Ao optar por candidatos biônicos e ao tentar intervir no julgamento do mensalão, o ex-presidente cria mais problemas para si mesmo
Nos meios políticos, o ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva desfruta uma certa aura de feiticeiro. Consagrado pela transformação da ministra Dilma Rousseff na nova presidente da República, ele mostrou que consegue ler no terreno da política sinais que poucos enxergam. Mas os fatos recentes mostram que, apesar de seu talento, Lula não é infalível. Seus movimentos recentes têm gerado, para ele mesmo e para seu partido, mais problemas que soluções.
O mero fato de ele ter mantido uma conversa reservada com o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), às vésperas do julgamento do escândalo do mensalão - marcado para o dia l2 de agosto - lança dúvida sobre sua motivação. No conflito de versões, talvez jamais seja possível saber o que foi dito no encontro. Mas uma figura do porte político de Lula não pode deixar dúvidas desse tipo pairar no ar. Todos teriam a ganhar se ele evitasse contato com os ministros - e deixasse o STF trabalhar em paz.
Outro revés começa a se desenhar na tentativa de repetir, nas eleições municipais, a estratégia que levou Dilma à Presidência. Em São Paulo e no Recife, Lula escolheu candidatos de modo autocrático, com base exclusivamente em sua imensa popularidade, principal garantia do controle absoluto que mantém sobre as decisões do Partido dos Trabalhadores (PT).
A escolha de Dilma, em 2010, respondia a um desfalque no elenco de estrelas do governo, atingidas pelo mensalão e suas sequelas. Em 2012, a situação é outra. Há candidatos naturais no PT. Não é o caso do ex-ministro Fernando Haddad, em São Paulo, e do senador Humberto Costa, na capital pernambucana. Ambos enfrentam indiferença do eleitorado, rejeição de aliados tradicionais e forte resistência no próprio PT.
Alijada da disputa porque Lula está convencido de que não venceria um eventual segundo turno, a ex-prefeita Marta Suplicy, com 30% das intenções de voto, não deu as caras na campanha do ex-ministro Haddad, hoje com 3%. No Recife, o senador Humberto Costa foi indicado contra o atual prefeito, João da Costa, vitorioso numa prévia do partido.
Tanto Haddad como Humberto Costa podem, até a votação em outubro, mostrar um desempenho melhor do que as pesquisas sugerem. A política gosta de pregar peças naqueles que pretendem conhecer seus segredos por antecipação. Qualquer que seja o veredicto do eleitorado, contudo, o comportamento de Lula revela um método lamentável. No Recife, ignorou-se uma prévia porque não se apreciava o vitorioso. Em São Paulo, elas nem sequer foram realizadas, pois temia-se que Marta vencesse. Isso no PT, que, noutros tempos, ensinava que os bons partidos se fazem de baixo para cima.
Por enquanto, os resultados das ações recentes de Lula não parecem promissores. Seus candidatos não decolaram - e a sociedade espera que o julgamento do mensalão puna com rigor os culpados pelo maior escândalo de corrupção da história recente do país.
FONTE: REVISTA ÉPOCA
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