- Folha de S. Paulo
País está sem diagnóstico e plano para conter o vírus da depressão econômica
A subnotificação de casos e mortes por Covid-19 se tornou assunto corriqueiro no Brasil, assim como a escassez de testes e a falta de planos racionais do relaxar o distanciamento social. Fala-se menos ou quase nada da subnotificação da ruína econômica, da falta de diagnósticos sobre o desastre nas empresas e nos empregos, assim como um plano de contenção da crise e de reativação do país.
No momento, tudo se passa como se o governo federal, em particular, tivesse feito o que pode (ou o que quer) quanto as medidas para atenuar a catástrofe. Quanto ao futuro, por ora o que se sabe de planos é “business as usual”. Espera-se para ver o que vai dar. Quem sobreviver verá. Empresas morrem, é assim o mercado, diz o ministro Paulo Guedes (Economia).
Isto é, prevê-se apenas a retomada das “reformas”, manutenção das regras fiscais e contenção de despesas logo em 2021.
A melhoria da regulação do investimento e um bom plano de concessões atrairiam dinheiro privado para grandes projetos de infraestrutura. Apesar das promessas desde 2017, tal coisa não ocorreu: nem regulação significativamente melhor, nem projetos bastantes, nem carradas de investimento privado, em infraestrutura ou em qualquer outra parte.
No entanto, é fácil perceber que a economia estará em situação muitíssimo pior do que nos anos de quase estagnação de 2017 a 2019 (e como seria este 2020, sem epidemia), de crescimento em torno de 1% ao ano.
Por que desta vez, em 2021 ou depois, seria diferente? De resto, por que as “reformas”, micro ou macro, dependam de leis ou de meras decisões e capacidades executivas, ora invisíveis, andariam mais rápido agora, em ambiente de degradação política ainda maior?
Setores inteiros da economia, ou o que restar deles, não voltarão a funcionar como dantes tão cedo (um ano?). A queda brutal dos rendimentos do trabalho, associada à precaução no mundo pós-distanciamento social, vai conter o consumo; a destruição de poupanças financeiras das famílias terá o mesmo efeito.
A procura de crédito para consumo já despencou nos bancos. Não é razoável acreditar que aumente tão cedo ou que existam tomadores de empréstimo com risco baixo em número bastante no futuro próximo, com o que os bancos também serão cautelosos.
A capacidade ociosa de produção vai aumentar ainda mais. Assim, o investimento privado, já reticente até o início deste 2020, vai continuar na retranca por ainda mais tempo.
Com a massa de rendimentos do trabalho em baixa, desemprego literalmente imenso (nem temos medidas), ociosidade que dispensa investimento, grande destruição de empresas e uma improvável onda de investimento privado em infraestrutura, como o Brasil vai sair do chão? Puxando os cabelos?
De onde virá o aumento da demanda, o aumento da despesa de consumo e investimento? Alguém acredita de fato que a dívida federal vai ser contida com redução de despesas nos próximos anos, redução que já era mínima até antes da epidemia? Ninguém vai pagar mais impostos? Quem? Como?
Alguém acredita que, com tais meras medidas de ajuste fiscal, sempre limitadas, será possível acelerar a saída da depressão? Alguém acredita que será possível evitar medidas de “achatamento da curva de juros longos” e juro zero a curto prazo (sem o que a dívida pública irá para as cucuias)?
Enfim, onde está o diagnóstico deste desastre e um plano de saída? Sabemos disso tanto quanto sabemos do número de casos de Covid-19. Provavelmente, muito menos. Estamos na escuridão, da política à economia.
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