O Globo
O mundo mudou, e Lula não mudou com ele na prática, embora na retórica pareça ter mudado
O sucesso que o presidente Lula faz no
exterior justifica suas viagens internacionais, polindo a própria imagem e a do
país, que passou quatro anos sendo enxovalhada pelas atitudes radicais e
retrógradas do seu antecessor. Mas não tem consequências para as crises de seu
governo, onde se vê a cada dia mais impotentes diante do avanço da oposição.
Agora mesmo, na reunião da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em Genebra, Lula foi aplaudido de pé ao defender a democracia, e emitiu conceitos estimulantes a seus correligionários de esquerda no mundo, como a direta afirmação contra Elon Musk, ao afirmar que não precisamos buscar em Marte a solução de nossos problemas, é a Terra que precisa de cuidados.
Outras críticas a Musk, que assumiu
recentemente um apoio ao bolsonarismo e atacou o Supremo Tribunal Federal
(STF), foram infantis ou/e equivocadas, como estranhar que quem nunca plantou
“um pé de alface” no Brasil pudesse criticar os ministros do Supremo. O fato é
que a platéia internacional continua sendo a melhor audiência para Lula, como
sempre foi antes de estourar o escândalo do mensalão.
O ex-presidente dos Estados Unidos Barak
Obama foi o primeiro a destacá-lo, chamando-o de “o cara” e dizendo que Lula
era “o político mais popular do mundo”. O mensalão não apenas tirou de Lula o
Prêmio Nobel da Paz, como o colocou no ostracismo internacional, com exceção de
núcleos esquerdistas. Seu retorno à presidência, depois de ter sido liberado
pelo Supremo, deu-lhe condições de retornar ao palco internacional, e ele tem
recuperado o tempo perdido, cometendo os mesmos erros de supervalorização de sua
persona, tentando um lugar de destaque no mundo multipolar de mediador das
crises internacionais, que não corresponde à sua atuação internamente.
Lula já não consegue nem mesmo liderar nossa
região em que o Brasil sempre foi destaque inconteste. O mundo mudou, e Lula
não mudou com ele na prática, embora na retórica pareça ter mudado. Agora
mesmo, ao citar a crise climática e a necessidade de resolver os problemas de
nosso planeta, Lula não teve um só exemplo do que o Brasil está fazendo para
ajudar nessa equação. Se no plano interno tivesse colocado em prática as
promessas de campanha, a esta altura já poderíamos ter ações para dar exemplo,
e exigir dos países ricos uma ação mais consequente.
Estamos, no entanto, nos debatendo sobre
exploração de petróleo em áreas de proteção ambiental, sem um programa sério de
combustíveis alternativos como o etanol, do qual fomos pioneiros, e abandonamos
prematuramente como política de Estado para ganhar dinheiro com açúcar. Há
projetos de retomada, mas nada que aponte para um programa estável a longo
prazo.
O petróleo continua sendo prioridade na
política energética brasileira, e a intervenção do governo no comando da
Petrobras mostra como nosso projeto de futuro se baseia no passado de políticas
populistas de controle de preço e intervenções estatais. Mas a imagem de Lula
no exterior continua congelada no seu passado político. Ele mesmo faz questão
de alimentar esse mito, pois, como fez agora no mesmo discurso da OIT, para
defender a democracia, frisa que somente nesse regime um operário poderia
chegar à presidência da República.
O que se aplaude nesses encontros
internacionais são as teorias de Lula, não sua ação na atualidade. No exterior,
essa postura de líder do mundo em desenvolvimento tem sua validade, ainda mais
quando Lula defende pontos importantes, como acabar com a desigualdade. Mas, se
o governo Lula não consegue levar adiante uma negociação no seu próprio país,
como vai liderar uma ação global nesse sentido?
Um comentário:
Elogia e deslogia Lula ao mesmo tempo,rs.
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