- Folha de S. Paulo
Não poupei nem Lula nem Dilma quando eles estavam no comando
Toda vez que faço críticas a Jair Bolsonaro ou ao governo —o que ocorre com uma frequência maior do que gostaria—, leitores cobram-me um posicionamento em relação ao PT. "No tempo do Lula é que era melhor, não é mesmo, seu esquerdopata?" e outras frases do gênero, muitas vezes adornadas por adjetivos que prefiro não reproduzir aqui, tomam conta de minha caixa de mensagens.
O que tenho a dizer a essa gente é que a fila anda. Não poupei nem Lula nem Dilma de duras críticas quando era o PT que estava tomando conta da lojinha. Estou longe de ser uma figura querida no QG do partido. Mas, desde 1º de janeiro, é Bolsonaro que está no comando. Ainda que não possamos considerar o atual presidente culpado pelo descalabro econômico que vivemos, é dele que devemos cobrar soluções, assim como exigir que os projetos do governo para outras áreas estejam ao menos baseados em fatos.
Minha sensação é que bolsonaristas reproduzem os mecanismos de defesa de que petistas abusaram no passado, atribuindo tudo o que não funcionava bem na gestão, incluindo seus próprios erros, a uma suposta "herança maldita" de Fernando Henrique Cardoso. Admito que, no caso dos bolsonaristas, a queixa contra o antecessor faz mais sentido do que no caso dos petistas, mas, mesmo assim, o foco de qualquer administração deve estar em encontrar soluções e não em buscar culpados. Vale lembrar que Bolsonaro só chegou ao poder porque a gestão Dilma foi um desastre.
A imprensa, nunca é demais repeti-lo, tem na crítica a governantes sua razão de existir. Não é que nunca possa elogiar, mas ela cumpre seu papel institucional quando revela o que autoridades gostariam de esconder, aponta incongruências nos projetos oficiais e indica alternativas. Obviamente, essa disposição até meio niilista para desconstruir precisa aplicar-se a todas as administrações, independentemente de sua coloração ideológica.
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