Folha de S. Paulo
Se Eduardo Paes conseguir implantar 10% do
programa de ordenamento, o Rio será refundado
Outro dia uma égua desfilou pelas ruas
internas do Centro Administrativo São Sebastião, sede do governo municipal
conhecido popularmente como Piranhão. Com aparência saudável e cheia de garbo,
o animal divertiu servidores e usuários dos serviços da prefeitura. Alguém
sugeriu que ela buscava informações sobre o "choque de civilidade"
que Eduardo Paes pretende implantar no Rio em seu quarto mandato.
Um dos focos do ordenamento será orientar os motociclistas para que não
trafeguem na contramão e não usem calçadas como atalho. Também deveria valer
para as éguas —por que não?— ou para os três porquinhos que circulavam em São
Cristóvão. Como na fábula, eles pareciam buscar uma residência em boas
condições de fabricação e uso no antigo bairro imperial, que hoje integra o
projeto Porto Maravilha de novas moradias.
Em maior número (cerca de 34 milhões no país
inteiro), as motos são barulhentas e bandalheiras, mas não se deve esquecer as
bicicletas elétricas que, apontadas como solução para a mobilidade urbana,
engrossam o caldo do caos, igualmente trafegando na contramão e nas calçadas.
Ainda há a febre das patinetes elétricas, cujos condutores são capazes de
promover pegas na avenida Brasil.
Se a prefeitura conseguir 10% de seu objetivo, a cidade será outra. Adeus,
estacionar em área proibida, furar o sinal vermelho, brincadeiras com armas de
gel, pedestres cruzando trilhos à frente do VLT, alto-falantes de kombis
decrépitas apregoando ovos e linguiças e serviço de ferro-velho, caixinhas e
caixões de som urrando funk, samba e louvores nas praias. Haja câmeras para
registrar tantos flagrantes, a guarda municipal não dará vazão.
Os mais de 8.000 bares do Rio —estatística oficial que desconhece
tendinhas, biroscas e barraquinhas— serão alvos de fiscalização por excesso de
barulho e mesas tomando as ruas. Mas nada traduz melhor o momento de
informalidade total do que o incêndio no Camelódromo da rua Uruguaiana,
condenado desde 2019 pelo Corpo de Bombeiros e que estava em pleno
funcionamento.
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