- O Estado de S.Paulo
O ministro da Economia, Paulo Guedes parece ter exagerado nos argumentos de que a economia estava voando antes da economia
O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil nos três primeiros meses do ano, divulgado nesta sexta-feira, 29, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que a economia brasileira nem de longe estava “decolando” antes da pandemia do coronavírus.
Sem surpresas, o instituto informou que a economia brasileira encolheu 1,5% no primeiro trimestre de 2020 em comparação ao quarto trimestre do ano passado com cerca de um sexto do período afetado pelos efeitos da paralisação das atividades da pandemia no Brasil, a partir da segunda quinzena de março.
Como reconhece a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia, em documento divulgado nesta sexta-feira para comentar o PIB, a economia apresentava “sinais” de retomada, após dados fracos de atividade no último trimestre de 2019. Eram, portanto, sinais ainda não consolidados, com os meses de janeiro e fevereiro marcados por “bons” resultados nos indicadores de arrecadação, mercado de trabalho e atividade. Nada excepcional a comemorar.
O ponto mais negativo foi a queda do consumo das famílias de 2% em relação ao quarto trimestre do ano passado – a primeira diminuição desde o último trimestre de 2016 e a maior retração desde 2001. Do lado positivo, a alta de 3,1% dos investimentos (FBCF), explicado pela SPE pela melhora que ocorreu nos meses de janeiro e fevereiro deste ano.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, parece ter exagerado nos argumentos de que a economia estava voando antes da economia. Consumo estava melhorando, e com queda de juros, parecia que ia continuar nessa toada positiva. Mas a economia ainda não tinha decolado da forma como o ministro fala. Muitos entraves a serem resolvidos e dificuldades da equipe econômica em emplacar a sua agenda depois da reforma da Previdência.
Por praxe, ministros da economia têm que ser otimistas. Vender bem o seu peixe. No caso de Guedes, há também outra explicação. O desempenho fraco da atividade no último trimestre do ano passado já havia colocado pressão do Palácio do Planalto para a equipe de Guedes mostrar resultados.
Retomada lenta incomodava o presidente e o seu círculo de auxiliares mais próximos. A pandemia só amplificou esse debate, como já mostrado no episódio da disputa em torno do programa Pró-Brasil, para ampliar o investimento público em infraestrutura.
Quadro que tende a piorar com o impacto da pandemia mais forte no mercado de trabalho, diante do fracasso, em alguns casos, e da demora das linhas de crédito de socorro para as empresas.
Tudo isso deve acentuar a tensão entre Bolsonaro e governadores por reabertura mais rápida da economia, como já está acontecendo em muitos Estados. Mal feita, essa abertura pode atrasar ainda mais a recuperação da economia depois do tombo assustador do PIB que está contratado e por vir.
Guedes tem dito que a economia vai crescer em “V” depois da pandemia e que gosta da imagem do pássaro ferido, que quer começar a voar e precisa das duas asas de novo. Vai precisar muito mais que palavras estimulativas desse tipo para coordenar o processo de recuperação com a responsabilidade que o cargo impõe.
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