O Globo
Crescimento mais forte mostra que ruído
provocado pelo presidente Lula em relação ao Banco Central foi desnecessário
O forte crescimento do PIB nos dois primeiros trimestres do ano mostra que a economia brasileira resistiu aos juros altos praticados pelo Banco Central. A política monetária, na verdade, tem efeitos defasados, por isso, a expectativa é de que o aperto da Selic seja sentido com mais intensidade no segundo semestre, justamente o período em que o BC estará reduzindo a Selic. De todo modo, tudo indica que o país conseguiu o que os economistas chamam de “pouso suave”, quando a inflação cai com o menor custo possível para crescimento econômico. Os dados divulgados ontem pelo IBGE indicam que o ruído provocado pelo presidente Lula em relação ao Banco Central foi desnecessário. Ao mesmo tempo em que Lula ameaçava subir a meta de inflação, para supostamente permitir a queda dos juros — o que não aconteceria — a economia vinha rodando em alta velocidade no início do seu mandato.
Os erros do mercado
Desde 2021, o mercado financeiro vem
subestimando o crescimento do país em suas projeções. Isso aconteceu novamente
no segundo trimestre. A mediana para o PIB estava em 0,3%, e o resultado foi
0,9%. Como mostra o gráfico, as estimativas do Focus em janeiro de cada ano têm
ficado muito abaixo dos números finais. Há duas principais suspeitas para o
desvio das projeções: primeiro, as reformas econômicas dos últimos anos podem
estar tendo um efeito mais benéfico do que o esperado. E, segundo, os modelos
da Faria Lima podem ter ficados “descalibrados” com as mudanças provocadas pela
pandemia. De um jeito ou de outro, é preciso que o mercado passe a limpo as
próprias planilhas para diminuir o erro das estimativas.
Teste do arcabouço
O governo Lula sancionou o arcabouço fiscal
esta semana e enviou o primeiro orçamento sob as novas regras. O modelo passará
por um grande teste já no primeiro ano de vigência. Por isso, é de extrema
importância que a equipe econômica mantenha a meta de déficit primário zero
para 2024. Caso não consiga atingir o número esperado, o arcabouço prevê uma
série de gatilhos automáticos para conter o crescimento dos gastos nos anos
seguintes, como proibição de reajustes acima da inflação de despesas
obrigatórias e, em caso de reincidência, congelamento de salários de
servidores. Ver essas medidas em ação será crucial para a credibilidade da nova
âncora fiscal.
Risco dos EUA
A reunião de banqueiros centrais de Jackson
Hole, nos EUA, foi dominada pelo risco fiscal americano. As projeções mostram
déficit nominal no país em torno de 6% nos próximos anos, o que impede o
mercado de enxergar a estabilização da dívida, hoje em torno de 120% do PIB.
Não à toa, a agência Fitch rebaixou a nota do governo dos EUA. Para o mundo,
essa percepção é um baita problema, porque aumentará o que os investidores
chamam de “aversão ao risco”, afetando países emergentes como o Brasil.
Brasil tem ‘know how’
A dúvida, no simpósio americano, era se
esse risco fiscal deveria ser cada vez mais “verbalizado” pelos banqueiros
centrais. Por um lado, isso faz sentido, pelo impacto que o gasto público
provoca na inflação. Por outro, pode ser visto como interferência em assuntos
que cabem ao Tesouro. O Brasil, que sabe bem o que é inflação em alta por conta
de despesas públicas elevadas, tem muito a ensinar sobre o tema.
Desaceleração
Os dados do payroll divulgados ontem pelo Fed impulsionaram as bolsas. O crescimento de vagas formais nos EUA ficou em 187 mil em agosto, abaixo do esperado. Isso diminui o risco de novas altas dos juros por lá, o que favorece investimentos em renda variável.
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