Correio Braziliense
A próxima reunião de ministros da Agricultura
da Celac 2025, que será realizada em Comayagua, Honduras, no início de
fevereiro, será uma oportunidade para consolidar esses compromissos e avançar
na implementação de políticas e ações que fortaleçam a segurança alimentar e
melhorem a nutrição na região.
A recente apresentação do relatório Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional 2024 evidencia uma realidade incontestável: a América Latina e o Caribe encontram-se em um ponto crítico na luta contra a fome e a má nutrição. Embora, nos últimos dois anos, a fome na região tenha diminuído —de 45,3 milhões de pessoas, em 2021, para 41 milhões em 2023—, o progresso é desigual e frágil. A situação entre sub-regiões é particularmente preocupante; um exemplo é o Caribe, onde a taxa de fome aumentou de 15,4% para 17,2%.
A pandemia de covid-19 deixou profundas
cicatrizes, exacerbando desigualdades estruturais e enfraquecendo os sistemas
de produção e distribuição de alimentos. Somam-se a isso os impactos
devastadores da variabilidade climática e dos eventos extremos, como secas,
tempestades e inundações, que atualmente afetam 74% dos países da região de
forma recorrente. Esses desafios persistentes não apenas reduzem a
produtividade agrícola, mas também encarecem os alimentos, limitam sua
disponibilidade e comprometem a estabilidade dos sistemas agroalimentares. Como
resultado, as populações mais vulneráveis acabam pagando o preço mais alto.
A segurança alimentar está intrinsecamente
ligada à resiliência climática. Para garantir um futuro sem fome, é essencial
promover práticas agrícolas sustentáveis que integrem alimentos nutritivos em
dietas saudáveis, melhorem a produtividade e, ao mesmo tempo, mitiguem os
impactos ambientais. Isso inclui o cultivo de variedades resilientes ao clima,
a adoção de tecnologias limpas e a proteção dos recursos naturais.
Paralelamente, os programas de proteção social garantem que a população tenha
acesso a alimentos nutritivos, especialmente em tempos de crise.
O processo de transformação na região, embora
ainda enfrente desafios, tem demonstrado nos últimos anos um forte compromisso
de trabalho conjunto para alcançar resultados mais sustentáveis e consistentes.
Há sinais concretos e encorajadores de que os
governos da América Latina e do Caribe têm colocado a luta contra a fome e a
pobreza como uma prioridade inadiável, uma necessidade que exige ações
concretas para garantir o desenvolvimento sustentável. A fome é incompatível
com a paz, o desenvolvimento, a produtividade e, evidentemente, a
sustentabilidade.
O Plano de Segurança Alimentar, Nutrição e
Erradicação da Fome da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos
(Plano SAN Celac 2030) é um marco importante e representa uma valiosa
plataforma para coordenar esforços, compartilhar conhecimentos e desenvolver
estratégias conjuntas. A próxima reunião de ministros da Agricultura da Celac
2025, que será realizada em Comayagua, Honduras, no início de fevereiro, será
uma oportunidade para consolidar esses compromissos e avançar na implementação
de políticas e ações que fortaleçam a segurança alimentar e melhorem a nutrição
na região.
No entanto, os esforços governamentais, por
si só, não são suficientes. É fundamental que sejam complementados pela
participação e contribuições de múltiplos setores. A luta contra a fome exige
uma abordagem integrada que leve em conta não apenas a disponibilidade de
alimentos, mas também sua acessibilidade, utilização e estabilidade em
contextos de mudanças. Uma ampla colaboração entre diferentes atores é, e
continuará sendo, essencial para construir sistemas agroalimentares mais
eficientes, inclusivos, resilientes e sustentáveis.
O processo da América Latina e do Caribe na
redução da fome atravessa um momento histórico, com implicações não apenas para
a região, mas para o mundo. A luta contra a fome tornou-se uma corrida contra o
tempo. No entanto, essa região tem demonstrado potencial para se tornar um
exemplo de resiliência, prosperidade e compromisso com os objetivos globais.
Sua contribuição é fundamental para garantir um futuro mais justo e sustentável
para todas e todos.
Como subdiretor-geral e representante
regional da FAO para a América Latina e o Caribe, tive o privilégio de fazer
parte desse caminho nos últimos anos. Porém, este trabalho não pertence a uma
única pessoa ou organização: é um esforço coletivo, uma oportunidade para que
cada um de nós contribua para um mundo sem desigualdades, sem fome, sem pobreza
— e que não deixe ninguém para trás.
*Subdiretor-geral e representante da FAO para a América Latina e o Caribe
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