• Presidente da Câmara ameaça excluir da Mesa Diretora 2ª maior bancada da Casa se não obtiver apoio dos petistas, que pleiteiam 1ª-secretaria
Igor Gadelha e Isadora Peron | O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ameaça repetir o que fez o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) em 2015 e formar um “blocão” de partidos da base aliada para tentar isolar o PT na disputa interna da Casa, caso o partido não apoie sua recondução ao cargo. Se o bloco for formado e Maia, eleito, os petistas ficariam mais um biênio sem postos na Mesa Diretora.
Para apoiar a reeleição de Maia, o PT pediu o direito de indicar o próximo primeiro-secretário da Câmara, espécie de prefeito, que cuida do orçamento da Casa. Dona da segunda maior bancada, com 57 deputados, a sigla alega que, pela proporcionalidade, tem direito ao cargo, o segundo mais cobiçado da Mesa, sem contar a presidência. O mais desejado é a 1.ª-vice-presidência, que caberá ao PMDB, maior partido da Câmara, com 64 parlamentares.
“Nossa reivindicação, que não é uma reivindicação, é o que temos direito”, afirmou ao Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, o novo líder do PT, Carlos Zarattini (SP). “Quem nos deu a segunda maior bancada foi o povo. Esses partidos têm que entender isso.”
Maia, no entanto, usa a 1.ª-secretaria para tentar atrair o apoio de partidos do Centrão – grupo de 13 siglas da base aliada, entre eles PP, PR, PSD e PTB, e que tem dois candidatos a presidente da Câmara. O parlamentar fluminense ofereceu o posto em sua chapa ao PR, legenda que comanda a quinta maior bancada da Casa, com 40 deputados. Aos petistas, o presidente da Câmara ofereceu a 2.ª ou a 3.ª-secretaria.
Em um aceno ao PT, o líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), que vai lançar hoje a sua candidatura à presidência da Casa, criticou a estratégia de Maia e disse que a sua chapa será a da proporcionalidade. Segundo o deputado, se ele for eleito, vai respeitar o tamanho das bancadas. “Os lugares que existem na Mesa já são destinados aos partidos políticos.”
Para ele, seria “injusto” com os partidos ficarem sem os cargos na Mesa, já que as regras internas da Câmara preveem que a ordem de indicação para os cargos deve respeitar a proporcionalidade do tamanho das bancadas. “Esses cargos não são meus, são da Casa. Não vou ter esse tipo de comportamento”, afirmou Jovair.
Divisão. Apesar de Maia ser de um partido da base do governo do presidente Michel Temer e ter sido um dos principais apoiadores do impeachment de Dilma Rousseff, uma parcela da bancada do PT trabalha para que o apoio ao deputado do DEM aconteça já no primeiro turno, para garantir que o partido não fique de fora da composição da direção desta vez.
Mas há petistas que defendem, no primeiro turno da disputa, o apoio do partido a uma candidatura de oposição, hoje representada pelo deputado André Figueiredo (PDT-CE).
Uma ala minoritária trabalha ainda pelo nome de Jovair, porque ele tem prometido respeitar a regra da proporcionalidade. O apoio, porém, é considerado praticamente “impossível”, porque o líder do PTB foi o relator do processo de impeachment na Câmara. A bancada petista vai se reunir no dia 17 para tentar chegar a um consenso.
Se o PT decidir não apoiar Maia, ele pretende formar o blocão para isolar os petistas da Mesa Diretora e da presidência das comissões. Pelas regras da Câmara, a ordem de indicação para os cargos deve respeitar a proporcionalidade do tamanho das bancadas. No entanto, com a formação do bloco, o grupo passa a contar como um partido e a ter preferência sobre as legendas com menos integrantes. Se o candidato do bloco for vencedor, a divisão dos cargos é feita entre os integrantes do grupo.
"Golpe". "Se os partidos que apoiam o Rodrigo querem dar o segundo golpe e excluir o PT da Mesa, tudo bem. Eles têm força para isso. Mas isso vai ter consequências lá na frente", reagiu Zarattini. Sem especificar as "consequências", o líder disse que a crise que o parlamento viverá, com muitos parlamentares investigados pela Operação Lava Jato, exige uma Mesa Diretora com representatividade e força política.
Na eleição para presidência da Câmara de 2015, Cunha também formou um "blocão" de 14 partidos para isolar o PT. Naquela disputa, os petistas lançaram candidatura própria, com o deputado Arlindo Chinaglia (SP), que já tinha sido presidente da Casa entre 2007 e 2008. O parlamentar paulista, porém, acabou derrotado pelo hoje deputado cassado, e o PT ficou sem nenhum cargo na Mesa Diretora.
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