sábado, 13 de julho de 2024

Eduardo Affonso - A idade da razão

O Globo

Aos 81 anos, candidato favorito à derrota, não satisfeito com o apagão no debate, ele dobrou a meta e chamou Zelensky de Putin

Quando teve de renunciar ao cargo de presidente da Universidade Harvard — pela tibieza no enfrentamento dos casos de antissemitismo e sob acusações de plágio —, a economista Claudine Gay alegou ser vítima de racismo.

— A história ainda dirá quanto de violência contra a mulher, quanto de preconceito contra a mulher tem nesse processo de impeachment golpista — sofismou Dilma Rousseff pouco depois da cassação de seu mandato, por crime de responsabilidade.

Claudine tinha 53 anos na ocasião da renúncia; Dilma, 68 quando do afastamento. Com alguns anos ou quilos a mais, poderiam ter se declarado vítimas de etarismo ou gordofobia. Tivessem passado por transição de gênero, certamente a carta da transfobia teria sido sacada. E desperdiçaram, ambas, a da xenofobia: Claudine é filha de haitianos; o pai de Dilma era búlgaro. Valia tudo, menos admitir uma gestão desastrosa.

Os pretextos do racismo e da misoginia continuam campeões absolutos quando a questão é desviar o foco das críticas, mas o etarismo (quando a memória falhar, pode substituir por ageísmo, velhofobia ou gerontofobia) tem demonstrado surpreendente vitalidade.

O principal responsável por essa arrancada é Joe Biden. Aos 81 anos, candidato favorito à derrota nas próximas eleições americanas, não satisfeito com o apagão no debate de 27 de junho, Biden dobrou a meta e chamou Zelensky de Putin, citou Donald Trump quando queria se referir a Kamala Harris e afirmou ter orgulho de ser a primeira mulher negra a servir como presidente. Só que nada disso tem a ver com idade, mas com senilidade.

Fernando Gabeira tem 83 anos. Roberto Freire, 82. Ambos esbanjam lucidez — na imprensa, na televisão, nas redes sociais. Gil, Caetano e Paul McCartney — todos mais velhos que Biden — têm turnês programadas para 2024. Estão esgotados os ingressos para ouvir Fernanda Montenegro — 94 anos — na temporada paulistana da leitura dramática que faz da obra de Simone de Beauvoir.

“Juventude de espírito eu não quero, acho muito ridículo a alma fazendo trejeitos. Já viu mangueira velha? É assim que eu quero”, escreveu Adélia Prado — 88 anos, preparando um novo livro e fazendo sucesso no Instagram. E Biden não é o único que não se conforma em dar sombra quando for incapaz de produzir frutos.

— Quem achar que o Lulinha está cansado, pergunte pra Janja. Ela é testemunha ocular. Quando falo que tenho 70 anos de idade, energia de 30 e tesão de 20, estou falando com conhecimento de causa — discursou Lula, mentindo a idade (tem 78) e galgando o pódio dos políticos que precisam bravatear publicamente a virilidade (é masculinidade frágil que chama?) como atestado médico.

Figueiredo posou de sunga. Collor se vangloriou da cor da bolsa escrotal. Bolsonaro tentou exorcizar o fantasma da disfunção erétil e da homoafetividade. Tudo para afetar potência, macheza, juventude.

O vigor que Adélia, Fernanda, Gabeira, Freire, Gil, Caetano e McCartney precisam ter para lotar arenas e teatros, encantar leitores e estimular o debate é intelectual, não de alcova. É o mesmo que se espera de um governante — além de serenidade para aceitar quando o declínio cognitivo se torna incapacitante e a honestidade de não lançar mão de etarismo, racismo, misoginia etc. como cortina de fumaça ao se sentir vulnerável.


3 comentários:

Anônimo disse...

O debate revelou um truque que estava sendo guardada sete chaves a incapacidade cognitiva acidade do presidente Bayley
Agora estão querendo correr atrás do prejuízo mas Biden insiste e fala que quer ser presidente
O Trump fica assistindo ao bate cabeça dos democratas, esperando a hora de entrar na casa Branca

Anônimo disse...

Não devemos subestimar a estupidez humana

Daniel disse...

Trump espera a hora de entrar na SUA CELA como CRIMINOSO PRISIONEIRO!