Novos envolvidos pela PF no mensalão, como o ministro Fernando Pimentel, ficarão fora da ação sobre o caso no STF. O procurador e o relator dizem não querer atrasar mais o processo.
As provas do mensalão e o relógio
Relatório final da PF não será incluído na ação do STF para não atrasar julgamento
Carolina Brígido
O relatório da Polícia Federal que descreve minuciosamente o caminho do dinheiro que teria abastecido o mensalão do PT não vai integrar a ação penal número 470, a principal frente de investigação do esquema que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) contra 38 réus. O documento da PF foi divulgado pela revista "Época". Por meio da assessoria de imprensa, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse que o relatório não vai constar do processo para não atrasar as investigações. Pelo mesmo motivo, o ministro Joaquim Barbosa, relator do caso, também não quer que o documento seja incluído na ação - que já está na reta final.
Segundo previsão de Barbosa, os 38 réus devem ser julgados em 2012. Assessores do ministro admitem que o relatório da PF tem muitas novas provas do uso de recursos públicos para abastecer o esquema coordenado por Marcos Valério. Mas, se o novo documento fosse inserido na ação, o julgamento teria de ser adiado, dando maior sobrevida aos investigados. Isso porque o relatório da PF menciona pessoas que não prestaram depoimento. A fase de depoimentos do processo do mensalão terminou no ano passado, e precisaria ser reaberta.
O mensalão, esquema de pagamento de propina a parlamentares em troca de apoio em votações no Congresso, é investigado em duas grandes vertentes no STF. Uma delas é a ação penal 470, a parte mais adiantada das investigações. Já foram colhidas provas e ouvidas testemunhas. Agora, começou a fase de alegações finais dos réus e do Ministério Público. O relatório de Joaquim Barbosa deve ficar pronto até o início de 2012. Depois, o ministro Ricardo Lewandowski, revisor da ação, fará um relatório. Caberá ao plenário do STF julgar os réus.
Pimentel aparece como beneficiário
Ao mesmo tempo, tramita no Supremo o inquérito 2474, elaborado com base no relatório da CPI dos Correios, do Congresso. Essa frente, que tramita em sigilo, traz provas mais robustas de que o esquema de fato existiu. É nessa investigação que está o relatório da PF. O documento está agora com o procurador-geral da República. Caberá a ele fazer uma ou mais denúncias contra as pessoas que aparecem na investigação - como o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, citado no relatório da PF como um dos beneficiários diretos do mensalão.
As novas denúncias serão submetidas ao plenário do STF em data ainda não definida. Se os ministros da Corte concordarem com o procurador, o inquérito será transformado em ação penal. Este processo será julgado bem depois da ação penal 470.
Joaquim Barbosa contesta a tese de que o crime de formação de quadrilha está prescrito para réus como José Dirceu e Delúbio Soares. A pessoas próximas, ele tem dito que é prematuro afirmar isso antes da análise detalhada do processo. Entre os réus da ação principal também estão Marcos Valério, suposto operador do esquema, o publicitário Duda Mendonça, o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), hoje presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, o ex-deputado José Genoino e o delator do esquema, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).
O novo relatório da PF confirma o pagamento de propina a deputados e o desvio de dinheiro público para custear campanhas. O documento revela que Freud Godoy, amigo e ex-segurança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, admitiu ter recebido dinheiro do esquema. Sobre a suposta participação de Pimentel, a PF identificou um pagamento, em 2004, de R$247 mil da SMP&B para o tesoureiro da campanha de Pimentel à prefeitura de Belo Horizonte. Pimentel disse que não falaria sobre o caso porque não conhece o relatório da PF.
FONTE: O GLOBO
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