quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Ameaça de racionamento - Celso Ming

Talvez seja ainda cedo para iniciar um programa de racionamento de energia elétrica, mas não para planejar e colocar em prática medidas preventivas.

Em plena temporada de chuvas na maior parte do País, o nível dos reservatórios está baixo demais - especialmente no subsistema Sudeste/Centro-Oeste, que já beira o nível de emergência.

Nada menos do que 75% da matriz energética brasileira é de fonte hídrica. Se, de um lado, isso garante insumo a baixo custo (água que cai do céu), de outro, deixa todo o sistema vulnerável a estiagens ou a chuvas insuficientes.

Primeiras análises alertam para a elevação inevitável dos custos de produção suplementar de energia, se for preciso acionar usinas termoelétricas, quase todas dependentes da queima de derivados de petróleo ou de gás natural.

Por isso, os preços no mercado livre, onde é negociada a energia excedente, dispararam mais de 4 mil por cento em 12 meses (veja o Confira). Mas a questão mais importante não é de aumento de custo; é de garantia de suprimento.

O nível dos reservatórios do subsistema Sudeste/Centro-Oeste já é inferior ao nível médio que colocou em marcha cinco meses depois o racionamento de 2001. Só não dá para dizer que o racionamento será inevitável porque pode chover o suficiente para recompor os reservatórios.

As autoridades da área negam a iminência da medida. Mas essa não é uma decisão que depende só da vontade de quem estiver no comando. Se as chuvas vierem muito fracas, não haverá outra saída.

E, se um regime qualquer de racionamento ou alguma forma de melhor aproveitamento de energia se confirmar, a pergunta certa a fazer não é quanto o crescimento econômico será prejudicado em 2013, mas, sim, que crescimento econômico e que nível de consumo agregado o Brasil deverá ter para enfrentar um período de escassez de energia.

Um avanço econômico mais baixo do que o esperado implicaria, por sua vez, arrecadação também reduzida e, com ela, a necessidade de ajuste mais estreito das contas públicas nos três níveis de governo - federal, estadual e municipal.

Se jogava na retranca, diante de novas incertezas o empresário brasileiro tenderá a reforçar suas defesas. Motivado por novas razões, poderá manter na gaveta investimentos que já vinham sendo adiados. Seria inevitável, ainda, certa desaceleração na criação de postos de trabalho e algum impacto sobre o nível de desemprego, hoje dos mais baixos da história.

Difícil saber quais os desdobramentos políticos do problema. O racionamento de 2001 saiu caro para o então presidente Fernando Henrique e facilitou a condução de Lula ao governo. Em todo o caso, racionar energia tem custo político substancialmente mais baixo do que graves quebras no fornecimento.

Comida estragando na geladeira; a velhinha obrigada a subir degrau por degrau os 12 andares de seu prédio ou a não sair de casa, por falta de elevador; trânsito transformado em caos, por apagamento de semáforos ou circulação irregular do metrô; redução da segurança nas ruas por deficiência de iluminação pública... Esses fatores podem ter alto custo político, dependendo de como forem trabalhados pelo governo ou pela oposição.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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