O Globo
Depois da tragédia do antagonismo que
vivemos com a divisão, e separação, nas famílias, nos amigos, nos colegas de
trabalho, sinto que a Terra voltou a ser redonda e que estamos voltando,
lentamente, ao modo back to
basics: educação, civilidade, respeito — não só às instituições
democráticas, à Constituição e às leis, mas principalmente ao outro, seja quem
for o outro.
Amar o próximo como a si mesmo é um exagero cristão psicanaliticamente inalcançável, mas respeitá-lo como a si próprio não é tão difícil assim (chama-se civilização), embora muita gente não se respeite, esculhambando seu corpo, suas ideias, sua vida e tentando esculhambar a dos outros. Qual a graça de criticar e reprimir comportamentos e atitudes que em nada afetam a sua vida, ou da comunidade? Então qual é o problema de duas mulheres se beijando no bar, de homens de mãos dadas, de um grupo de jovens fumando um baseado ? Como eles interferem na sua felicidade? Me sinto um idiota escrevendo coisas tão óbvias há tanto tempo, e só um período de regressão como o que vivemos explica tanta resistência, e ódio, ao império da razão.
Agora vejo que passamos por um processo de
destruição da razão, como método, para tornar um boçal um mito e estabelecer
uma linguagem tosca e grosseira em que verdade e mentira se confundem, em nome
do slogan salazarista Deus, Pátria e Família. Só que a família é assunto
privado, Deus, cada um tem o seu, e alguns, nenhum, e Pátria não é o Estado
oprimindo, controlando e explorando o cidadão que paga impostos para
sustentá-lo.
Quanto a Bolsonaro, entendo que o reverso
do amor não é o ódio e o rancor — mas o desprezo e o esquecimento.
Busões negreiros
Que estupidez, ou forças satânicas, levam
uma vinícola rica e poderosa do Rio Grande do Sul a importar mão de obra
barata, e preta certamente, da Bahia, para trabalhar no frio, em uma cultura
que não conhecem? Os gaúchos já não querem trabalhar por salários tão baixos em
condições tão duras, os uruguaios, nem pensar, mas só um racismo estrutural e
perverso explica os busões-negreiros Salvador-Bento Gonçalves. Os catarinas e
os paranaenses lourinhos estão mais próximos e também precisam trabalhar...
Economizariam no transporte da carga, (mal) paga, mas sempre escrava.
Com Tim, Tom e Elis em Paris
Muito feliz por ser o homenageado do 25º
Festival do Cinema Brasileiro em Paris, de 3 a 10 de abril, no histórico Cinema
Arlequin, com a exibição do lindo “Elis e Tom”, de Roberto Oliveira, de que fui
roteirista, do filme de Mauro Lima baseado em meu livro “O som e a fúria de Tim
Maia”, e principalmente de três episódios da série sobre Tim que codirigi com
Renato Terra para o Globoplay, em tela grande e com som nas caixas.
O pessoal que está fazendo as legendas em
francês está penando com o vocabulário de Tim:
Comment traduire “baurétte”? “Esquentá-suvacô”
? “Melá-cuecá”?
Voilá! “Le son et la furie de Tim Maia” por
épater Paris.
3 comentários:
Perfeito! Que bom ler um texto tão claro e bem escrito! Parabéns ao colunista e ao blog que nos mostra seu trabalho!
Nelson Mota é uma piada, das boas, e musicada!
Elis e Tom,não vi e já gostei.
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