DEU EM O GLOBO
Popular e padrinho da candidata favorita, Lula ataca imprensa e oposição ao ver governo envolvido em denúncias
Carolina Benevides
A pouco mais de três meses de passar a faixa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria, pelo menos, dois grandes motivos para comemorar: altíssima popularidade e o favoritismo de sua candidata, Dilma Rousseff (PT), que tem chance de vencer no primeiro turno graças a isso, o que nem ele conseguiu.
Mesmo assim, Lula tem adotado um discurso raivoso nos palanques, com ataques à oposição e à imprensa diante das denúncias de tráfico de influência e corrupção no governo.
Cientista político e professor da USP, José Álvaro Moisés diz que o comportamento de Lula é estranho: Por que o presidente está raivoso, mesmo tendo tanto sucesso? Acredito que Lula não está familiarizado com a crítica e a contestação que existem numa democracia, que fazem parte de um mundo plural. Lula se diz ao lado da democracia, mas não consegue conviver com esses aspectos.
Para Moisés, o comportamento do presidente também reflete o receio de que o que a imprensa tem revelado possa afetar o resultado eleitoral.
No caso da Erenice (Guerra, exministra da Casa Civil), Lula a desqualificou dizendo que ela jogou fora a chance de ser uma grande funcionária pública. Mas o que houve no governo para permitir que ela perdesse essa chance? E a responsabilidade de Lula? Em diversos comícios recentemente, Lula atacou a imprensa Nós não precisamos de formadores de opinião. Nós somos a opinião pública e o DEM precisamos extirpar da política brasileira, e disse ainda que os veículos de comunicação têm que ter controle.
Na sexta-feira, diante da queda da vantagem de Dilma sobre seus adversários nas pesquisas, o presidente já moderou o tom, dizendo que a imprensa é muito importante para a democracia.
De acordo com Marly Silva da Motta, historiadora e pesquisadora do CPDoc da Fundação Getulio Vargas (FGV), é raro um governante chegar ao fim de dois mandatos sendo tão popular. Ao conseguir esse feito, segundo ela, Lula pode ter começado a achar que pode falar e também fazer qualquer coisa: Por conta da alta popularidade, acredito que ache que é hora de acertar as contas com algumas correntes políticas e com a imprensa, que historicamente sempre deu espaço a ele.
Se a disputa eleitoral estivesse acirrada, não sei se o presidente ia atirar para todos os lados. O que vejo é Lula fazendo acerto de contas, elegendo até políticos para derrotar como os senadores Agripino Maia (DEM) e Arthur Virgílio (PSDB).
Segundo Marly, ao ter como certa a vitória de Dilma na eleição, Lula perdeu o equilíbrio: Com a margem que Dilma tem, Lula passou a ficar pouco atento ao seu comportamento. Claro que pode desejar que o DEM desapareça, mas não é bom politicamente falar isso num palanque.
Para o cientista político Murillo de Aragão, o destempero de Lula é resultado do processo eleitoral.
Lula deve se achar injustiçado, e provavelmente acredita que a imprensa destaca aspectos negativos para tentar levar a eleição para o segundo turno. No episódio da ministra Erenice, ele teve uma reação que servia ao interesse eleitoral da acusação. Bastava ter dito que o caso era sério e que ia investigar.
Sobre a declaração de que o DEM precisa ser extirpado, Aragão diz que Lula, mesmo agindo como cabo eleitoral, deveria ter pensando antes de falar: Devia ter ponderado, especialmente porque já sabia que às vésperas da eleição não poderia se retratar.
Cientista político, Fábio Wanderley Reis diz que o destempero de Lula faz parte do processo eleitoral: Há certo exagero, mas, na reta final da campanha, é complicado separar a função de chefe de Estado da de líder partidário que quer eleger sua candidata.
Melhor seria que o tom fosse outro.
Popular e padrinho da candidata favorita, Lula ataca imprensa e oposição ao ver governo envolvido em denúncias
Carolina Benevides
A pouco mais de três meses de passar a faixa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria, pelo menos, dois grandes motivos para comemorar: altíssima popularidade e o favoritismo de sua candidata, Dilma Rousseff (PT), que tem chance de vencer no primeiro turno graças a isso, o que nem ele conseguiu.
Mesmo assim, Lula tem adotado um discurso raivoso nos palanques, com ataques à oposição e à imprensa diante das denúncias de tráfico de influência e corrupção no governo.
Cientista político e professor da USP, José Álvaro Moisés diz que o comportamento de Lula é estranho: Por que o presidente está raivoso, mesmo tendo tanto sucesso? Acredito que Lula não está familiarizado com a crítica e a contestação que existem numa democracia, que fazem parte de um mundo plural. Lula se diz ao lado da democracia, mas não consegue conviver com esses aspectos.
Para Moisés, o comportamento do presidente também reflete o receio de que o que a imprensa tem revelado possa afetar o resultado eleitoral.
No caso da Erenice (Guerra, exministra da Casa Civil), Lula a desqualificou dizendo que ela jogou fora a chance de ser uma grande funcionária pública. Mas o que houve no governo para permitir que ela perdesse essa chance? E a responsabilidade de Lula? Em diversos comícios recentemente, Lula atacou a imprensa Nós não precisamos de formadores de opinião. Nós somos a opinião pública e o DEM precisamos extirpar da política brasileira, e disse ainda que os veículos de comunicação têm que ter controle.
Na sexta-feira, diante da queda da vantagem de Dilma sobre seus adversários nas pesquisas, o presidente já moderou o tom, dizendo que a imprensa é muito importante para a democracia.
De acordo com Marly Silva da Motta, historiadora e pesquisadora do CPDoc da Fundação Getulio Vargas (FGV), é raro um governante chegar ao fim de dois mandatos sendo tão popular. Ao conseguir esse feito, segundo ela, Lula pode ter começado a achar que pode falar e também fazer qualquer coisa: Por conta da alta popularidade, acredito que ache que é hora de acertar as contas com algumas correntes políticas e com a imprensa, que historicamente sempre deu espaço a ele.
Se a disputa eleitoral estivesse acirrada, não sei se o presidente ia atirar para todos os lados. O que vejo é Lula fazendo acerto de contas, elegendo até políticos para derrotar como os senadores Agripino Maia (DEM) e Arthur Virgílio (PSDB).
Segundo Marly, ao ter como certa a vitória de Dilma na eleição, Lula perdeu o equilíbrio: Com a margem que Dilma tem, Lula passou a ficar pouco atento ao seu comportamento. Claro que pode desejar que o DEM desapareça, mas não é bom politicamente falar isso num palanque.
Para o cientista político Murillo de Aragão, o destempero de Lula é resultado do processo eleitoral.
Lula deve se achar injustiçado, e provavelmente acredita que a imprensa destaca aspectos negativos para tentar levar a eleição para o segundo turno. No episódio da ministra Erenice, ele teve uma reação que servia ao interesse eleitoral da acusação. Bastava ter dito que o caso era sério e que ia investigar.
Sobre a declaração de que o DEM precisa ser extirpado, Aragão diz que Lula, mesmo agindo como cabo eleitoral, deveria ter pensando antes de falar: Devia ter ponderado, especialmente porque já sabia que às vésperas da eleição não poderia se retratar.
Cientista político, Fábio Wanderley Reis diz que o destempero de Lula faz parte do processo eleitoral: Há certo exagero, mas, na reta final da campanha, é complicado separar a função de chefe de Estado da de líder partidário que quer eleger sua candidata.
Melhor seria que o tom fosse outro.
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