Minha geração já achou um salto incrível termos, aos 36, 40 anos, os tijolões da Nokia ou da Ericsson, que nos livraram da telefonia fixa. Mas a ruptura definitiva veio em 2007, com Steve Jobs e sua Apple, que nos apresentaram a revolução dos iPhones. Uma estação móvel pessoal multifuncional.
E de nada adianta resistir às mudanças, numa
postura saudosista ou mesmo reacionária, numa utopia regressiva e idílica, como
se os tempos sem celular fossem qualitativamente melhores que o mundo de hoje.
Não foram melhores, nem piores, foram diferentes. A cada tempo seus desafios,
esperanças e riscos, suas oportunidades e ameaças.
Pertenço à geração da transição, que
naturalmente tropeça na ignorância sobre o uso pleno das novas tecnologias e
passa por momentos de estranhamento e inadaptação. Por exemplo, no meu novo
trabalho, para me apresentar à equipe, num gesto gentil, distribuí CDs de meu
parceiro musical, onde cometia algumas letras. Quase todos são jovens. Não é
que semanas se passaram e, com a intimidade conquistada, vários confessaram não
ter como ouvir. Caiu a ficha, CD é coisa do século XX. Viva os streamings!
Na política, não foram as redes sociais e a
internet que criaram o clima radicalmente polarizado. O caso Elon Musk versus
STF acendeu, uma vez mais, a fogueira dessa discussão. As redes podem
intensificar e ampliar a guerra fraticida entre bolhas rivais. Mas são apenas
ferramenta, estrada, canal. E podem potencializar coisas boas também.
Nenhuma tecnologia carrega, em si, valores
morais intrínsecos. O uso ético ou antiético de determinado invento depende dos
seres humanos que o usam. A consciência crítica e valoração moral residem nos
atores que manipulam as inovações. Muitos assistiram ao filme ganhador do
Oscar, “Oppenheimer”, sobre a história da criação da bomba atômica. Eu
completei assistindo “Einstein e a bomba”. A teoria da relatividade
revolucionou o conhecimento humano. Sem dúvida, abriu a porta para a bomba
atômica ao relacionar matéria, energia, espaço e tempo. Mas daí culpar Einstein
por Hiroshima e Nagasaki, vai uma grande distância. Ou culpar Santos Dumont
pelo uso de aviões em bombardeios.
Assim deve ser com as redes sociais. Deve
haver controle social e democrático para coibir difusão de práticas e valores
condenados por nossa Constituição: racismo, xenofobia, preconceito de gênero,
promoção da violência, conspiração contra a democracia e suas instituições,
dentro do espírito do paradoxo da liberdade do pensador liberal Karl Popper.
Nada de censura e oprimir opiniões divergentes, apenas combater os excessos. E
o canal tecnológico é neutro. Portanto, a receita principal, mais uma vez, é educação,
educação, educação de qualidade.
Os conteúdos presentes em nossas redes são um
espelho fiel da qualidade das relações humanas e do nível educacional e
cultural em nossa sociedade.
*Economista e Professor. Ex-Deputado Federal
pelo PSDB-MG. Secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais (2003-2010).
Diretor-Executivo do IFI – Instituição Fiscal Independente do Senado.
Um comentário:
Exatamente.
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