- Folha de S. Paulo
Desastre museológico é também um alerta em relação ao que está por vir
O incêndio do Museu Nacional, no Rio, que destruiu parte importante de seu acervo, é uma tragédia para a ciência e o patrimônio cultural do país. Ao que tudo indica, as péssimas condições de conservação do prédio e a falta de equipamentos antifogo foram determinantes para aumentar a escala dos estragos.
O desastre museológico é também um alerta em relação ao que está por vir. A situação fiscal da União, estados e municípios é tão ruim que é quase uma fatalidade que se descuide da manutenção de incontáveis bens públicos. Podemos esperar, nos próximos anos, problemas variados não só em museus e outros edifícios como também em estradas, pontes, redes elétricas, barragens etc. Precisaremos de sorte para que não ocorram novas tragédias. E é sempre ruim depender da sorte em vez de contar com a previdência.
Outro ponto que me preocupa é ver, em momentos como esse, vários cientistas imprecando contra o teto de gastos e responsabilizando apenas o governo Temer pelo ocorrido. Especialmente cientistas não deveriam confundir causas com efeitos. Não é a emenda do teto que faz com que falte dinheiro para museus, bolsas, pesquisas etc. O teto nada mais é do que o reconhecimento, por parte do governo, de que o dinheiro acabou —e essa é a nova realidade com a qual gestores terão de lidar.
Os problemas prediais e as falhas de segurança no Museu Nacional não são um fenômeno do último par de anos. Eles remontam a pelo menos uma década, o que equivale a dizer que não foram corrigidos nem quando o governo federal inaugurava uma universidade atrás da outra e gastava bilhões num programa que levava estudantes dos primeiros anos da graduação para passear no exterior.
O problema, no fundo, está inscrito na natureza do universo. É que existem muito mais maneiras de destruir alguma coisa do que de criá-la ou de mantê-la. Se você gosta de ciência, vote contra a entropia em 7 de outubro.
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