A greve de professores e técnicos das universidades federais também afeta a saúde. Ao menos 16 hospitais vinculados a essas universidades suspenderam parte do atendimento, como consultas e cirurgias eletivas, e não fazem novos agendamentos. Consultadas pelo Estado, 42 universidades federais que possuem cursos de medicina estão em greve
Greve das federais afeta atendimento em pelo menos 16 hospitais públicos
Embora o atendimento de urgência e emergência continue sendo realizado pelos hospitais, vários deles cancelaram consultas e cirurgias eletivas
Fernanda Bassette e Ocimara Balmant
A greve de professores e técnicos das universidades federais, que já dura 42 dias, deixou de ser um problema exclusivo da educação e passou a afetar também a saúde. Isso porque ao menos 16 hospitais públicos vinculados a essas universidades suspenderam parte do atendimento.
Embora o atendimento de urgência e emergência continue sendo realizado pelos hospitais, vários deles cancelaram consultas e cirurgias eletivas e decidiram não fazer novos agendamentos por tempo indeterminado.
O Estado ligou para as 42 universidades federais que possuem cursos de medicina e que, teoricamente, têm um hospital universitário vinculado. Todas estão em greve, mas nem todas possuem hospital próprio.
O Hospital de Clínicas vinculado à Universidade Federal do Paraná (UFPR), por exemplo, informou que a greve atingiu diversos serviços, principalmente na área de exames de diagnóstico. Desde segunda-feira, a unidade suspendeu todas as consultas ambulatoriais agendadas – assim, 1,3 mil pacientes deixarão de ser atendidos diariamente.
A medida foi necessária, segundo o hospital, porque a não realização dos exames de diagnóstico impossibilitam o acompanhamento correto do paciente ambulatorial. Ao todo, cerca de 770 exames por dia não estão sendo feitos, entre eles raio-X, tomografia, ultrassom, endoscopia e de análises clínicas.
O Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio Grande (Furg) também está com o atendimento reduzido: só funcionam as UTIs os serviços de urgência e emergência.
Helena Vaghetti, diretora-geral do hospital, diz que o atendimento ambulatorial está sendo feito parcialmente – 40% das consultas foram canceladas e são priorizados os casos graves.
Cirurgias eletivas também estão suspensas – o local fazia ao menos 200 procedimentos cirúrgicos por mês. Os exames dos pacientes internados são feitos por meio de um rodízio dos profissionais, para que o serviço não seja totalmente interrompido.
"As equipes de médicos e enfermeiros estão se revezando para dar conta do atendimento. A gente está negociando com o comando de greve para que eles entendam que o hospital é um serviço essencial que não pode ser interrompido", diz Helena.
Sem atender. A situação no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (UFS) também é preocupante. Segundo Ângela Maria da Silva, diretora-geral, o hospital está funcionando com apenas 30% da capacidade. "A greve nos afetou substancialmente", afirmou.
A unidade realiza cerca de 10 mil consultas por mês. As consultas estão suspensas e só pacientes que recebem medicamento de uso contínuo estão sendo atendidos (casos de epilepsia, aids ou doenças psiquiátricas). Das quatro salas cirúrgicas, apenas uma está funcionando e dos 20 leitos, apenas sete estão ocupados. "Essa greve terá um impacto imenso no atendimento. Até o final do ano estamos com a agenda comprometida. Se a greve entrar no mês de julho, com certeza teremos impacto no ano que vem", afirmou Helena.
O hospital vinculado à Universidade Federal de Alagoas (Ufal) também já enfrenta problemas por conta da greve. Um acordo com os grevistas mantém o atendimento das urgências, mas a marcação de novas consultas e cirurgias eletivas estão suspensas. O problema é que a agenda de cirurgias já está cheia até o final deste ano e a não realização das eletivas provocará um impacto no atendimento em 2013.
No Hospital de Clínicas vinculado à Universidade Federal da Bahia (Ufba) – que atende cerca de 22 mil pessoas por mês em consultas eletivas – a situação é semelhante: desde o início do mês a unidade não está fazendo novos agendamentos de consultas e cirurgias. Por enquanto, os funcionários do hospital estão se revezando para garantir o atendimento do que já estava previamente agendado.
Impacto. Em Campina Grande, na Paraíba, o hospital ligado à universidade cancelou as consultas que seriam realizadas por professores da instituição. "Das oito mil consultas que realizamos ao mês, apenas mil são efetuadas pelos professores em greve, então o impacto não é tão grande", diz a diretora geral do Hospital Universitário Alcides Carneiro, Berenice Ferreira Ramos. Segundo ela, "como a greve e seus motivos estão sendo muito divulgados, a população está entendendo a causa".
No estado vizinho, a pró-reitora de gestão de pessoas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Miriam Dante dos Santos, explica que a paralisação de metade dos 1.200 funcionários dos 4 hospitais vinculados à instituição vai ser sentida pela população a partir da próxima segunda.
"Até agora, negociamos com o comando de greve para que consultas e cirurgias agendadas fossem realizadas. Mas, em julho, isso não mais acontecerá. Num Estado como o nosso, em que a situação da saúde já não é boa, essa greve vai fazer muita diferença na vida das pessoas."
Por lá, só serão mantidos os serviços de urgência: UTI, pronto atendimento das maternidades e cirurgias de alta complexidade.
Em Recife, o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que realiza cerca de 20 mil consultas e 470 cirurgias ao mês, cancelou consultas e cirurgias por conta da greve de professores e funcionários. Estão mantidos apenas os procedimentos de urgência para os pacientes que já estão internados e as consultas de pré-natal de alto risco, oncológicas, asma grave e crianças com alergia alimentar.
Colaborou Luis Carrasco
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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