O Brasil, que já poupava pouco, passou a poupar ainda menos nos últimos anos. A fatia da renda do país não destinada ao consumo, que beirou os 20% na década passada, hoje está mais próxima dos 15%.
Tal patamar encontra-se entre os mais baixos do mundo emergente. Na recordista China, a taxa supera os 40%; na Índia, são 30%. A Rússia economiza cerca de um quarto de seu PIB. Os latino-americanos Chile e México, um quinto.
Números nacionais como esses sofrem influência decisiva do desempenho dos governos. E o nosso, como é notório, gasta muito além de sua capacidade. Também quando se examina o comportamento privado, entretanto, os brasileiros parecem preferir a satisfação presente à segurança futura.
Conforme noticiou esta Folha, pesquisa do Banco Mundial apontou que apenas 28% da população declara ter guardado algum dinheiro nos últimos 12 meses, o 14º percentual mais baixo em um grupo de 143 países. O índice cai a 4% quando se investiga o cuidado de fazer reservas para a velhice.
Poupamos menos que países de renda semelhante ou inferior. Quando considerados apenas os 60% mais ricos da população, as respostas pouco se alteram.
Fatores históricos e culturais explicam parte das diferenças encontradas no levantamento. Latino-americanos, por exemplo, têm propensão ao consumo superior à de povos do leste asiático, como japoneses, coreanos e tailandeses.
Há que levar em conta, porém, escolhas políticas e econômicas. No caso do Brasil, a opção por uma rede de seguridade social ampla demais para países emergentes e particularmente generosa nos benefícios previdenciários.
Um estudo publicado em 2015 pelo Insper concluiu que famílias com renda de até 20 salários mínimos —algo como 90% dos domicílios do país— e 35 anos de contribuição ao INSS e ao FGTS conseguem manter seu padrão de vida após a aposentadoria, sem necessidade de reserva adicional.
Seja qual for o peso de cada motivo, os efeitos nocivos da baixa taxa nacional de poupança são incontestes. Faltam recursos públicos e privados para investimentos, o que se reflete numa infraestrutura deficiente que obstrui o crescimento econômico.
A mesma escassez, além disso, alimenta os juros —que correspondem ao preço do dinheiro e obedecem às leis da demanda e da oferta— cobrados pelos credores do governo.
Longe de ser uma panaceia, a reforma da Previdência é o passo mais imediato para enfrentar o problema, ao menos pelo lado das finanças públicas. A longo prazo, as decisões das famílias dependerão de estabilidade institucional, educação financeira e expansão sustentada da renda.
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