Por Bernardo Mello, Jan Niklas e Marcelo Remigio / O Globo
Partidos convivem com disputas internas e
divergências com aliados
Divisões internas do PT, partido do
presidente Lula, e do PL, sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro, vêm gerando
obstáculos para o planejamento dos dois partidos em avançar em prefeituras no
estado do Rio em 2024. Bolsonaro, que estabeleceu a meta do eleger “mil
prefeitos” pelo país, vê aliados travarem uma queda de braço com o governador
Cláudio Castro (PL), que sinaliza espaço a aliados de outras siglas. No PT,
divergências envolvendo a aliança com o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), e
na sucessão em Maricá, principal reduto petista no estado, criaram impasses nos
rumos da sigla.
Lula sinalizou desde o segundo turno de
2022 uma aliança em prol da reeleição de Paes, movimento defendido pelo
deputado federal Washington Quaquá (PT), vice nacional do partido, que tem se
colocado como candidato à prefeitura de Maricá. Já a ala mais à esquerda,
encabeçada no Rio pelo deputado Lindbergh Farias, critica Paes e defende
internamente uma aliança com o PSOL.
Quaquá também prega a formação de um
“cinturão petista” em municípios próximos a Maricá, como Niterói, São Gonçalo,
Itaboraí e Cabo Frio. O PT também busca atrair prefeitos de outras siglas, como
a prefeita de Japeri, Dra. Fernanda (PDT).
A ofensiva, porém, desagrada o PDT, que integra a base de Lula. Em Niterói, onde o ex-prefeito Rodrigo Neves e seu sucessor, Axel Grael, debatem quem encabeçará a chapa pedetista, uma candidatura do PT pode gerar impasse na presença de Lula em qualquer um dos palanques — o que tende a beneficiar a chapa bolsonarista, que deve ser encabeçada pelo deputado Carlos Jordy (PL).
Em meio às caneladas com petistas, o PDT
também passou a articular uma candidatura em São Gonçalo, onde o PT também terá
candidato, e avalia disputar espaço na chapa de Paes. Neves também trocou
acenos recentemente com o deputado estadual Renato Machado (PT), adversário de
Quaquá e que deseja ser candidato em Maricá.
— Quem tudo quer pode ficar sem nada. O PDT
defende a construção de alianças sem hegemonismo — diz Neves.
Guerra nos bastidores
A escalada de uma guerra de bastidores
entre Quaquá e Machado levou o atual prefeito de Maricá, Fabiano Horta (PT), a
intervir para apaziguar os ânimos. Após uma reunião com Horta na semana
passada, Quaquá acenou com bandeira branca para Machado e tratou o atual
prefeito como “líder estadual” do partido. Machado corroborou o cessar-fogo,
deixando a decisão sobre candidaturas a cargo de Horta. Um eventual racha em
Maricá pode abrir flanco à candidatura do bolsonarista Filippe Poubel (PL).
— Vou me colocar à disposição do Fabiano
(Horta) para ser o que ele quiser que eu seja — disse Machado.
Em abril, a Executiva Nacional do PT se
reunirá para definir a relação de cidades de interesse do partido, além das
capitais. A estratégia no Rio prevê candidaturas em cidades com mais de 100 mil
eleitores e o lançamento de deputados federais e estaduais com forte apelo na
disputa pelas prefeituras. Entre eles estão, além de Quaquá em Maricá, sua
ex-mulher e deputada estadual Zeidan em Itaboraí; o deputado estadual
Andrezinho Ceciliano em Paracambi, e a deputada estadual Carla Machado, em São
João da Barra, cidade da Região Norte que já governou.
No PL, o entrevero entre o governador
Cláudio Castro e o presidente estadual do partido, Altineu Côrtes, foi
momentaneamente contornado através do empoderamento de um terceiro personagem:
o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), lançado por Valdemar Costa Neto, presidente
do PL e aliado de Altineu, como candidato da sigla à prefeitura do Rio. O
movimento interdita, por ora, as articulações de Castro para lançar na capital
um aliado de outro partido, Dr. Luizinho (PP).
Valdemar, por outro lado, também assegurou
a Castro que o governador terá voz na definição de candidatos. Castro deve
privilegiar alianças com aliados de fora do PL em colégios eleitorais
importantes, como Duque de Caxias e Campos dos Goytacazes.
— Um governador tem os aliados políticos
nos outros municípios e tem que equilibrar o jogo. Mas ele com certeza vai saber
construir e dialogar com o PL, para continuar fazendo este partido o maior
possível — disse Altineu durante evento partidário.
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