domingo, 26 de março de 2023

Rachas no PT e PL do Rio travam planos na corrida por prefeituras

Por Bernardo Mello, Jan Niklas e Marcelo Remigio / O Globo

Partidos convivem com disputas internas e divergências com aliados

Divisões internas do PT, partido do presidente Lula, e do PL, sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro, vêm gerando obstáculos para o planejamento dos dois partidos em avançar em prefeituras no estado do Rio em 2024. Bolsonaro, que estabeleceu a meta do eleger “mil prefeitos” pelo país, vê aliados travarem uma queda de braço com o governador Cláudio Castro (PL), que sinaliza espaço a aliados de outras siglas. No PT, divergências envolvendo a aliança com o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), e na sucessão em Maricá, principal reduto petista no estado, criaram impasses nos rumos da sigla.

Lula sinalizou desde o segundo turno de 2022 uma aliança em prol da reeleição de Paes, movimento defendido pelo deputado federal Washington Quaquá (PT), vice nacional do partido, que tem se colocado como candidato à prefeitura de Maricá. Já a ala mais à esquerda, encabeçada no Rio pelo deputado Lindbergh Farias, critica Paes e defende internamente uma aliança com o PSOL.

Quaquá também prega a formação de um “cinturão petista” em municípios próximos a Maricá, como Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Cabo Frio. O PT também busca atrair prefeitos de outras siglas, como a prefeita de Japeri, Dra. Fernanda (PDT).

A ofensiva, porém, desagrada o PDT, que integra a base de Lula. Em Niterói, onde o ex-prefeito Rodrigo Neves e seu sucessor, Axel Grael, debatem quem encabeçará a chapa pedetista, uma candidatura do PT pode gerar impasse na presença de Lula em qualquer um dos palanques — o que tende a beneficiar a chapa bolsonarista, que deve ser encabeçada pelo deputado Carlos Jordy (PL).

Em meio às caneladas com petistas, o PDT também passou a articular uma candidatura em São Gonçalo, onde o PT também terá candidato, e avalia disputar espaço na chapa de Paes. Neves também trocou acenos recentemente com o deputado estadual Renato Machado (PT), adversário de Quaquá e que deseja ser candidato em Maricá.

— Quem tudo quer pode ficar sem nada. O PDT defende a construção de alianças sem hegemonismo — diz Neves.

Guerra nos bastidores

A escalada de uma guerra de bastidores entre Quaquá e Machado levou o atual prefeito de Maricá, Fabiano Horta (PT), a intervir para apaziguar os ânimos. Após uma reunião com Horta na semana passada, Quaquá acenou com bandeira branca para Machado e tratou o atual prefeito como “líder estadual” do partido. Machado corroborou o cessar-fogo, deixando a decisão sobre candidaturas a cargo de Horta. Um eventual racha em Maricá pode abrir flanco à candidatura do bolsonarista Filippe Poubel (PL).

— Vou me colocar à disposição do Fabiano (Horta) para ser o que ele quiser que eu seja — disse Machado.

Em abril, a Executiva Nacional do PT se reunirá para definir a relação de cidades de interesse do partido, além das capitais. A estratégia no Rio prevê candidaturas em cidades com mais de 100 mil eleitores e o lançamento de deputados federais e estaduais com forte apelo na disputa pelas prefeituras. Entre eles estão, além de Quaquá em Maricá, sua ex-mulher e deputada estadual Zeidan em Itaboraí; o deputado estadual Andrezinho Ceciliano em Paracambi, e a deputada estadual Carla Machado, em São João da Barra, cidade da Região Norte que já governou.

No PL, o entrevero entre o governador Cláudio Castro e o presidente estadual do partido, Altineu Côrtes, foi momentaneamente contornado através do empoderamento de um terceiro personagem: o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), lançado por Valdemar Costa Neto, presidente do PL e aliado de Altineu, como candidato da sigla à prefeitura do Rio. O movimento interdita, por ora, as articulações de Castro para lançar na capital um aliado de outro partido, Dr. Luizinho (PP).

Valdemar, por outro lado, também assegurou a Castro que o governador terá voz na definição de candidatos. Castro deve privilegiar alianças com aliados de fora do PL em colégios eleitorais importantes, como Duque de Caxias e Campos dos Goytacazes.

— Um governador tem os aliados políticos nos outros municípios e tem que equilibrar o jogo. Mas ele com certeza vai saber construir e dialogar com o PL, para continuar fazendo este partido o maior possível — disse Altineu durante evento partidário.

 

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