domingo, 26 de março de 2023

Em crise, PSDB teme novo esvaziamento nas eleições municipais

Por Bernardo Mello / O Globo

No Rio, partido está acéfalo e, em SP, tucanos são assediados por Republicanos e PSD. Novo presidente tentará reanimar bases

Com desempenho eleitoral em queda nas suas últimas três disputas e dificuldade para forjar novas lideranças em capitais e grandes cidades, o PSDB teme um novo esvaziamento nas eleições municipais de 2024. Já antevendo o possível baque no número de prefeituras, mas de olho em estancar a sangria, o partido antecipou a passagem do comando nacional para o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e aguarda o início de viagens do novo presidente da sigla pelo país na tentativa de reanimar as bases.

Um dos motivos da apreensão para 2024 é o impacto da perda do governo de São Paulo, estado que foi pilotado por tucanos nas últimas três décadas. Em 2020, na gestão de João Doria (PSDB), o partido elegeu 172 prefeitos no estado, o equivalente a um terço de todas as prefeituras tucanas no país e mantendo o patamar de eleições anteriores, em contraste com o recuo nacional. Agora, sem a máquina administrativa , o PSDB vê partidos como o Republicanos, do governador Tarcísio de Freitas, e o PSD, do secretário de Governo Gilberto Kassab, tentarem atrair prefeitos tucanos.

Lideranças do PSDB em diferentes estados consideram natural a movimentação da gestão Tarcísio pelo espólio tucano, e lembram que o partido perdeu de forma inesperada sua principal figura política em São Paulo: o ex-prefeito Bruno Covas, que morreu em 2021. Doria se desfiliou do PSDB meses após desistir de concorrer à Presidência em 2022, e seu sucessor, Rodrigo Garcia, derrotado no primeiro turno, está em temporada sabática nos Estados Unidos.

Sem uma liderança clara em seu principal reduto eleitoral, o PSDB paulista aposta na capacidade de Leite de mobilizar bases municipais — as mesmas usadas por Doria para prevalecer nas prévias tucanas em 2022 contra o governador.

— Contamos com nosso legado em São Paulo e a marca de gestões inovadoras dos nossos três atuais governadores (Rio Grande do Sul, Pernambuco e Mato Grosso do Sul). Leite sem dúvida será fundamental nesse processo, agregando exemplo de gestão e na articulação política — disse o presidente do PSDB paulista, Marco Vinholi.

Mudança de geração

Caciques tucanos argumentam que Leite representa uma “passagem de bastão geracional” necessária no PSDB, que busca oxigenar lideranças. Na quarta-feira, ele reuniu-se em Brasília com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e com o vice-prefeito de Fortaleza, Élcio Batista, recém-filiado à sigla. Colocado por Tasso na linha de frente do partido no Ceará, após ter se desfiliado do PSB, Batista tratou o encontro como a busca por “construir a renovação do PSDB no país”.

— É importante ser bem-sucedido em 2024, deixando para trás as lutas fratricidas que fizeram o partido desidratar. Leite unifica o partido e compreendemos suas responsabilidades no governo estadual, mas também entendemos a importância de ele rodar o país — avaliou o vice-governador tucano do Espírito Santo, Ricardo Ferraço.

Também passarão por Leite a composição de diretórios estaduais como o do Rio, acéfalo após a saída do ex-deputado Rodrigo Maia e seu pai, o vereador Cesar Maia, depois do fracasso nas eleições de 2022 — a sigla não elegeu parlamentares no estado. O prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD), e o governador Cláudio Castro (PL), ambos com diálogo com Leite, miram possível filiação de aliados na sigla.

O PSDB formou uma federação com o Cidadania e debate aliança com o Podemos, que incorporou o PSC. A hipótese, contudo, não está pacificada. De olho numa aproximação com o MDB, Leite acena com apoio em 2024 ao prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo. A ideia de caciques é que o partido amplie suas alianças de olho numa candidatura de Leite a presidente em 2026.

Em Minas Gerais, o diretório discute a candidatura do deputado estadual João Leite (PSDB) à prefeitura de Belo Horizonte ou o apoio ao atual prefeito Fuad Noman (PSD).

Situações nos estados

Rio de Janeiro: O diretório estadual está acéfalo desde fevereiro, quando expirou o mandato do ex-deputado Rodrigo Maia. O prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD) e o governador Cláudio Castro (PL) articulam para ter o PSDB como “partido satélite”, acomodando aliados.

São Paulo: Aliados do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) trabalham para atrair prefeitos tucanos. Derrotado em sua tentativa de reeleição, o ex-governador Rodrigo Garcia (PSDB) está nos EUA e só deve retornar no segundo semestre.

Minas Gerais: O PSDB avalia a candidatura de João Leite à prefeitura de Belo Horizonte, mas mantém diálogo com o atual prefeito Fuad Noman (PSD).

Espírito Santo: O partido emplacou o vice-governador Ricardo Ferraço, mas lideranças se consideram desprestigiadas pelo governador Renato Casagrande (PSB). Ele deve apoiar um nome do PT à prefeitura de Vitória em 2024.

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