terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Por um pacifismo radical

Marcos Nobre
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

É PRECISO tomar posição nos conflitos no Oriente Médio. Mas qual? E, sobretudo, como? A única coisa de certo no momento é que Israel tem de ser obrigado a parar sua ofensiva militar. Se o objetivo for a guerra, basta tomar posição por um dos lados. Mas e se o objetivo for a paz, e não derrotar um inimigo?

Os ataques de Israel podem ser qualificados, sem medo de errar, de massacre. (Em vista das barbaridades perpetradas na história, no século 20 em particular, a expressão "genocídio" deveria ser utilizada com muito critério). Mas é fato também que o Hamas tem por objetivo a destruição de Israel, e não a convivência entre dois países soberanos. Há uma aliança perversa entre os que desejam aniquilar o outro dos dois lados, o que, na prática, garante uma guerra até o fim dos tempos.

É verdade que Israel saiu de Gaza. Mas estrangulou o governo local do Hamas em todos os sentidos, de modo que atacar Israel parece mais um último recurso desesperado. Como os ataques são frequentes dos dois lados, é difícil dizer quem atacou primeiro. Seja como for, com o ataque, Israel passou a ter então o legítimo direito de se defender. Mas, em lugar de se defender, aproveitou para lançar uma ofensiva.

Na situação atual, qualquer perspectiva de paz parece enterrada por um bom tempo. Israel passou décadas tentando influenciar a política palestina de maneira a fazer surgir um líder moderado e confiável. Quando finalmente conseguiu -com Mahmoud Abbas-, suas ações levaram à divisão da Palestina em duas e à desmoralização completa de Abbas.

Em um quadro como esse, a única maneira de resistir à guerra é defender um pacifismo radical, sem tomar posição prévia por nenhum lado. Toda e qualquer ação que tenha consequências bélicas deve ser condenada, independentemente de que lado venha.

Se Israel impede o funcionamento do governo do Hamas em Gaza, se o Hamas se nega a reconhecer o direito de existência a Israel, se Israel se recusa a reconhecer o governo do Hamas como legítimo, se o Hamas ataca militarmente Israel, em todos esses casos, ambos os lados devem ser condenados da mesma maneira.

Isso não significa dizer que há equilíbrio entre as forças. É patente a superioridade de Israel em termos de aparato estatal e de poderio militar. Um ato bélico praticado por Israel é certamente mais destrutivo do que um praticado pelo Hamas. Mas, em um estado de guerra, a pior ilusão é a de achar que a paz só pode ser buscada depois de alcançado um equilíbrio de forças. É o ingrediente mais poderoso para a continuidade da própria guerra.

Marcos Nobre escreve às terças-feiras nesta coluna.

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