Por Bernardo Mello / O Globo
No Rio, partido está acéfalo e, em SP,
tucanos são assediados por Republicanos e PSD. Novo presidente tentará reanimar
bases
Com desempenho eleitoral em queda nas suas
últimas três disputas e dificuldade para forjar novas lideranças em capitais e
grandes cidades, o PSDB teme um novo esvaziamento nas eleições municipais de
2024. Já antevendo o possível baque no número de prefeituras, mas de olho em
estancar a sangria, o partido antecipou a passagem do comando nacional para o
governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e aguarda o início de viagens
do novo presidente da sigla pelo país na tentativa de reanimar as bases.
Um dos motivos da apreensão para 2024 é o
impacto da perda do governo de São Paulo, estado que foi pilotado por tucanos
nas últimas três décadas. Em 2020, na gestão de João Doria (PSDB), o partido
elegeu 172 prefeitos no estado, o equivalente a um terço de todas as
prefeituras tucanas no país e mantendo o patamar de eleições anteriores, em
contraste com o recuo nacional. Agora, sem a máquina administrativa , o PSDB vê
partidos como o Republicanos, do governador Tarcísio de Freitas, e o PSD, do
secretário de Governo Gilberto Kassab, tentarem atrair prefeitos tucanos.
Lideranças do PSDB em diferentes estados
consideram natural a movimentação da gestão Tarcísio pelo espólio tucano, e
lembram que o partido perdeu de forma inesperada sua principal figura política
em São Paulo: o ex-prefeito Bruno Covas, que morreu em 2021. Doria se desfiliou
do PSDB meses após desistir de concorrer à Presidência em 2022, e seu sucessor,
Rodrigo Garcia, derrotado no primeiro turno, está em temporada sabática nos
Estados Unidos.
Sem uma liderança clara em seu principal reduto eleitoral, o PSDB paulista aposta na capacidade de Leite de mobilizar bases municipais — as mesmas usadas por Doria para prevalecer nas prévias tucanas em 2022 contra o governador.
— Contamos com nosso legado em São Paulo e
a marca de gestões inovadoras dos nossos três atuais governadores (Rio Grande
do Sul, Pernambuco e Mato Grosso do Sul). Leite sem dúvida será fundamental
nesse processo, agregando exemplo de gestão e na articulação política — disse o
presidente do PSDB paulista, Marco Vinholi.
Mudança de geração
Caciques tucanos argumentam que Leite
representa uma “passagem de bastão geracional” necessária no PSDB, que busca
oxigenar lideranças. Na quarta-feira, ele reuniu-se em Brasília com o senador
Tasso Jereissati (PSDB-CE) e com o vice-prefeito de Fortaleza, Élcio Batista,
recém-filiado à sigla. Colocado por Tasso na linha de frente do partido no
Ceará, após ter se desfiliado do PSB, Batista tratou o encontro como a busca
por “construir a renovação do PSDB no país”.
— É importante ser bem-sucedido em 2024,
deixando para trás as lutas fratricidas que fizeram o partido desidratar. Leite
unifica o partido e compreendemos suas responsabilidades no governo estadual,
mas também entendemos a importância de ele rodar o país — avaliou o
vice-governador tucano do Espírito Santo, Ricardo Ferraço.
Também passarão por Leite a composição de
diretórios estaduais como o do Rio, acéfalo após a saída do ex-deputado Rodrigo
Maia e seu pai, o vereador Cesar Maia, depois do fracasso nas eleições de 2022
— a sigla não elegeu parlamentares no estado. O prefeito da capital, Eduardo
Paes (PSD), e o governador Cláudio Castro (PL), ambos com diálogo com Leite,
miram possível filiação de aliados na sigla.
O PSDB formou uma federação com o Cidadania
e debate aliança com o Podemos, que incorporou o PSC. A hipótese, contudo, não
está pacificada. De olho numa aproximação com o MDB, Leite acena com apoio em
2024 ao prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo. A ideia de caciques é que o
partido amplie suas alianças de olho numa candidatura de Leite a presidente em
2026.
Em Minas Gerais, o diretório discute a
candidatura do deputado estadual João Leite (PSDB) à prefeitura de Belo
Horizonte ou o apoio ao atual prefeito Fuad Noman (PSD).
Situações nos estados
Rio de Janeiro: O diretório estadual
está acéfalo desde fevereiro, quando expirou o mandato do ex-deputado Rodrigo
Maia. O prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD) e o governador Cláudio Castro
(PL) articulam para ter o PSDB como “partido satélite”, acomodando aliados.
São Paulo: Aliados do governador
Tarcísio de Freitas (Republicanos) trabalham para atrair prefeitos tucanos.
Derrotado em sua tentativa de reeleição, o ex-governador Rodrigo Garcia (PSDB)
está nos EUA e só deve retornar no segundo semestre.
Minas Gerais: O PSDB avalia a
candidatura de João Leite à prefeitura de Belo Horizonte, mas mantém diálogo
com o atual prefeito Fuad Noman (PSD).
Espírito Santo: O partido emplacou o vice-governador Ricardo Ferraço, mas lideranças se consideram desprestigiadas pelo governador Renato Casagrande (PSB). Ele deve apoiar um nome do PT à prefeitura de Vitória em 2024.
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