O Estado de S. Paulo
Ninguém mais teme as ameaças de convulsão caso Bolsonaro não seja obedecido
A nova explosão de agressividade de Jair
Bolsonaro e sua militância é sinal de que não está dando certo o projeto de
continuidade no poder a qualquer custo. Estão em perigo duas certezas que
fundamentam a campanha eleitoral intensiva a que o presidente submete o País.
Primeiro, o voto impresso. Perdeu apoio e sentido a fantasiosa desconfiança na
urna eletrônica. Segundo, esfacela-se o mito de governo incorruptível, marca
que ele próprio se atribui, contra todas as evidências.
Ninguém mais teme as ameaças de convulsão
social caso Bolsonaro não seja obedecido. Uma intenção de golpe desmoralizada,
tanto pelo Congresso, que não deve votar a lei, quanto pela Justiça Eleitoral,
que a aplicaria a contragosto. Oficialmente, 11 partidos se manifestaram contra
tal retrocesso. Bolsonaro terá que inventar outra maneira de deflagrar uma
crise institucional caso seja derrotado nas urnas. O projeto de uma infinita
recontagem de votos, com a indefinição eterna dos resultados, terá de esperar
por novo pretexto. O modelo Trump não colou nos Estados Unidos e dificilmente
dará certo no Brasil, embora a democracia, aqui, seja mais frágil.
Já o discurso de ausência de corrupção no governo choca-se frontalmente com a realidade, agora demonstrada tanto na CPI da Covid, como no Supremo Tribunal Federal e no Tribunal de Contas da União. O caso da vacina indiana Covaxin é exemplar de um dos métodos que o governo usa para sustentar sua propaganda enganosa: se descoberta uma armação, logo é desfeita antes que o crime se consuma. Depois da denúncia, age-se como se não tivesse sido urdida.