• Construtora pagou R$ 1,2 mi a ex-ministro para tentar evitar atrasos em pagamentos do governo venezuelano
• Serviço de lobby no exterior é a principal explicação de empresas para repasses feitos à consultoria de petista
Graciliano Rocha – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - No segundo semestre de 2011, o dono da Consilux Tecnologia, Aldo Vendramin, bateu à porta do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu para se aproximar do então presidente Hugo Chávez (1954-2013) e tentar evitar os recorrentes atrasos de pagamento do governo venezuelano.
Com sede em Curitiba, a empresa ganhou contratos e aditivos de US$ 416 milhões para construir casas populares na Venezuela.
Entre 2011 e 2013, a Consilux pagou R$ 1,22 milhão para o petista desatar o nó.
"O José Dirceu me levou três vezes para conversar com o Chávez pessoalmente e depois disso o dinheiro começou a sair mais rápido", disse.
"Antes, o governo levava seis, oito meses para pagar cada medição de obra. Depois que o Dirceu entrou no circuito, caiu pra dois meses."
À época do lobby pela Consilux, o petista era réu da ação penal do mensalão.
"Algumas pessoas vieram me questionar por causa dos problemas judiciais dele. Mas, com um sucesso que ele teve lá, você contrataria outro?", justifica Vendramin.
A influência de Dirceu para abrir portas em governos de esquerda da América Latina foi a principal explicação de empreiteiras, empresas farmacêuticas e de bebidas para pagamentos à JD Assessoria e Consultoria Ltda.
Entre 2006 e 2013, a empresa do petista faturou R$ 29,3 milhões, segundo a Receita.
As atividades de Dirceu entraram no radar da Operação Lava Jato por suspeitas de que pagamentos à JD seriam, na verdade, propina paga por empreiteiras citadas no esquema de corrupção da Petrobras.
A Jamp Engenheiros Associados Ltda., que tem como sócio Milton Pascowitch, apontado como operador de propina na Petrobras, pagou R$ 1,45 milhão em 2011 e 2012 à consultoria de Dirceu.
Em depoimento que faz parte de acordo de delação premiada, o ex-vice-presidente da Engevix, Gerson Almada, disse que Pascowitch arrecadava a propina com a empreiteira e a repassava ao então diretor da Petrobras Renato Duque e ao tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.
Ao citar Dirceu, contudo, Almada afirmou que o ex-ministro foi realmente contratado pela Engevix para prospectar negócios no exterior.
Em nota, José Dirceu disse ter prospectado negócios para seus clientes no exterior e negou ter tratado de assuntos relacionados à Petrobras.
No caso da Jamp, o ex-ministro diz que o contrato foi para prospecções no Peru e em Cuba, a serviço da Engevix. A Folha procurou a Jamp, mas não obteve resposta aos pedidos de entrevistas.
Colaborou Lucas Ferraz, de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário