- Folha de S. Paulo
O ministro Joaquim Levy ainda esconde o jogo, mas começou a dar pistas do que pretende fazer para injetar dinheiro nas contas públicas. A receita envolve corte de benefícios e subsídios, reajuste de tarifas e aumento de impostos. São as chamadas medidas impopulares, que Dilma Rousseff acusava a oposição de tramar na campanha.
"A gente vai ter que tomar algumas medidas, isso tá bastante claro", avisou ontem o ministro, em café da manhã com jornalistas. A questão agora é saber de onde virão as reações, e se Levy terá disposição e respaldo político para enfrentá-las.
Uma das primeiras medidas, indicou o novo titular da Fazenda, será cobrar mais imposto de renda de prestadores de serviços que recebem como pessoa jurídica. Por um lado, a ideia ataca uma distorção que precariza muitas relações de trabalho. Por outro, promete afetar uma legião de profissionais liberais que já penam todo mês diante de um contador.
Indústrias inteiras, como a do cinema, serão atingidas em cheio. Por mais que a turma esteja em festa com a volta de Juca Ferreira ao governo, é difícil acreditar que aguentará calada com a mordida do Leão.
No front interno, Levy também está fazendo inimigos com o corte de R$ 22,7 bilhões nas despesas dos ministérios, sendo R$ 7 bilhões no MEC. A "pátria educadora" começou a semana com o Museu Nacional, no Rio, fechado por falta de verba para limpeza e segurança. A grita aumentará quando a tesoura afetar o funcionamento das universidades federais.
"A gente não tem nenhum objetivo de fazer saco de maldade", disse ontem o ministro da Fazenda. Seus planos, no entanto, sugerem o oposto.
No início do governo Lula, o petista Antonio Palocci aceitou fazer o papel de vilão para reequilibrar as contas públicas. Sofreu com o fogo amigo, mas foi amparado pelo chefe. Levy, um economista sem ambições eleitorais, parece disposto a enfrentar o tranco. Resta saber se Dilma assumirá o desgaste para preservá-lo.
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