Para membros do Supremo Tribunal Federal, o relator do processo do mensalão, Joaquim Barbosa, e o revisor, Ricardo Lewandowski, transmitem imagem de desequilíbrio emocional. Seus pares na corte temem prejuízo à credibilidade do resultado do julgamento, que recomeça hoje
Ministros passam imagem de desequilíbrio, dizem colegas
Valdo Cruz, Matheus Leitão
BRASÍLIA - Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) dizem reservadamente que o relator Joaquim Barbosa e o revisor Ricardo Lewandowski estão passando uma imagem de "desequilíbrio emocional" que pode prejudicar a credibilidade do resultado do julgamento do mensalão.
Os ministros ouvidos pela Folha defenderam que o presidente do STF, Carlos Ayres Brito, converse com os dois para evitar a repetição do "clima de duelo" entre eles, que pode consolidar uma visão de que o tribunal está dividido em duas alas: uma pró e outra contra os réus.
"Esse ambiente só beneficia a defesa e pode pesar negativamente na avaliação final que será feita do julgamento", disse reservadamente um ministro, acrescentando que relator e revisor parecem estar desequilibrados emocionalmente.
Outro ministro comentou que, se fosse um júri popular, os bate-bocas protagonizados nas últimas sessões do STF já seriam motivo para um "pedido de dissolução".
Em conversas reservadas, Ayres Britto tem dito que a situação está, aos poucos, se normalizando e que vai atuar para apaziguar os ânimos no Supremo.
O julgamento recomeça hoje, com a previsão de que o revisor Lewandowski apresente seu voto sobre o primeiro item do capítulo 3 da ação penal, que já foi apresentado por Joaquim Barbosa.
Na sessão da última quinta-feira, o relator votou pela condenação do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), do empresário Marcos Valério e de seus dois ex-sócios no caso envolvendo a contratação de agência SMPB pela Câmara dos Deputados.
Depois do revisor, votam os demais nove ministros, por ordem inversa de antiguidade no STF.
Mas havia ainda dúvidas sobre o roteiro a ser seguido.Ontem à noite Ayres Britto conversaria com o relator. Havia a possibilidade de Barbosa optar por encerrar a análise de todo o capítulo 3, que tem mais dois itens sobre contratos de agências de Valério e o Banco do Brasil.
Agressão
A animosidade entre relator e revisor atingiu o ápice momentos antes do início da sessão de quinta, no cafezinho do Supremo.
Barbosa e Lewandowski discutiram por causa da decisão do relator de fatiar seu voto, ou seja, votar em blocos, e não de uma vez só. O revisor chegou a ameaçar renunciar ao cargo.
O tom da conversa foi tão agressivo que, segundo quem presenciou a cena, eles quase se agrediram fisicamente.
O embate se manteve no início da sessão, quando o revisor manifestou publicamente sua discordância.
Barbosa chegou a dizer que, se não seguisse aquele formato, havia o risco de o julgamento terminar sem sua presença -por conta de seus problemas na coluna, que tornariam difícil ele apresentar seu voto na totalidade.
Ao final da sessão, Lewandowski foi convencido pelos colegas a aceitar o formato.
Segundo os advogados da defesa, o relator é um voto certo pela condenação da maior parte dos réus e estaria querendo "ganhar no grito" as principais questões formais do julgamento.
Já o revisor tem assumido posição de "contraponto" a Barbosa. Um interlocutor de Lewandowski disse, porém, que ele vai "surpreender".
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
Um comentário:
Cenas como essa reforçam a tese de que o STF é um tribunal político, quando seus " contendores " trocam farpas de uma maneira muito parecida com a que acontece no ambiente político, câmara dos deputados, senado, câmaras municipais, etc.
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