito difícil construir palanques competitivos com candidaturas raquíticas eleitoralmente. Partido nenhum gosta de se aliar com quem não tem perspectiva de vitória. A recíproca é verdadeira.

Ou seja, aqui a dificuldade mudou de lado. Agora é Lula que vai ter que fazer uma verdadeira mágica para convencer outras legendas a se coligarem com Haddad, mesmo ele só tendo 3% de intenções de voto. E mais: vai ter que convencer candidatos com intenção de voto bem maior a retirar sua candidatura em favor de Haddad, porque Lula, como um encantador de serpentes, fará uma mágica tão grande que garantirá a eleição do seu ungido! Em termos concretos, o PT vai ter que ser humilde e ceder bem mais a partidos do tipo PR, se quiser abocanhar o seu tempo televisivo. E se o fizer, estará criando ruídos com o PMDB de Temer e Chalita.

É bobagem atribuir o salto que Serra deu no Datafolha (nove pontos em relação à última pesquisa) ao seu recall eleitoral. A verdade, comprovada nas cinco últimas disputas eleitorais, indicam que em São Paulo os tucanos têm duas grandes lideranças eleitorais: Alckmin e José Serra. O que estamos assistindo é que ao saber que Serra é candidato, o grosso do eleitorado historicamente tucano fez a sua escolha, de forma clara e cristalina. Como em são Paulo os eleitores do PSDB passam dos 30%, Serra tem condições de dar novos saltos nas novas rodadas de pesquisa.

A esta altura do campeonato, as pesquisas têm uma dupla função: unir o partido em torno do candidato mais viável e conseguir o máximo e alianças possíveis. Se para Serra a pesquisa Datafolha foi uma boa, para o PT e Haddad foi uma ducha de água fria. Mostrou que o candidato, apesar de estar na estrada há mais de seis meses, continua patinando na casa dos 3%. O raquitismo eleitoral do petista pode reacender as disputas internas. É previsível que Marta e outros descontentes com o dedazo de Lula, vociferem mais alto contra a escolha imposta pelo caudilho.

Claro que Serra não está eleito e que ainda é muito cedo para dizer que ele continuará favorito. Historicamente, o PT é um partido competitivo em São Paulo e seria ingenuidade acreditar que seu candidato ficará neste patamar ou abaixo da casa de dois dígitos.

Mas vamos reconhecer: é muito mais difícil convencer uma legenda a apoiar o 7º colocado do que o líder das pesquisas. Serra sentiu isto, em maio de 2010, quando foi ultrapassado por Dilma. O Datafolha trouxe um novo problema para o “estrategista Lula”: deve ele insistir na desistência das candidaturas de Celso Russomano e de Chalita? O que lhe assegura que estes votos irão, na sua maioria, para a candidatura de seu ungido? As simulações do Datafolha mostram o contrário. No caso dos eleitores de Russomano, há uma indisposição prévia em voar para Haddad, inclusive em função do tristemente famoso “Kit Gay”, publicado sob o patrocínio de Haddad. Um parêntesis. O mérito da questão era e é progressista, mas o conteúdo do material, ao não priorizar o respeito às diferenças, e sim uma espécie de louvação às orientações homossexuais, criou um contencioso com camadas conservadoras e pouco informadas da população e terminou por resultar no efeito contrário.

Mas voltemos ao tema do momento.

Argumenta-se que Serra tem um problema insanável: 66% dos paulistanos desconfiam que ele não cumprirá os quatro anos de mandato e que será novamente candidato a presidente. Note-se aqui que não há o menor questionamento quanto ao fato de ele ser o melhor candidato. Se este for o mote que os adversários vão utilizar para inviabilizar sua vitória, podem dar com os burros n’água. É óbvio que Serra e os marqueteiros da campanha já estão trabalhando na vacina contra este tipo de ataque. Afinal, a credibilidade de Serra, de Alckmin, de Kassab, das lideranças tucanas e da coligação, são uma base sólida para reverter a percepção do eleitorado em relação ao cumprimento integral do mandato.

Muitos petistas desconfiam que, pelo andar da carruagem, podem ter feito a escolha errada e que o andor é pesado demais. Para complicar a vida do candidato, ele terá que atravessar um deserto enorme e esperar por agosto, quando começará o programa televisivo.

Lula disse, ao comentar as pesquisas, que o jogo ainda vai ser jogado. Essa é sempre uma conversa de quem está em nítida desvantagem, ao menos momentaneamente.

Indagado sobre a pesquisa, Serra comentou: “interessante”. O candidato não poderia ir mais longe.

Pitacos é livre para dizer que, mais do que interessante, é indicadora de que, finalmente, os tucanos assumem uma estratégia que tem tudo para ser vitoriosa na Batalha de São Paulo.

FONTE: BLOG PITACOS

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