- O Estado de S. Paulo
A revelação mais importante da senadora Marta Suplicy, em sua entrevista ao Estado, é que o ex-presidente Lula queria, sim, e autorizou, sim, o movimento "Volta, Lula" para disputar a Presidência da República no lugar da pupila Dilma Rousseff.
Até por isso, Marta se reuniu com ele "uma, duas, três, quatro vezes". Não foi para falar de flores. Nem foi para falar bem de Dilma. Muito menos para avalizar o "fracasso" (nas palavras da senadora) da política econômica.
Por delicadeza, ou lealdade, Marta insistiu várias vezes que Lula nunca disse, cabalmente, que seria, ou ao menos que queria, puxar o tapete de Dilma e virar candidato. Mas, para bom entendedor, meia palavra basta. Cá para nós, a fala de Marta foi muito mais do que apenas meia palavra.
O Planalto e Dilma calam. O PT e Lula calam. Mas não há viv'alma afirmando que Marta mentiu e/ou que Lula jamais, em nenhum momento, ficou assanhado com a possibilidade de subir a rampa de novo, nos braços do povo.
O que ocorreu foi mais ou menos uma repetição daquele vai-não-vai sobre mudar a Constituição para permitir o terceiro mandato consecutivo, num movimento que rapidamente - e com excelentes razões - foi chamado de golpismo a la Hugo Chávez.
Lula se encantou agora com a ideia de voltar já em 2014, como ficou inebriado naquela época com a ideia de ir ficando, ficando... Mas o senso de oportunidade, as vozes mais sensatas e sua incrível inteligência política acabaram desaconselhando.
Na alma de Lula, nessas duas ocasiões, passou-se algo assim: "Se colar, colou". Não colou antes, para a re-reeleição. Não colou agora, para o drible em Dilma. E pode não funcionar, de novo, e definitivamente, em 2018.
De qualquer jeito, a fala de Marta expõe ao digníssimo público leitor e eleitor o que dez entre dez petistas, peemedebistas e outros menos cotados sabem: Lula perdeu e Dilma sabe que ele teve a coceira da traição. O trauma fica.
Os dilmistas venceram, ocuparam o Planalto e deixaram os lulistas chupando o dedo. Estes, porém, não estão sozinhos. Quem ficou sozinha, um tanto ilhada na própria casa, ou no próprio palácio, foi Dilma Rousseff, que tem agora - para gritar, dar bronca, ouvir, discutir, saudavelmente polemizar e, enfim, tirar conclusões - um grupo exclusivo do PT. Ou melhor, de meio PT. O mais do mesmo, sem contraponto.
Num segundo mandato que começa conturbado na economia e na política, Dilma deveria ter aberto o leque para arejar o debate interno. Ela fez o contrário. Fechou-o. Deu uma tarefa para Joaquim Levy, Nelson Barbosa e Alexandre Tombini, virou as costas e se trancou com seu "núcleo duro", todo ele petista dilmista.
Mexer nos impostos? Que gastos cortar? Aumento de conta de luz? Evitar Eduardo Cunha na presidência da Câmara? Ir a Davos ou a La Paz? A palavra final da presidente em todos esses temas essenciais será dada depois de reunir-se com Mercadante, Miguel Rossetto, José Eduardo Cardozo. Vá lá, com Ricardo Berzoini e Jaques Wagner. Haja diversidade! Viva a controvérsia!
Do lado de fora, ruminando sua ração rala (Portos, Avião Civil, Pesca...), ficaram não só os lulistas ressentidos, mas as feras do PMDB, que, depois das decisões, vão ter de enfrentar os touros - e a oposição - a unha.
Repetindo aqui uma das muitas frases de Marta que ainda vai dar muito o que falar, "Lula está totalmente fora". Pois é... Lula, os lulistas, o PMDB, enquanto a equipe econômica nem está dentro nem está fora.
Digamos que esteja na antessala, em fase de teste.
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