- O Estado de S. Paulo
Fora os candidatos, seus padrinhos e apadrinhados, quase ninguém está preocupado com a eleição municipal. O desdém é ainda maior do que em anos anteriores. A causa é a desilusão com os políticos e com a própria política. Isso fica claro na recente pesquisa do Datafolha em São Paulo, mas vale para outras capitais. Em Curitiba, o Ibope registrou o mesmo grau de distanciamento do eleitor em relação às candidaturas. No que isso vai dar? Em surpresas e sustos.
Interceptados na rua pelos pesquisadores do Datafolha, nada menos do que 83% dos paulistanos foram incapazes de dizer, por conta própria, o nome de um candidato a prefeito que estará na urna eletrônica daqui a dois meses e duas semanas. Faltam 76 dias para votarem, mas só 16% têm um nome na ponta da língua. O resto não sabe responder, cita nomes de políticos que não são candidatos ou diz que vai anular ou votar em branco. A grande maioria só consegue escolher um postulante depois de ser informado pelo pesquisador de quais são as opções.
Não é sempre assim? O desinteresse e a desinformação sempre foram altos, mas nunca tão altos. Em julho de 2012, ou seja, faltando tanto quanto falta hoje para a eleição, o principal grupo de eleitores sem candidato era do mesmo tamanho que hoje. Os mesmos 61% não sabiam responder espontaneamente ao Datafolha em quem votariam para prefeito. A grande diferença este ano é a taxa de branco e nulo: de 8% quatro anos atrás, pulou para 18% agora, na pesquisa espontânea. Quando o eleitor souber quem são os candidatos esse porcentual vai cair, certo? Errado.
Nos cenários estimulados, quando são confrontados com listas de nomes de possíveis candidatos, a taxa de branco e nulo aumenta em vez de diminuir. Vai a 20%. O eleitor não está nada satisfeito com o atual prefeito (só 14% acham a gestão de Fernando Haddad, do PT, ótima ou boa), mas tampouco se empolga com as alternativas – seja porque não gosta delas, seja porque não sabe muito bem quem são elas.
Os potenciais de voto dos candidatos paulistanos auferidos pelo Datafolha são de dar dó. Com exceção do líder Celso Russomanno (PRB), todos os outros nomes cogitados até agora provocaram a resposta “não votaria de jeito nenhum” na maioria do eleitorado. Dos 52% de Marta Suplicy (PMDB) aos 77% de Marco Feliciano (PSC), passando por 56% de Luiza Erundina (PSOL), 58% de Andrea Matarazzo (PSD), 65% de João Doria (PSDB) e 69% de Haddad.
Isso quer dizer que Russomanno, com apenas 38% de “não votaria de jeito nenhum” e 47% de “votaria com certeza” ou “poderia votar”, já está eleito? Não. Por pelo menos três motivos:
1) Apenas 4% dos eleitores citam seu nome espontaneamente. É menos do que os que citam Haddad de cabeça (6%). Isso significa que Russomanno tem um voto muito pouco consolidado. Seu eleitor já se mostrou volátil quatro anos atrás, quando ele liderou até a reta final e acabou fora do segundo turno na última hora.
2) Seu tempo de TV é ridiculamente menor do que os de Doria e Haddad. Em uma eleição curta e sem doações empresariais, a TV (e a propaganda negativa via redes sociais e WhatsApp) ainda manda.
3) Russomanno corre sério risco de ter sua candidatura impugnada pela Justiça. Tanto é assim que nem conseguiu convencer partidos de peso a se coligarem à sua chapa.
Em resumo, a eleição para prefeito de São Paulo – e provavelmente em muitas outras metrópoles brasileiras – será uma disputa entre candidatos rejeitados ou desconhecidos pela maioria da população, que farão uma campanha curta, com 40 dias de duração, sem a abundância de recursos de pleitos passados, e que enfrentarão o descaso e o desinteresse do eleitor.
O resultado? Uma eleição que será decidida na última hora e na qual o único favorito deve ser um forfait. Nunca uma eleição se pareceu tanto com corrida de cavalos.
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