- Folha de S. Paulo
Burocratas tentam mitigar alcance de decisões tresloucadas anunciadas pelo presidente
Em apenas quatro dias de governo, o presidente Jair Bolsonaro recuou ou foi desautorizado por sua equipe ao ritmo de quase um desmentido por dia. O caso mais recente foi revelado por esta Folha e é uma história em quatro atos, como o jornal publicou no Twitter:
Primeiro ato: o presidente avalia elevar a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras para crédito pessoal para compensar a prorrogação de benefícios fiscais às regiões Norte e Nordeste;
Segundo ato: ele anuncia o aumento da alíquota do IOF. “Infelizmente, foi assinado decreto nesse sentido para quem tem aplicações fora. É para poder cumprir uma exigência de um projeto aprovado, tido como pauta-bomba, contra nossa vontade”;
Terceiro ato: Marcos Cintra, secretário especial da Receita, o desmente. “Não, não. Deve ter sido alguma confusão. Ele não assinou nada.”
Quarto ato: Onyx Lorenzoni, ministro da Casa Civil, põe panos quentes. “Ele se equivocou, ele assinou a continuidade do projeto Sudam e Sudene.”
Antes, como antecipou a coluna Painel, o presidente anunciou em entrevista ao SBT pontos de sua reforma da Previdência diferentes dos estudos sendo feitos pelo Ministério da Economia, que ficou alarmado.
Desde que Donald Trump foi eleito nos EUA, ganhou fama a expressão “deep state” (estado profundo). É a ação de burocratas, geralmente quadros técnicos, que tentam mitigar o alcance de decisões tresloucadas anunciadas pelo presidente, deixando-as de lado até serem esquecidas ou não as executando.
Muitas vezes, ela foi mais efetiva que o sistema de freios e contrapesos da democracia norte-americana. Foi assim quando o republicano revelou que retiraria os 28.500 soldados da Coreia do Sul, o que causaria um desequilíbrio de forças importante na península, fortalecendo a ditadura do Norte. Nada foi feito.
Trump é inspiração confessa de Bolsonaro. Que o “deep state” inspire o entorno bolsonarista.
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