O Estado de S. Paulo
Mais do que das outras vezes, a avaliação
do desempenho do PIB está marcada por ênfases antagônicas. A dos que acentuam a
visão pelo retrovisor, do crescimento de 2,9% em 2022 em relação a 2021, e a
dos que se apegarão ao que se vê pelo para-brisa – ou o que vem agora com a
retração de 0,2% no quarto trimestre sobre o trimestre anterior.
O PIB de 2022 ficou longe do crescimento em “V”, com o qual contava o então ministro da Economia Paulo Guedes. Refletiria vigorosa retomada da economia iniciada em 2022, depois da prostração marcada pela pandemia. Ficou abaixo até mesmo das projeções mais atualizadas.
O fato mais relevante foi a freada brusca
do PIB no quarto trimestre de 2022. Essa desaceleração se deu não apenas pelo
esgotamento da recuperação do setor de serviços – estrangulado no primeiro ano
de pandemia –, mas, também, pela alta dos juros e pelas incertezas que cercaram
o processo eleitoral.
Quem olha para a frente sente que 2023
enfrentará crescimento fraco, em torno de 0,2% ou, até mesmo, de nova retração.
Pesam nessa avaliação a brecada nos Estados
Unidos e na Europa acionada pela alta dos juros, que provavelmente não será
compensada pela recuperação da China; a inflação ainda forte aqui no Brasil,
que impede a derrubada dos juros; o enfraquecimento do crédito que se seguiu ao
escândalo da Americanas; e a ainda baixa confiança induzida pela confusa
administração fiscal do governo Lula.
A perspectiva de mau desempenho da
atividade econômica neste ano no Brasil aumenta a aflição do PT, que pretende
ampliar a legitimação (apoio) do governo por meio da satisfação a ser produzida
com mais emprego e queda da inflação. É o que explica a súbita e insistente
busca de bodes expiatórios, especialmente na política monetária exercida pelo
Banco Central e o que o PT entende por obsessão por derrubar o déficit público.
A indústria continua com desempenho pífio.
Avançou 1,6% em 2022, mas sua participação no PIB é de apenas 23% ante os 68%
do setor de serviços.
Também tiveram desempenho insatisfatório o
volume poupado, de apenas 15,9% do PIB, contra os 17,4% de 2021; e o
investimento (Formação Bruta de Capital Fixo), de apenas 18,8% do PIB. Para
garantir avanço de 3% ao ano é necessário investimento de 22% do PIB.
Falta saber como o governo lidará com a
conjuntura desfavorável. Até agora, a área política fez mais barulho e mais
pressão por aumento de despesas e intervenção direta na economia, num momento
em que a oposição no Congresso começa a se organizar. E para a armação dessa
equação terá enorme importância a qualidade da política fiscal exercida pelo
governo.
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