Rafael Moro Martins, Andrea Jubé, Luísa Martins, Isadora Peron e Marcelo Ribeiro | Valor Econômico
CURITIBA E BRASÍLIA - A decisão do ex-presidente Lula de prolongar a estratégia em torno de sua candidatura presidencial contrariou uma ala expressiva do PT, que considera urgente oficializar o vice, Fernando Haddad, na cabeça de chapa. A avaliação desse grupo, que inclui os governadores da sigla, é de que o adiamento deixa o PT sem candidato e coloca em xeque a transferência de votos de Lula. A ala do partido que defende manter o nome do ex-presidente "até o fim" é liderada pela presidente da sigla, Gleisi Hoffmann.
Ontem, após reunião com Lula em Curitiba, Haddad anunciou que o PT entrará com recurso contra o veto à candidatura do ex-presidente no STF e no Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). Ele ainda pode ser alçado à cabeça de chapa até o dia 11, prazo fixado pelo TSE, mas cresce a angústia interna no partido e o receio de debandada dos eleitores.
Lula resiste a sair e contraria petistas
A decisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de prolongar a estratégia em torno de sua candidatura presidencial, em confronto aberto com a Justiça Eleitoral, contrariou uma ala expressiva do PT que considera urgente oficializar o vice Fernando Haddad na cabeça de chapa. A avaliação do grupo, que inclui os governadores da sigla, é de que o adiamento deixa o PT sem candidato, e coloca em xeque a transferência de votos.
Ontem, após a reunião com Lula em Curitiba, Haddad anunciou os recursos do PT contra o veto à candidatura de Lula ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). Ele ainda pode ser alçado à cabeça de chapa até o dia 11, prazo fixado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas até lá, cresce a angústia interna e o receio de debandada dos eleitores.
No fim de semana, Lula pediu aos petistas mais próximos que lhe escrevessem cartas com conselhos sobre os próximos passos a tomar. Muitos lhe sugeriram apressar a ascensão de Haddad à cabeça de chapa, e acreditaram que influenciaram Lula - o que não se confirmou.
O PT está dividido e uma ala do partido - que tem como expoente a presidente da sigla, Gleisi Hoffmann - defende a resistência em torno da candidatura de Lula "até o fim". Um integrante da coordenação da campanha, que compartilha desse raciocínio, argumenta: "Estamos preocupados com a eleição, mas também em fazer história." Outro quadro histórico da legenda ressalta que o "patrimônio eleitoral" é de Lula, que pode fazer o que bem entender com os seus votos.
Em contrapartida, a ala pragmática da Executiva petista está determinada a não cometer "suicídio eleitoral". Diante da decisão de interpor recursos à ONU e ao Supremo, este grupo pressiona para que Haddad seja apresentado como candidato até o dia 11 de setembro, independentemente do julgamento dos recursos.
Ao Valor, o governador do Piauí, Wellington Dias, ressaltou que os cinco governadores do PT apoiam a decisão de Lula de recorrer ao STF e à ONU, sobretudo diante do voto divergente do ministro Edson Fachin, que defendeu o cumprimento da liminar do Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas, que declarou o direito do líder petista de ser candidato. Mas Dias ressalva que se o julgamento dos recursos demorar, é preciso antecipar a substituição de Lula por Haddad, porque o PT não pode ficar sem candidato.
Um integrante da cúpula da campanha diz que o maior temor é com a migração dos votos, em especial para o candidato do PDT, Ciro Gomes. O PT acredita que Ciro é o candidato cujo discurso tem mais afinidade com o programa de governo de Lula e com a postura política do partido, já que sempre fez oposição ao governo Michel Temer e foi contra o impeachment de Dilma Rousseff.
Os petistas sabem que a notícia de que a Justiça Eleitoral barrou a candidatura de Lula já foi assimilada pela maior parte da população, que está confusa quanto à substituição do candidato.
Embora o PT conteste os números da pesquisa do banco BTG Pactual feita pela FSB Pesquisa, divulgada ontem, há a percepção de que a sondagem captou o movimento de migração dos eleitores. Sem Lula, é justamente Ciro quem vai para o segundo turno com o candidato do PSL, Jair Bolsonaro. Na espontânea, Lula já empata com Bolsonaro, ambos com 21%. Há uma semana, Lula tinha 26% e Bolsonaro, 19%. A pesquisa, telefônica, foi registrada no TSE sob o protocolo BR 01057/2018, com 2 mil entrevistas por telefone, de 1 a 2 de setembro e margem de erro de 2 pontos percentuais.
Haddad disse ontem em Curitiba que todas as possibilidades jurídicas foram apresentadas a Lula, diante do veredito do TSE. O ex-presidente optou, primeiro, por peticionar à ONU. Em segundo lugar, o apelo ao STF.
Serão duas petições, dois recursos [extraordinários] com pedido de liminar tanto na esfera eleitoral quando na esfera criminal, para que ele tenha o direito de registrar sua candidatura no prazo que foi dado pelo TSE, de dez dias.
Haddad reuniu-se com Lula durante boa parte do dia. Esteve com o ex-presidente pela manhã, das 9h30 às 12h30, e voltou às 14h30 para mais duas horas de conversa. Por causa disso, cancelou compromissos de campanha que teria em Porto Alegre.
Acompanharam Haddad os advogados Cristiano Zanin, Valeska Zanin, Eugênio Aragão e Luiz Eduardo Greenhalgh. Impedida de ver Lula como advogada, Gleisi não entrou na cela, esperou do lado de fora na superintendência da Polícia Federal. Haddad não adiantou os planos do PT caso a decisão do TSE seja confirmada. "Estamos trabalhando a cada etapa, com os fatos novos. Não imaginávamos que o Brasil contrariaria uma determinação de organismo internacional e um tratado que nós subscrevemos", esquivou-se.
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