• Em visita a assentamento, presidente recebeu apoio do movimento sem-terra
Flávio Ilha* – O Globo
ELDORADO DO SUL (RS) - A presidente Dilma Rousseff indicou ontem que condiciona uma eventual reforma ministerial à aprovação das medidas do ajuste fiscal no Congresso, que considerou "fundamental e imprescindível". Em um evento com agricultores familiares no Rio Grande do Sul, ela fugiu das perguntas sobre troca de ministros, mas não negou essa possibilidade como havia feito anteontem.
- Eu não vou falar dessa questão (da reforma ministerial), eu vou primeiro tratar da questão do Orçamento - disse a presidente, em entrevista, referindo-se ao contingenciamento dos gastos após a aprovação do Orçamento para 2015 no Congresso.
Apesar da defesa enfática do corte nas contas públicos, a presidente teve que ouvir críticas do coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile. Ele aproveitou a presença de Dilma no assentamento Lanceiros Negros, em Eldorado do Sul, na Região Metropolitana de Porto Alegre, para atacar o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e incentivar Dilma a se aproximar dos movimentos sociais. Num discurso de 25 minutos, quase a mesma duração do de Dilma, Stédile afirmou que nenhum ministro deve "se sentir superior ao povo" e recomendou humildade.
- Ser mais humilde não é para ir para o céu, é para ouvir o povo, as nossas organizações, para saber onde tem problema. Por que o seu Levy não vem discutir conosco? Não é só cortar e cortar. Podemos baixar a taxa de juros. Chame o povo para baixar a taxa de juros - discursou.
MST programa novas manifestações
O líder dos Sem-Terra também criticou o que chamou de "classe média reacionária" que foi às ruas no dia 15 de março para protestar contra o governo. Segundo Stédile, a proposta de impeachment é "golpe, crime constitucional". Stédile anunciou uma nova onda de manifestações a favor do governo para o próximo dia 7 de abril.
- Por que querem derrubar a Dilma, que é quase uma santa? Vocês acham que a Dilma cometeu algum crime? Querem é dar um golpe nos programas sociais. A classe média não aceita assinar carteira de empregada doméstica, nem ver filho de agricultor na universidade. Não é contra o governo, é contra os pobres - disse Stédile. - Companheira Dilma, não se assuste. Deixe o (Miguel) Rossetto cuidando do Palácio e venha para as ruas, onde vamos derrotar a direita e seu plano diabólico.
Dilma participou da abertura da colheita de arroz orgânico de uma cooperativa. Na plateia, havia cerca de 3 mil militantes, a maioria do MST e da Via Campesina. Ela usou um chapéu de colono e discursou criticando a oposição. Classificou quem torce contra o sucesso do governo como "pescadores de águas turvas". E defendeu as medidas de ajuste fiscal mesmo diante das críticas de Stédile.
Na entrevista coletiva após a cerimônia, Dilma disse que não concordava em tudo com Stédile, mas que respeitava suas "sugestões".
- Ele tem a concepção dele, eu tenho a minha. A concepção de um movimento é uma, a de um governo é outra - disse. - É absolutamente democrática a crítica dele. Agora, entre ser democrática e a gente aceitar, há uma pequena distância. (* Especial para O Globo)
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