O Globo
Kassio Nunes Marques pode até ceder à
enorme pressão a que é submetido e pedir vista do processo que, cedo ou tarde,
levará o Tribunal Superior Eleitoral a declarar Jair Bolsonaro inelegível. A
sobrevida que isso pode dar ao ex-presidente não se traduzirá, no entendimento
de expoentes da própria direita, em grandes manifestações de apoio a ele nas
ruas ou em possibilidade de reverter um placar estimado em 6 x 1 ou, no máximo,
5 x 2 pela perda de seus direitos políticos.
A ação no TSE, uma de 16 que questionam a
conduta de Bolsonaro ao longo do processo eleitoral, é apenas o início da
confrontação do capitão com seu legado de ataque sistemático às instituições e
à democracia, abuso do cargo para buscar a reeleição e condução criminosa
durante a pandemia de Covid-19, todas elas frentes com potencial de lhe causar
danos sérios.
Até no bolso. Bolsonaro achou que poderia simplesmente deixar de pagar as multas que recebeu por sucessivamente afrontar as normas que determinavam o uso de máscara em São Paulo no auge da emergência sanitária. Aparecer com o rosto descoberto, de preferência jogando perdigotos em incautos, fazia parte do negacionismo bolsonarista e de sua maneira de medir forças com o então governador João Doria, na época ainda um potencial rival.
Pois a conta chegou e já passa dos R$ 400
mil, com bloqueio de valores de quem achou que seria uma eterna galhofa uma
tragédia que ceifou a vida de mais de 700 mil brasileiros por quem ele tinha o
dever constitucional de zelar como presidente da República. Bolsonaro pareceu
preocupado? Que nada. Deu um jeito de incluir as decisões da Justiça paulista
nos temas que se prestam a piadas de tiozão e ameaçou pendurar o prejuízo na
conta do PL.
No julgamento do TSE, talvez seja mais
difícil tirar uma onda. Daí porque a estratégia do mesmo Bolsonaro seja, agora,
se vitimizar. Depois de ter a audácia de convocar embaixadores do mundo todo a
uma reunião oficial no Palácio da Alvorada para disparar mentiras a respeito do
sistema eletrônico de votação, ele agora alega que não era candidato na época
(ora, por que então usou o cargo e o palácio para tratar de tema única e
exclusivamente eleitoral?) e que o processo corre célere para prejudicá-lo.
Daí vem a cobrança sobre Nunes Marques, que
deve a Bolsonaro sua indicação ao Supremo Tribunal Federal. Colegas do TSE e
políticos que conhecem o ministro há tempos se dividem quanto a sua disposição
de prestar esse favor ao ex-presidente.
Os que acreditam que ele deixará o julgamento
seguir argumentam que seria inócuo o pedido de vista para o resultado e que
seria um custo alto demais a pagar em termos de desgaste entre os pares das
duas Casas. Quem aposta na providência terrena lembra justamente o milagre que
foi para Nunes Marques chegar a uma indicação para a maior Corte do país
estando, como estava, fora do radar de toda a comunidade jurídica nacional.
Nas conversas de bastidores, não há da
parte de aliados do PL, do PP e do Republicanos, partidos que concentram os
bolsonaristas, uma comoção genuína para a decisão, que pode vir agora ou lá na
frente.
Muitos dos que defendem o ex-presidente
diante das câmeras e em postagens nas redes sociais acreditam que, ao retirá-lo
da disputa política, o TSE presta, de certa forma, um favor à direita, pois
permite a escalação de um nome mais palatável para 2026 sem que haja
necessidade de algum afilhado romper com o padrinho para disputar. Herdar os
eleitores órfãos de Bolsonaro sem precisar mover um dedo para tirá-lo do jogo é
o que os partidos que encheram os cofres à custa do capitão poderiam esperar de
melhor.
Um comentário:
Ave Maria!
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