À medida que se aproxima o momento de a oposição formalizar sua candidatura à Presidência da República, o presidente Luiz Inácio da Silva aumenta os cuidados e os agrados com o PMDB.
Nem parece mais aquele que disse e repetiu que o vice na chapa presidencial à sua sucessão seria escolhido pela candidata mediante exame de uma lista tríplice de pretendentes.
Tem coberto o PMDB de atenções e não é coincidência que isso seja feito duas semanas antes do anúncio oficial da candidatura José Serra.
A aliança entre os dois partidos está firme e até a ala que apoia os tucanos reconhece a dificuldade de impedir que a parceria oficial seja aprovada na convenção de junho.
Mesmo estando tudo certo, o casamento marcado, convites em vias de distribuição, na quinta-feira o presidente Lula anunciou uma nova rotina com o partido. Vai se reunir semanalmente com a cúpula do PMDB.
O motivo alegado para essas reuniões é a necessidade de discutir as alianças regionais entre os dois. Na verdade, só há pendências em cinco Estados (Minas, Bahia, Ceará, Pará e Mato Grosso do Sul), sendo que em dois ? Bahia e Pará, os candidatos pemedebistas aos governos não querem mais conversa com o PT.
Dos outros três, apenas Minas é considerado crucial. Mas dirigentes dos dois partidos dizem que a aliança não será abalada mesmo sem entendimento por lá.
Portanto, não há muito a ser discutido sobre o assunto em reuniões semanais com o presidente. O que Lula quer mesmo é manter o parceiro sob estreita vigilância a fim de impedir as investidas do adversário.
O PMDB, todos sabem, não é dos mais firmes adeptos da monogamia. Há focos oposicionistas aqui e ali ? o mais forte em São Paulo ? e o governo não vai se arriscar, deixando espaço aberto à disposição do PSDB. Ainda mais porque tucanos e a direção pemedebista já foram governo juntos e se dão bem.
Além da decisão de passar em revista o parceiro toda a semana, Lula fez agrados. Na mesma quinta-feita (anteontem) comunicou ao PMDB que pode continuar no controle dos seis ministérios que ocupa, mesmo com a saída dos ministros candidatos, em 2 de abril.
Dias antes o presidente já havia produzido música para ser tocada aos ouvidos do PMDB: o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, avisou que deixará o cargo para disputar uma vaga ao Senado por Goiás.
Meirelles é apontado como o predileto de Lula para ocupar a vaga de vice na chapa de Dilma, contrariando o PMDB, que já decidiu que o lugar é do presidente do partido, Michel Temer.
Ao anunciar disposição de concorrer ao Senado, o presidente do BC foi instrumento de uma nova reverência do Planalto com o PMDB.
Nesse caso, o partido prefere ver para crer. O fato de Meirelles se desincompatibilizar do posto no Banco Central dá a ele condição de disputar o Senado ou integrar a chapa como candidato a vice. Possibilidade, aliás, que o próprio tem considerado em conversas reservadas.
Hipótese que o PMDB hoje nem aceita cogitar. Meirelles seria o homem de Lula na vice e o PMDB não abre mão de ter um representante "de raiz" na divisão do poder de um governo que, se Dilma vencer, será um condomínio administrado pelos dois maiores partidos. E sem Lula para atrapalhar.
Pelo menos é isso que esperam PT e PMDB.
Torcida
Integrantes da direção nacional do PT com militância em São Paulo avaliam que o deputado Ciro Gomes está fazendo de tudo para não ser o candidato do partido ao governo de São Paulo: desqualifica moralmente a parceria com o PMDB, critica José Dirceu e faz reparos a Dilma Rousseff.
Time
Nessa toada, Aloizio Mercadante será o candidato ao governo e Marta Suplicy ao Senado. Disputando a outra vaga de senador em aliança com o PT o cantor e apresentador Netinho, do PC do B.
Há quem veja uma eleição dura para Marta. Pela rejeição da classe média para cima e pela presumida aceitação do cantor na periferia.
São duas as vagas, mas a outra deve ficar para a aliança PSDB-PMDB-DEM.
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Em artigo publicado ontem no Estado, o escritor cubano Carlos Alberto Montaner reproduz definição sobre o presidente Lula que ouviu de um presidente latino-americano.
É a seguinte: "Esse homem é de uma penosa fragilidade intelectual. Continua sendo um sindicalista preso à superstição da luta de classes. Não entende nenhum assunto complexo, carece de capacidade de fixar atenção, tem lacunas culturais terríveis e por isso aceita a análise dos marxistas radicais que lhe explicam a realidade como um combate entre bons e maus."
Segundo Montaner, o comentário foi feito a propósito da perda de confiança internacional provocada pelo alinhamento brasileiro a governos autoritários.
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