No
prontuário de Bolsonaro, não pesam só vidas humanas, mas todos os componentes
da riqueza do Brasil
Bolsonaro
fez parte de um seleto grupo de estadistas que negaram a pandemia. Em seguida,
foi o único no mundo, ressalta o jornal “Le Figaro”, que se colocou
negativamente diante da vacinação.
Ele
foi escolhido como o pior corrupto do ano, pelo Organized Crime and Corruption
Reporting Project. Coisa de comunistas? Os escolhidos anteriormente foram
Putin, Maduro e Duterte.
Bolsonaro
chegou ao fim de 2020 com 24 pedidos de impeachment acumulados na gaveta.
Alguns comentaristas acham que ele zombou da tortura em Dilma Rousseff para
desviar a atenção de seu fracasso diante da pandemia.
Mas
é uma tática estúpida. Não se disfarça a morte com cheiro de morte, muito menos
se esconde a desumanidade contra muitos, concentrando-a numa só pessoa.
O
conjunto de declarações de Bolsonaro está registrado. Uma pandemia com quase
200 mil mortos não desaparece na história como um relâmpago no céu.
Ele
contribuiu para que uma parte do povo brasileiro desafiasse o perigo da
pandemia e colocasse em risco a própria vida e a dos outros.
Bolsonaro
ignorou os apelos para que o Estado protegesse as populações indígenas. Por
duas vezes, o STF devolveu ao governo a lição de casa que não consegue
realizar: um plano eficaz para protegê-las.
No
governo, Bolsonaro aumentou a destruição da Amazônia, queimou um terço do
Pantanal, e o Cerrado perdeu 13 % de sua vegetação. No seu prontuário, não
pesam apenas vidas humanas, mas espécies animais, plantas, enfim, todos os
componentes da riqueza do Brasil.
Sua política arruína as chances de nos apresentarmos como uma potência ambiental, atraindo energias, capitais, poderosos governos, todos ansiosos por trabalhar conosco numa nova etapa da luta mundial pela sobrevivência das novas gerações.
Numa
das suas últimas lives, Bolsonaro afirmou que não seria retirado da Presidência
sem um motivo justo. Ninguém faria isso. Mas a situação muda de figura quando
se consideram 200 mil mortes diante de um governo negacionista. Se isso não for
um motivo justo para milhares de famílias que perderam seus entes queridos, o
que será?
O
auxílio emergencial aprovado pelo Congresso atenuou o impacto da posição
inicial na imagem de Bolsonaro. A má vontade com a vacina atualizou sua culpa.
O
general Pazuello tem responsabilidade, mas obedece a Bolsonaro. Só é
formalmente um Sancho Pança.
Sancho
seguia Dom Quixote, um símbolo permanente da humanidade. Assim mesmo, era capaz
de alertar: olha mestre, olha o que senhor está falando.
Juntos,
capitão e general arrastaram as Forças Armadas para uma política que nega sua
proximidade com a ciência, lança dúvida sobre sua capacidade e chega a nos
fazer duvidar dos critérios que levam alguém ao generalato.
A
aventura da hidroxicloroquina, justificada pelo Exército como um conforto à
população assustada, é um argumento religioso. Remédios são feitos para curar.
A
pandemia revelou o abismo da desigualdade social. Entramos em 2021 sem resposta
para milhares de pessoas necessitadas. Não só estamos longe de um contrato
social, mas sendo cada vez mais empurrados para a barbárie.
Bolsonaro
é a barbárie de que o capitalismo escapou no século passado, com a ajuda da
social-democracia e de políticas sociais. E de que a globalização procura
escapar, no século XXI, com as diretivas de governança sustentável e
socialmente responsável.
No
seu governo, vigora a tese de que o homem é o lobo do homem, de que os fortes
sobrevivem de armas na mão. Não há chances de construir um país com essas
ideias. A esperança em 2021 passa por nos livrarmos desse pesadelo, em
condições ainda difíceis de movimento e contato físico.
Quando
os valores humanos são negados tão radicalmente por um líder e seus fiéis que
riem da tortura, é fácil compreender que a luta não é apenas por um país, mas
pela sobrevivência da espécie.
No Brasil, a humanidade está em jogo. Muitos já compreendem, mesmo vivendo fora daqui, o potencial destrutivo dessa ameaça.
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