Boicote de anunciantes sob pressão de movimentos sociais surge da falta de avaliação dos conteúdos
Mark Zuckerberg, criador e dono do Facebook, luta em várias frentes para se defender de movimentos regulatórios que avançam na Europa, tendem a crescer nos Estados Unidos, e agora enfrenta um boicote de anunciantes, tudo devido à falta de princípios com que vem administrando uma das maiores redes sociais do planeta, robustecida pelo Instagram e pelo WhatsApp, adquiridos posteriormente por ele. Nos últimos dias o jovem empresário acumula dissabores contabilizados em bilhões de dólares, com a decisão de grandes anunciantes de deixarem de veicular publicidade pelo Face.
Marcas como Coca-Cola, Ford, Starbucks, Adidas, Microsoft, entre outras, começaram a aderir ao movimento #StopHateForProfit (algo como: Pare de obter lucros com o ódio), deflagrado contra o Face, na esteira da mobilização que tomou conta dos Estados Unidos e extravasou para outros países, com o assassinato do negro George Floyd, em Minneapolis, por um policial branco. As ações do Facebook caíram, alguns bilhões de dólares viraram fumaça no patrimônio de Zuckerberg, mas nada que prenuncie a debacle da rede. Seus 100 maiores anunciantes (US$ 4,2 bilhões pagos ao Face no ano passado) respondem por apenas 6% do faturamento da empresa, que tem 70% da receita vindos de pequenos negócios.
A posição é sólida, mas não convém permitir tamanho dano de imagem, com grande poder de corrosão. A primeira reação de Zuckerberg, em vídeo-conferência com representantes de grandes anunciantes na terça-feira da semana passada, foi arrogante. Não haveria recuo do Facebook na política de não barrar conteúdos de ordem racista e similares ou qualquer outro. Não ter retirado mensagens de Trump com fake news e estímulo à violência, na época do assassinato de Floyd, ao contrário do Twitter e outras plataformas, criou tensões entre Mark, sua equipe e funcionários da empresa.
Mas nesta semana executivos de Zuckerberg têm adotado um tom conciliador em reuniões com grandes clientes, reconhecendo motivos para sua preocupação, diante de certo tipo de conteúdo que transita pela rede. Enquanto isso, segundo “The New York Times”, chegavam, no início da semana, a 300 os anunciantes que haviam deixado de veicular na rede. A empresa alega investir bilhões de dólares em tecnologia que pode ajudar neste gerenciamento, e cita como exemplo de boa-fé o banimento do Face e do Instagram de 250 organizações de supremacistas brancos. Mas sua credibilidade está baixa.
Por ironia, Zuckerberg, ao ser pressionado a avaliar o conteúdo que trafega na sua rede, é levado a atuar como um editor do jornalismo profissional, que ele demonstra desprezar. É missão do jornalismo checar a veracidade das informações e filtrar mensagens que contrariam bons padrões éticos, entre outros cuidados. Não pode reclamar de boicotes e da atenção de órgãos reguladores.
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