O Globo
Pela primeira vez desde que voltou ao poder,
Lula faltou aos atos do Dia do Trabalhador. O presidente despontou como líder
operário, ajudou a fundar a CUT e comanda o maior partido de esquerda do país.
Ontem preferiu fugir do palanque do 1º de Maio.
Foi uma ausência estratégica. O petista temia
repetir o fiasco de 2024, quando discursou para menos de 2 mil pessoas.
Irritado, ele repreendeu o ministro Márcio Macêdo e disse que o ato teria sido
“mal convocado”. Pode ser, mas isso não explica tudo.
O sindicalismo vive uma crise estrutural, que reflete as mudanças no mundo do trabalho. As fábricas se esvaziaram por causa da automação e da concorrência com a China. Os trabalhadores se espalharam e perderam a fé nas lutas coletivas.
O fim do imposto sindical depenou os cofres
das centrais, que ficaram sem capacidade de mobilização. O quadro se completou
com o avanço do discurso individualista que demoniza a carteira assinada e
ilude trabalhadores com a ideia de que todos podem enriquecer por conta
própria.
O governo só entendeu o tamanho da encrenca
ao fracassar na tentativa de regular o mercado de aplicativos. Motoristas e
entregadores resistiram à proposta que poderia beneficiá-los. Em parte, por
acreditarem na propaganda que confunde precarização com empreendedorismo.
Se a ida de Lula ao 1º de Maio já balançava,
o escândalo do INSS a tornou uma operação de altíssimo risco. O caso trouxe à
tona um esquema de desvios bilionários de aposentadorias. O dinheiro foi sugado
por sindicatos picaretas em conluio com lobistas e servidores corruptos.
Ainda que os culpados sejam punidos
individualmente, a fraude tende a aumentar o ambiente de descrédito geral do
sindicalismo.
Depois de uma semana sem se manifestar, Lula
quebrou o silêncio no pronunciamento de quarta na TV. Em apenas 26 segundos,
exaltou a Polícia Federal e disse que o governo “desmontou” o esquema criminoso
iniciado na gestão passada. Faltou acrescentar que os descontos só aumentaram
em seu governo, sob as barbas do INSS e do Ministério da Previdência.
O Planalto quer estancar a crise, mas ainda
tem muitas explicações a dar. E a ausência do presidente no 1º de Maio não fará
o caso sumir de cena.
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