terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Uma égua passeia no Piranhão - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Se Eduardo Paes conseguir implantar 10% do programa de ordenamento, o Rio será refundado

Outro dia uma égua desfilou pelas ruas internas do Centro Administrativo São Sebastião, sede do governo municipal conhecido popularmente como Piranhão. Com aparência saudável e cheia de garbo, o animal divertiu servidores e usuários dos serviços da prefeitura. Alguém sugeriu que ela buscava informações sobre o "choque de civilidade" que Eduardo Paes pretende implantar no Rio em seu quarto mandato.

Um dos focos do ordenamento será orientar os motociclistas para que não trafeguem na contramão e não usem calçadas como atalho. Também deveria valer para as éguas —por que não?— ou para os três porquinhos que circulavam em São Cristóvão. Como na fábula, eles pareciam buscar uma residência em boas condições de fabricação e uso no antigo bairro imperial, que hoje integra o projeto Porto Maravilha de novas moradias.

Em maior número (cerca de 34 milhões no país inteiro), as motos são barulhentas e bandalheiras, mas não se deve esquecer as bicicletas elétricas que, apontadas como solução para a mobilidade urbana, engrossam o caldo do caos, igualmente trafegando na contramão e nas calçadas. Ainda há a febre das patinetes elétricas, cujos condutores são capazes de promover pegas na avenida Brasil.

Se a prefeitura conseguir 10% de seu objetivo, a cidade será outra. Adeus, estacionar em área proibida, furar o sinal vermelho, brincadeiras com armas de gel, pedestres cruzando trilhos à frente do VLT, alto-falantes de kombis decrépitas apregoando ovos e linguiças e serviço de ferro-velho, caixinhas e caixões de som urrando funk, samba e louvores nas praias. Haja câmeras para registrar tantos flagrantes, a guarda municipal não dará vazão.

Os mais de 8.000 bares do Rio —estatística oficial que desconhece tendinhas, biroscas e barraquinhas— serão alvos de fiscalização por excesso de barulho e mesas tomando as ruas. Mas nada traduz melhor o momento de informalidade total do que o incêndio no Camelódromo da rua Uruguaiana, condenado desde 2019 pelo Corpo de Bombeiros e que estava em pleno funcionamento.

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