Petrobras está com capacidade para ampliar investimentos comprometida
As empresas estatais, que respondem por dois terços dos investimentos da União, frearam suas despesas com obras e projetos no governo Dilma Rousseff e contribuíram para a queda do crescimento do país, informam Gustavo Patu e Valdo Cruz.
Controladas pelo Tesouro Nacional, essas empresas ainda não retomaram o patamar de participação na economia atingido sob Lula, o que ajuda a explicar a escassez de investimentos necessários para expandir a oferta de bens e serviços.
Investimentos caem com freio nos gastos de estatais
Contribuição de empresas controladas pela União é menor que no governo Lula
Petrobras aponta preço da gasolina, câmbio e exigência de conteúdo nacional como maiores entraves a seus projetos
Gustavo Patu, Valdo Cruz
Empresas controladas pelo Tesouro Nacional, em especial a Petrobras, frearam suas despesas com obras e projetos no governo Dilma Rousseff, o que contribuiu para a queda dos investimentos e do crescimento do país.
Mesmo liberadas da política oficial de controle de gastos, as estatais, que respondem por dois terços dos investimentos da União, ainda não retomaram o patamar de participação na economia que atingiram no fim do mandato do ex-presidente Lula.
De acordo com os dados mais atualizados, essas empresas destinaram, no primeiro quadrimestre deste ano, R$ 26,4 bilhões à ampliação da infraestrutura e da capacidade produtiva nacional, o equivalente a 1,9% do PIB (Produto Interno Bruto).
Nos quatro meses iniciais de 2010, após sucessivas altas anuais, os investimentos das estatais em energia, aeroportos, portos e outros setores somavam 2,2% do PIB.
A diferença ajuda a explicar o agravamento do principal obstáculo apontado atualmente para a recuperação da economia brasileira: a escassez de investimentos necessários para expandir a oferta de bens e serviços.
De dois anos para cá, o investimento total no país caiu de 19,2% para 18,7% da renda nacional. No diagnóstico da equipe econômica, é preciso uma taxa de 25% para sustentar um crescimento do PIB vigoroso e duradouro.
No setor privado, as incertezas do cenário internacional são a principal causa da retração. Nas estatais, há problemas gerenciais, legais e até de política econômica.
A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, já avisou Dilma que a empresa, a maior da América Latina, está com sua capacidade de aumentar investimentos comprometida por vários fatores.
O primeiro motivo é a defasagem no preço dos combustíveis diante do aumento dos custos da estatal. A concessão de reajustes, no entanto, é limitada pela necessidade de conter a inflação.
A escalada das cotações do dólar neste ano agrava o quadro, por que a estatal importa combustível e tem dívidas no exterior. O câmbio desfavorável praticamente anulou os efeitos da queda no valor do barril de petróleo nas últimas semanas.
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Outro empecilho é a dificuldade de fornecedores de cumprir cronogramas de entrega de navios e sondas por conta do elevado conteúdo local exigido.
Hoje, esse conteúdo deve ser de pelo menos 55%. O governo resiste a alterá-lo totalmente, mas deve fazer algumas concessões em produtos específicos para que as empresas nacionais tenham condições de cumprir as entregas acertadas.
A Petrobras espera uma solução para os dois casos até julho. Do contrário, pode ser obrigada a alterar seu plano de investimentos, que prevê aplicações de US$ 224 bilhões de 2011 a 2015.
O novo plano, prevendo investimentos de 2012 a 2016, deve sair nas próximas semanas. Segundo um assessor presidencial, sem reajuste nos preços dos combustíveis, será um plano "pé no chão", mais adequado à realidade de caixa da estatal.
No caso do sistema Eletrobras, o Palácio do Planalto foi informado de que a crise não está afetando seu plano de investimentos. O grupo pretende repetir neste ano o mesmo volume aplicado no ano passado, de R$ 10 bilhões.
Para alavancar projetos, o Ministério de Minas e Energia estuda a desoneração no preço da energia elétrica para reduzir os custos industriais do setor privado.
Impulsionados pelas obras ligadas à Copa de 2014, os investimentos em aeroportos estão em alta. Já os portos amargaram forte perda de recursos de 2010 para cá.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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